
Um estudo feito por uma equipe de 30 cientistas do Imperial College de Londres divulgou que, se o Brasil adotar estratégias radicais de isolamento social para conter a pandemia do novo coronavírus, será possível salvar mais 1 milhão de vidas.
No trabalho, os pesquisadores levaram em conta cinco cenários de disseminação do vírus. Uma das conclusões levou ao dado de 1,15 milhão de óbitos caso não haja medidas de isolamento e 44 mil com restrições mais drásticas e precoces.
Os mesmos pesquisadores também simularam estudo semelhante para os Estados Unidos e o Reino Unido. Depois disso, o primeiro-ministro do Reino Unido tomou medidas mais firmes que estimulavam o distanciamento social.
Veja as simulações para os cinco cenários:
Cenário 1: nenhuma intervenção
Se tudo continuasse como sempre foi, o coronavírus contagiaria 188 milhões de brasileiros, dos quais 6,2 milhões terão que ser hospitalizados e 1,5 milhão precisará ser internado em UTI.
Neste caso, o número de mortes estimado é de 1.152.283.
Cenário 2: distanciamento social
Se o isolamento social incluir a proibição de eventos e redução na circulação, mas ainda assim, medidas mais brandas, o número de mortes chegaria a 627 mil.
A estimativa prevê 122 milhões de brasileiros infectados, dos quais 3,5 precisarão de hospitalização e 831 mil terão que ocupar leitos da UTI.
Cenário 3: distanciamento social com isolamento de idosos
Com as mesmas medidas brandas de distanciamento unido ao isolamento total dos idosos, com saída autorizada apenas em absoluta necessidade, o número de mortes chegaria a 530 mil.
Com esse cenário, são infectados 121 milhões de brasileiros, 3,2 milhões precisam ser hospitalizados e 702 mil ficam em estado crítico, que requer tratamento em UTI.
Cenário 4: supressão tardia
O cenário é similar ao que adotou a Coreia do Sul. Além do distanciamento de toda a população, são feitos testes massivos, os casos positivos são isolados e os que tiveram contato com eles, monitorados.
No entanto, a medida é adotada apenas quando há 1,6 morte por 100 mil habitantes, por isso, supressão tardia.
Essa abordagem reduziria o número de mortes a 206 mil, com 49,6 milhões de brasileiros contaminados. Destes, 1,2 milhão precisarão ser internados em hospitais, e 273 mil terão necessidade de cuidados intensivos.
No pico da pandemia, a necessidade será de 460 mil leitos de hospital e 97 mil leitos de UTI, mais que o dobro do número de leitos disponíveis no país.
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Para se ter uma ideia, no Brasil, nesta semana, a taxa de mortes por 100 mil por semana brasileira foi 0,04.
Cenário 5: supressão precoce
Estratégia semelhante à do cenário 4, mas com medidas aplicadas quando o número de mortes chega a 0,2 por 100 mil habitantes.
Nessa abordagem mais rigorosa, morreriam 44 mil brasileiros. Seriam infectados pelo coronavírus 11 milhões de pessoas, das quais 250 mil precisariam ser internadas, 57 mil, na UTI. No pico da pandemia, a necessidade de leitos de hospital seria de 72 mil; de UTIs, 15 mil.
Essa seria a única medida que não provocaria colapso na Saúde. Mas os autores do estudo admitem que a supressão é difícil de ser aplicada. “Os custos econômicos e sociais da supressão podem ser desproporcionalmente altos nas regiões mais pobres”, escrevem os cientistas.
Pontos a se avaliar
Os cálculos foram feitos em cima de estudo que considera que até 80% da população pode contrair o vírus, se circular livremente. Destes, 20% precisarão de hospitalização, e 5% dos casos se tornarão graves, com a necessidade de leitos de UTI e aparelhos de respiração.
Considerados os dados da China e Itália, metade dos casos críticos leva à morte, mas o número pode aumentar se mais gente for contagiada: um, porque os casos graves superam a capacidade das UTIs, deixando parte dos doentes sem o cuidado necessário, e dois, porque o caos nos hospitais provoca a morte de outros doentes graves.
De acordo com divulgação da Folha de S. Paulo, o estudo foi feito com base em países mais riscos que o Brasil. Em lugares em que muitas pessoas dividem o mesmo espaço, como em favelas, onde as condições de higiene e saneamento são precárias ou onde o sistema de saúde tem menos recursos, a situação pode ser mais grave que a estimada.
Segundo eles, os governos enfrentarão um grande desafio em suas decisões nas próximas semanas e meses, mas os cálculos do estudo “demonstram que uma ação rápida, coletiva e decisiva pode salvar milhões de vidas”.