Mantimentos expostos em banquinhos e cartaz com informações e orientações
Ela fixou o anúncio próximo à entrada do condomínio, localizado em Jundiaí. (Foto: Arquivo pessoal)

Em um condomínio de Jundiaí, um banquinho próximo à entrada é suporte para pacotes de arroz, macarrão, óleo, leite e até chocolate em pó. Fixado na parede, um cartaz informa: “produtos grátis. Em tempos de crise e de distanciamento social, vamos procurar fazer o bem. Essa será minha forma de ajudar. Itens que não uso, mas para você, deve ser bastante útil”.

A autora da mensagem é a jovem baiana de 28 anos, Renata Cruz, que há três anos escolheu Jundiaí para viver e trabalhar. Ela compartilha o apartamento com uma amiga que, parte do grupo de risco, foi para a casa dos pais para reforçar o isolamento.

“Como estou sozinha em meu apartamento esses dias, vi que não tinha necessidade de manter essa quantidade de comida só para mim, então tive a ideia de fazer a doação”, conta. “Eu tinha visto essa atitude em Orlando, nos Estados Unidos, e fiquei pensando se rolaria aqui também. Por fim, decidi que não custava tentar”, completa.

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O objetivo é simples: evitar que as pessoas vão ao mercado para comprar um ou outro produto, especialmente os idosos.

“Tem muitos idosos no condomínio e minha janela é de frente para rua, então comecei a observar que estava tendo uma entrada e saída muito grande desses moradores mais velhos, alguns nem de máscaras costumam sair”, explica. Para ela, eles estavam indo, principalmente ao mercado. O cenário só reforçou a vontade de fazer algo que contribuísse para o bem coletivo.

Aceitação dos vizinhos

“No primeiro dia percebi que apenas dois mantimentos tinham saído”, lembra Renata.

A movimentação, embora tenha começado de forma discreta, em pouco tempo ganhou força. Quatro dias depois, não havia apenas saída, mas também entrada de novos produtos. Ao que parece, a solidariedade se espalhou entre os vizinhos e outros, que também tinham sobras de mantimentos em casa, fizeram a doação.

Renata, prevendo que haveria ali um maior movimento de pessoas, fez questão de deixar orientações expostas no cartaz.

“Só toque no produto se for levar. Ao chegar em casa, lembre-se de passar álcool no produto que foi escolhido por você”.

“Da mesma forma que estou tendo o cuidado na minha casa, quis que os outros tivessem. Antes de expor os produtos o porteiro me ajudou a passar álcool em todos, e deixei claro, apenas tocar se for levar”, alerta.

Corrente do bem

A jovem formada em moda, hoje responsável pelas vendas de uma empresa fabricante de bolos, defende que quem quer ajuda, arruma uma forma de fazê-lo.

“Se a pessoa sabe costurar, ela pode vender máscara por um preço de custo; se tem álcool em gel, ela pode dividir em saquinhos menores e distribuir entre os vizinhos; quem tem alimento em casa e faz almoço, pode doar marmita para a vizinhança”, sugere. O importante, segundo ela, é a união.

“Eu não tenho muito pra ajudar, mas o pouco que tenho, eu posso compartilhar. Acho que se cada um fizer um pouquinho e seguir as orientações recomendadas pela Saúde, vamos sair logo dessa”, conclui.