Elio se formando com o canudo na mão ao lado do pai
O pai de Elio não tinha nenhuma comorbidade e nem estava no grupo de risco pela idade. Ele tinha 41 anos. (Foto: Reprodução/Redes sociais)

Elio Soares Peres Neto sentiu na pele a dor de perder alguém para o coronavírus. Aos 22 anos, o morador de Belém do Pará, precisou se despedir do pai e dias depois, do avô. Uma tia segue internada.

“Meu pai nunca adoecia de nada, nem gripe ele pegava. Era ativo, jovem, trabalhava e não tinha doença nenhuma”, comentou o terapeuta ocupacional, lembrando-se do dia em que o pai ligou para ele, pedindo que o levasse ao hospital porque estava com muita falta de ar.

A doença começou com gripe leve e coriza. Menos de uma semana depois, ele precisava do ventilador mecânico para respirar. Quando o quadro se agravou, Rosenildo Soares Peres morreu em 24 horas, aos 41 anos, deixando a esposa, o filho, e uma filha, de apenas 10 anos.

Família afetada

Na casa em que morava a família, os pais de Rosenildo, de 71 e 84 anos, também viviam.

No dia em que ele foi internado, a família teve mais uma notícia preocupante. “O meu avô e a minha tia, que tinha ido para casa para cuidar dele, começaram a apresentar os sintomas”, contou Elio. O avô, com hipertensão e a tia, de 51 anos, diabética.

Os dois precisaram ir ao hospital. Segundo divulgou o UOL, o avô, em poucos dias, ficou em coma induzido. A tia também foi entubada, mas consciente. Ambos, positivos para coronavírus.

“Minha mãe teve alguns sintomas, mas era crise de ansiedade devido a tudo aquilo que estamos vivendo. O teste dela deu negativo e a minha irmã e eu não chegamos a fazer porque não apresentamos sintomas”, acrescentou Elio.

Na sexta-feira (10), depois de 4 dias de perder o pai, Elio recebeu a notícia que o avô tinha falecido.

Tensão

“É um inimigo invisível. Eu estou assintomático, mas acordo todo dia pensando, verifico a minha temperatura, se estou com febre”, declara o jovem.

A morte, já dura como é, fica ainda mais dolorida sem despedida.

“O mais difícil desse processo é você ver uma pessoa como meu pai, muito querido, que tinha muitos amigos, só poder contar com cinco pessoas no enterro. Fomos eu, minha irmã e minha mãe e dois tios mais próximos”, conta.

Agora, luto e preocupação com outras pessoas com sintomas se misturam. Uma amiga de Elio, que mora com ele, já apresentou coriza, febre e falta de ar.

Ela foi orientada a voltar a procurar atendimento de a falta de ar piorasse.

[tdj-leia-tambem]

A dor de quem já perdeu tanto, em tão pouco tempo, agora é conselho para os que ainda tem a família completa ao lado.

“Queria que as pessoas não esperassem esses números grandes virarem rostos conhecidos. É muito difícil ver o quanto a doença age rápido no corpo, na família. É muito assustador assistir alguém com falta de ar”, diz. “Respeitem os profissionais de saúde, as recomendações da OMS, respeitem os cientistas, os pesquisadores. Não ouçam a opinião de pessoas que não têm embasamento teórico para falar sobre isso, pessoas irresponsáveis que estão mandando vocês saírem de casa”.

Com informações do UOL.