Criança entregando currículo em portão de empresa
Foto: Reprodução/EPTV

Depois de perder o pai para Covid19, o pequeno Murilo Barbieri Braselino, de 5 anos de idade, decidiu entregar seu currículo na empresa em que Evaldo trabalhava como segurança. O caso aconteceu em São João da Boa Vista, em São Paulo.

De acordo com o pequeno, a intenção com a candidatura a um emprego era de ajudar sua mãe. Mas, ainda assim, a ideia inusitada da criança foi uma forma de Murilo matar a saudade do pai e ficar próximo dos amigos de Evaldo.

Despedida

Evaldo morreu de Covid19 aos 46 anos, após se sentir mal por cerca de sete dias e depois sendo internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

“No dia que ele internou, ele estava muito ruim e o Murilo chamou ele pela porta e falou: ‘Tchau, pai’. Ele não conseguiu olhar pra trás de tanta dor, de tão cansado que ele estava. Quando ele estava no oxigênio ele falou: ‘poxa, eu nem falei tchau pro meu filho’. Eu falei: ‘mas vai dar tempo de voltar lá e dar tchau’. E não deu”, disse a dona de casa e mãe do pequeno, Tatiana Barbieri Braselino.

Tatiana conta que o maior receio era contar ao filho que o pai, que tanto amava, havia falecido. “Jesus já veio buscar o papai e aí ele falou: ‘mas ele morreu?’ Eu falei: ‘nós não vamos ver mais ele agora, mas logo a gente vai encontrar ele, né? Ele chorou, me abraçou e eu falei: ‘mas você não tá sozinho’”, relatou.

“Está lá em cima [no céu]. Deve estar jogando bola ou babando no sol”, disse Murilo, que ama brincar com as ferramentas do pai.

Agora, os equipamentos são mais uma forma de lembrar de Evaldo.

Murilo diz que o pai deve estar ‘jogando bola ou babando’ no céu (Foto: Arquivo Pessoal)

Tem vaga?

Depois de alguns dias da morte de Evaldo, Murilo levou à mãe uma proposta inusitada. Ele disse que queria entregar um currículo, para trabalhar na empresa em que o pai trabalhava. Tatiana disse ao filho que no momento eles estavam trabalhando na empresa, e que não poderia ir, mas Murilo insistiu.

Assim, os dois começaram a confeccionar um currículo para Murilo, que faz natação e ‘não fica cinco minutos parado’. Até uma foto 3×4 foi colada no documento.

Na entrega do currículo, Murilo encontrou um dos amigos de seu pai, Alan Fritoli Silva, que trabalha como vigia na empresa.

“Ele me entregou, falou que era pra entregar no RH, que ele queria trabalhar de qualquer jeito. Falou que queria pra ajudar a mãe, que tinha perdido o pai, que ele é o dono da casa, que ele vai pagar as contas“, disse o vigia.

“Eu acho que ele entendeu isso assim: ‘que o pai morreu, então agora quem manda sou eu, quem é o homem da casa, sou eu, né? Então ele pegou uma responsabilidade que talvez não era dele ainda, mas ele entendeu que já seria”, afirmou a mãe.

“O amor que o Evaldo tinha por ele era uma coisa indescritível. E a transmissão de valores que ele deu pro Murilo, também, que eu acho que é o mais importante, né? Que demonstra o caráter que o Evaldo tinha, que sempre teve e, se Deus quiser, vai se perpetuar no filho dele. É um prazer receber ele. Sempre, a porta daqui vai estar sempre aberta pra ele”, destacou o coordenador de segurança da empresa, Thiago Ansani.

Evaldo com Murilo recém-nascido nos braços (Foto: Arquivo pessoal)

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