Foto: Marcos Serra Lima/G1
Foto: Marcos Serra Lima/G1

As máscaras passaram a entrar na mira de iniciativas contra a obrigatoriedade irrestrita de uso, já que o presidente Jair Bolsonaro encomenda o fim da obrigatoriedade (ele ainda aguarda resposta do Ministério da Saúde, que estuda a medida). Mas agora São Paulo e Rio de Janeiro estudam flexibilização da regra, enquanto Duque de Caxias se antecipou e decidiu abolir o uso em ambientes fechados ou abertos.

Especialistas que acompanham a evolução da pandemia desde as primeiras mortes fazem alertas contra a medida. Em resumo, eles apontam que a medida pode ser viável em algumas situações ao ar livre, centros de comércio popular e aglomerações ainda exigem prevenção, é essencial que medida permaneça em ambientes fechados, a pressa dos EUA para abolir máscaras foi considerada um erro de estratégia, as máscaras funcionam, são baratas e comprovadamente eficazes contra a Covid-19 e o principal, a pandemia não está sob controle e patamar de mortes ainda é inaceitável.

“Eu não acho um absurdo se discutir a flexibilização do uso de máscaras em espaços abertos e, deixando bem claro esse ponto, ventilados.” – Vitor Mori, doutor em engenharia biomédica e pesquisador na Universidade de Vermont, nos Estados Unidos. “Eu tomaria como contrapartida da flexibilização do uso de máscaras que se gaste mais energia e tenha mais controle sobre os espaços fechados”, explica Mori.

Pedro Hallal, epidemiologista da Universidade Federal de Pelotas, concorda: “Sem dúvida que, caso essa decisão seja tomada, ela deve ser aplicada apenas em ambientes abertos e por pessoas completamente vacinadas”.

Por outro lado, os especialistas afirmam que nem todo ambiente aberto é igual ou seguro. “Se eu saio para andar, por exemplo, no centro de São Paulo, ou se eu vou passear na Rua 25 de março, onde há várias pessoas, a máscara pode ser, sim, necessária”, explica Denise Garret, epidemiologista e vice-presidente do Instituto Sabin.

Vitor Mor lembra que espaços abertos são mais seguros, desde que se respeite o distanciamento. “Um evento como um festival de música ou uma festa na praia, por exemplo, são um risco porque as pessoas teriam um contato próximo, face a face, cantando ou gritando, paquera e beijos. O ponto central desses eventos é que eles misturam muitos espaços abertos e fechados. Mesmo que o evento seja em espaço aberto, pode ser que haja uma banca de bebidas em um espaço menos ventilado ou mesmo o banheiro. Nunca é espaço aberto o tempo todo”, explica Vitor Mori

Os EUA chegaram a liberar, mas depois recuaram e determinaram que todos, até os que já estão vacinados, voltem a usar máscaras em ambientes fechados nas regiões com alta transmissão de Covid. À época, por trás da decisão estava o avanço da variante delta, que fez saltar o número de novos casos diários de 13 mil no país inteiro para mais de 57 mil em poucas semanas.

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No Brasil ainda não se sabe se a variante ainda pode mudar o curso da pandemia, na visão dos especialistas. “Me parece um pouco precipitado (liberar). Eu esperaria um pouco mais. Quando a gente conseguir vencer esse cabo de guerra que é variante delta, eu acho que é hora”, explica Hallal

A orientação do CDC (sigla em inglês pra Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA) para uso de máscaras, divulgadas em 13 de agosto, é para manutenção em locais fechados e a recomendação é para que elas também sejam usadas em ambientes externos em áreas com altos índices de transmissão e com reunião de grande número de pessoas.

No Brasil, a recomendação para o uso ainda está em vigor, apesar de o ministro Marcelo Queiroga dizer que é contrário à obrigatoriedade do uso de máscaras. Desde junho Queiroga recebeu o pedido de Bolsonaro para desobrigar o uso de máscara por vacinados.