
Nascida em São Caetano e criada em Jundiaí, a pediatra e pneumologista, Ana Maria Ribeiro Fernandez, de 30 anos, é uma das voluntárias que participam do teste da vacina contra o coronavírus.
A pesquisa do medicamento desenvolvido pela Universidade de Oxford está sendo liderada pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Ana recebeu a dose na última terça-feira (7) e descreveu a experiência à reportagem do Tribuna de Jundiaí:
“Diferente de tudo que já vivi”, conta.
Ela revela que, de início, teve com medo, mas logo a sensação ruim foi embora.
“Estou apenas com dor leve no local da aplicação, sem nenhum outro sintoma”, diz.
Decisão e “processo seletivo”
Ana afirma que quis participar da pesquisa como uma atitude de empatia.
“Porque estamos vivendo um momento de pensar no coletivo”, ressalta.
“Me sinto privilegiada em poder fazer parte de algo com relevância mundial”, acrescenta.
Para participar do teste, a médica foi entrevistada e, depois de comprovar todos requisitos exigidos, passou por uma coleta de exames de sangue, além de uma sorologia de Covid-19 para comprovar que nunca havia sido infectada com o vírus.
Na segunda etapa do recrutamento, a profissional da saúde passou por avaliação médica, por novos exames e, por fim, tomou a dose da vacina.
Ana explica que o estudo está dividido em dois grupos, que foram sorteados aleatoriamente: metade dos participantes toma a vacina em teste para o Sars-CoV2; e a outra metade serve como grupo de controle e toma uma vacina de meningite.
Ela ainda destaca que todos voluntários não sabem de qual grupo fazem parte, já que esta informação não é divulgada aos participantes.
Agora, Ana deve comparecer em mais quatro visitas programadas para colher novos exames e sorologias.
Ao final, poderá saber está imune ao vírus após a vacinação.
Na linha de frente
A pediatra teve de se adaptar ao atual cenário de pandemia.
Segundo ela, todos profissionais de saúde tiveram que passar a entender o medo dos pacientes.
Ana atua em hospitais da Grande São Paulo e também atende em domicílio na cidade de Jundiaí.
“Eu cuido de crianças. Elas não costumam ter agravamento devido ao coronavírus, mas precisamos lidar com o medo da família”, explica.
“Neste momento de pandemia, é importante aprender acolher a pessoa e o medo dela”, enfatiza.
Ana Maria narra uma rotina exaustiva e um clima “pesado” nos hospitais.
“No começo, principalmente, foi muito difícil. Eu ia trabalhar com medo e ansiosa. O clima estava muito triste, as pessoas estavam desesperadas”.
A médica lamenta a morte de uma amiga que morreu por Covid-19, a jornalista Letícia Fava, de 28 anos, que não tinha nenhuma doença preexistente.
“Nunca sabemos o que esperar”, lamenta.
No entanto, com o surgimento das possíveis vacinas, a médica diz que o clima, agora, é de otimismo.
“Acho que a vacina vai sair em breve”, prevê Ana, destacando o avanço no conhecimento médico em relação à doença.
Mesmo com o possível sucesso da vacina, a médica reiterou a necessidade de isolamento social.
“Fiquem em casa, quem puder. É muito difícil psicologicamente, a mudança de vida foi muito grande mas a gente tem que ter um pouquinho de paciência e confiar na ciência”, diz.