
Alguns países da Europa voltam a tomar medidas de prevenção para enfrentar a segunda onda de contágio da Covid-19, enquanto o Brasil segue na primeira, em estabilidade. Essa fase ainda não tem previsão de queda ou aumento em curto prazo sobre o número de casos no país.
O caso do Brasil intriga os cientistas e infectologistas, além das estatísticas. De acordo com os especialistas, ainda estamos longe de sair da primeira onda.
Depois de um grande pico infeccioso agudo com uma queda considerável de número de casos logo em seguida, chegando a quase zero, é quando a segunda onda pode ocorrer. Isso foi o que aconteceu com países como a França e a Espanha, que voltaram a estabelecer o lockdown para conter a disseminação do vírus.
Porém, no Brasil a pandemia ocorre de forma diferente. Entre junho e julho o país teve um grande pico de casos e mortes, foi seguido de uma pequena queda e uma estabilização nos índices. Atualmente, o número de vítimas fatais da doença está em torno de 500 pessoas diariamente. Esse número ainda é considerado alto.
O coordenador do projeto Covid-19 Analytics, da PUC-Rio, Marcelo Medeiros, explica que o país segue com muitos casos, mas ainda sem indicações de uma segunda onda de infecção da Covid-19. “No Brasil todo estamos na primeira onda ainda; tivemos uma queda, mas estabilizamos em níveis muito altos e não conseguimos baixar.”
Uma das explicações dos especialistas para a grande queda de casos na primeira onda européia foi a implementação radical do lockdown nos países do continente, muito maior que no Brasil. Assim, depois da flexibilização dessas medidas de isolamento, os números aumentaram novamente.
Enquanto isso, no Brasil, essa medida não foi tão rigorosa e não teve eficácia em locais como as favelas e periferias, com grande densidade populacional. A quantidade de testagem dos casos, que foi baixa, também aumenta a dificuldade de controle.
Ápice longo, descida muito lenta
Segundo Alexandre Naime, chefe do Departamento de Infectologia da Unesp, a taxa de transmissão aqui continua alta, mas o “R” está baico, mas próximo do 1, que é o ideal. Por esse motivo, o decréscimo está devagar.
“No Brasil, não tivemos propriamente um pico, tivemos um ápice longo e uma descida muito lenta”, explica.
Sendo assim, o importante para os pesquisadores agora é o aumento considerável das testagens no país, com o objetivo de localizar as cadeias de transmissão.
A pneumologista da Fiocruz, Margareth Dalcolmo, diz que é necessário se preocupar em controlar o que está acontecendo agora. “As medidas foram muito relaxadas. Será que precisávamos abrir cinemas, quando se sabe que a transmissão ambiental é crucial?”, comentou.
“Temos de monitorar mais os casos e chegar a uma taxa de incidência segura para, por exemplo, liberar as crianças para a escola”, concordou o epidemiologista Amílcar Tanuri, do Instituto de Biologia da UFRJ. “Para podermos voltar com coisas importantes e sacrificar outras, como ficar em bares até a madrugada”, concluiu.
Informações do jornal O Estado de S. Paulo.