
Um grupo de cientistas e estudantes da Universidade de São Paulo (USB), Universidade de Brasília (UnB) e outras instituições estimou que no dia 11 de abril, o número de casos confirmados de coronavírus no Brasil chegava a 313 mil pessoas, número mais de 15 vezes maior que o oficial naquela data, de 20.727.
O grupo leva em conta o cenário subnotificação; uma vez que o Brasil, apesar de ser o 14º país mais afetado do mundo, é um dos que menos testam.
Se esse número projetado fosse considerado, de 14º, o país ocuparia a 2º posição, atrás somente dos Estados Unidos, que testam 8.866 pessoas por milhão. No Brasil, são 296 testes por milhão de habitantes.
Subnotificações
Para chegar aos 313.288 infectados, o grupo do portal Covid-19 Brasil precisou fazer uma modelagem reversa: eles utilizaram o número de mortes notificadas – embora estas também estejam subnotificadas.
Para o cientista Rodrigo Gaete, apesar da imprecisão, os óbitos ainda são o indicador mais consolidado no país.
Para enfim determinar a projeção de casos confirmados foi aplicada a taxa de letalidade da Coreia do Sul, um dos poucos países com dados consolidados sobre testagem em massa. Depois, os pesquisadores ajustaram os números à pirâmide etária do Brasil e a um ajuste no cálculo da letalidade proposto por cientistas chineses considerado como o mais acurado pela revista Lancet.
No fim, a taxa de mortalidade real para o Brasil seria de 1,08%, muito menor que a de 5,7% registrada oficialmente.
“O número de mortos ainda assim é enorme, e deve ser ainda maior, porque o número real de infectados é muito grande”, afirma Gaete.
Considerando o número de 1.124 óbitos em 11 de abril e o valor ajustado estimado de população infectada, segundo matéria do O GLOBO, no dia 1° de abril, haveria então 104.368 brasileiros com coronavírus, em vez dos 6.836 casos notificados. Isso, de acordo com o jornal, dá um percentual de 93,45% de subnotificação.
Hospitalizações
Além do número estimado de infectados, a equipe de pesquisadores projetou as estimativas de ocupação de leitos de emergência e Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
A primeira projeção detalhada e concluída mediu três cenários para o Distrito Federal. Em todos, a situação é dramática.
“O modelo que trabalhamos considera que para os três cenários todos os leitos estão disponíveis no começo da epidemia. Mas, como segundo o próprio Ministério da Saúde informa, estamos em média com uma taxa de ocupação de 75%, e essas previsões podem ser mais dramáticas”, observa o especialista em modelagem computacional Domingos Alves, integrante do grupo e líder do Laboratório de Inteligência em Saúde (LIS) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo (USP).
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Em São Paulo, apesar de não haver dados conclusivos, a estimativa é que o colapso na saúde aconteça ainda mais cedo. No estado, além do número de infectados ser muito maior do que o notificado, a população também tem relaxado nas medidas de isolamento.
“Se não houver medidas de distanciamento mais restritivas e o isolamento for reduzido, a cidade de São Paulo poderá ver o colapso de sua rede hospitalar já na próxima segunda-feira. Em Manaus, a rede já colapsou, a taxa de hospitalização está muito acima da capacidade de atendimento”, pontua Alves.
O grupo também mostrou que os casos de subnotificações podem depender do estado. No Maranhão, por exemplo, a discrepância com as projeções de casos subnotificados é em torno de 5.177,91%. No Rio de Janeiro, essa diferença foi estimada em 1.427,5%. Em São Paulo, 1.496,31%. E no Amazonas, 3.745,62%.
“Testes são essenciais”
Em Manaus, que já está em situação grave no número de leitos e equipamentos, os números oficiais não traduziam a realidade da epidemia na capital.
“Quando se pensava que tinha cerca de mil pessoas com o coronavírus, na verdade, já existiam 40 mil. Por isso, testes são essenciais, e o Brasil precisa desesperadamente fazer isolamento social se quiser evitar o colapso da rede de saúde e o caos”, destaca Gaete.
Alves diz os picos de Rio de Janeiro e São Paulo foram adiados, devido as medidas de isolamento. Com isso, foi possível ganhar algum tempo, mas não o suficiente para os estados se prepararem.
Segundo o ministro Luiz Henrique Mandetta, o pico de casos deve acontecer em maio e junho; nesse período, segundo falou ao Fantástico no domingo (12), haverá uma explosão de mortes.
“Teremos em muitas cidades um cenário como o de Guaiaquil, no Equador, com pessoas mortas em casa e corpos nas ruas, porque os hospitais estarão lotados”.
Com informações do O GLOBO.