
Os idosos voltaram a ser as principais vítimas da Covid-19 após dois anos do início da pandemia, indicando que a quarta dose de imunizante pode ser fundamental para proteger essa faixa etária.
A necessidade do segundo reforço já vinha sendo estudada, porém, a rápida disseminação da Ômicron no início deste ano deixou ainda mais clara a vulnerabilidade daqueles que concluíram o esquema vacinal há mais de quatro meses e são particularmente frágeis. Em São Paulo, essa nova fase da campanha deve iniciar em abril.
Segundo levantamento feito nos hospitais de referência para o tratamento da Covid-19 no país, Emílio Ribas, em São Paulo, e Ronaldo Gazolla, no Rio de Janeiro, foi revelado que, no início de fevereiro, de 70% a 90% dos mortos pela doença eram pessoas não vacinadas ou com o esquema de vacinação incompleto. No fim de fevereiro, porém, esse porcentual caiu para aproximadamente 50%, o que revela nova mudança no perfil das vítimas. Na outra metade, a maioria são idosos que tomaram a terceira dose em novembro.
“Nas primeiras três semanas da disseminação da Ômicron, [praticamente] 100% dos mortos eram não vacinados, com o esquema vacinal incompleto ou imunossuprimidos [transplantados, pacientes de câncer, entre outros]”, afirma o infectologista Alexandre Naime Barbosa, da Faculdade de Medicina da Unesp, em Botucatu.
“Agora, esse grupo representa 50% dos mortos, e os outros 50% são idosos já com as três doses; a diferença é que eles tomaram essa terceira dose há mais de três meses e a imunidade deles começou a cair.”
No fim de 2021, o surgimento da variante Ômicron, mais transmissível, favoreceu a rápida disseminação da nova cepa no país a partir de janeiro deste ano, o que marcou uma terceira onda da pandemia no Brasil, segundo especialistas. “As vacinas foram desenvolvidas para o Sars-CoV2 de antes das mutações e apresentavam proteção alta, acima de 80% para infecções leves e acima de 90% para infecções graves e óbitos”, diz a infectologista Ethel Maciel, da Ufes (Universidade Federal do Espírito Santo).
“Com o surgimento das novas variantes, sobretudo da Ômicron, houve redução significativa da proteção para os casos mais leves, ainda que ela tenha se mantido acima dos 80% para casos graves e mortes.”
Agora, um dos grandes desafios da imunização contra a Covid-19, segundo especialistas, é a menor eficácia da vacina justamente na parcela mais velha da população. Por causa do fenômeno conhecido como imunossenescência, os maiores de 70 anos são menos protegidos pelos imunizantes do que a população em geral. E essa proteção tende a cair ainda mais quatro a cinco meses depois da vacinação completa.
O mesmo fenômeno ocorre em indivíduos submetidos à quimioterapia para câncer e a medicações imunossupressoras, em portadores de imunodeficiências, em pessoas que vivem com HIV ou fazem uso crônico de altas doses de corticoide.
[tdj-leia-tambem]
Para o pesquisador Raphael Guimarães, do Observatório Covid-19/Fiocruz, o pico da Ômicron já ficou para trás, com a redução do número de novos casos e mortes nos últimos dias. Nos próximos 30 dias, o Brasil atravessa o que os pesquisadores chamam de “janela de oportunidade” para otimizar o combate ao vírus, porque a grande maioria da população estará imunizada, seja por causa da vacinação, seja por infecção recente pela nova cepa.
“Se conseguirmos alavancar a vacinação, vamos reunir um conjunto tão grande de pessoas imunes que é possível pensar em bloquear a circulação do vírus, diminuindo os casos e óbitos”, explica Guimarães. O cenário favorável, entretanto, não permite ainda que as medidas de restrição possam ser flexibilizadas nem autoriza eventos de aglomeração. “É hora de intensificar as medidas de restrição para que o vírus não consiga se espalhar.”