
O fim de ano costuma ser associado a celebrações, reencontros familiares e balanços pessoais. No entanto, para muitas pessoas, esse período também pode trazer à tona sentimentos de ansiedade, tristeza e solidão. A comparação entre expectativas e realidade vivida é um dos fatores que contribuem para esse cenário.
De acordo com o psicólogo do Hospital de Caridade São Vicente de Paulo (HSV), Vinicius Costa, esse movimento interno é comum nessa época.
“Isso pode despertar um sentimento de frustração, perdas ou a percepção de distanciamento de metas e vínculos. Além disso, não é incomum a percepção de uma pressão social pelo ‘espírito de celebração’ que nem sempre corresponde ao estado emocional de todos”, afirma.
Pressões sociais e expectativas ampliam o sofrimento
O contraste entre o clima festivo e situações de sofrimento, como doenças, desemprego, rupturas afetivas ou luto, tende a intensificar a sensação de desamparo e aumentar a ansiedade. Soma-se a isso o peso das expectativas pessoais e familiares, que costumam se amplificar no fim do ano.
Segundo o psicólogo, é fundamental rever essas cobranças internas.
“O primeiro passo é reconhecer que nem todas as expectativas são justas ou realistas. Muitas vezes, tentamos atender padrões de felicidade, consumo ou harmonia familiar que não correspondem à nossa realidade. As redes sociais, inclusive, podem ser um grande gatilho para ansiedade, por conta da comparação. É importante se permitir viver o período de acordo com suas condições emocionais e financeiras, estabelecendo limites e priorizando o que é significativo”, explica o especialista.
Luto e perdas exigem atenção redobrada
Entre as situações que mais demandam cuidado emocional no fim de ano está o luto. Vinicius Costa ressalta que esse é um processo único para cada pessoa e que não segue prazos definidos.
“O luto é um processo individual e não tem tempo certo para passar. Durante as festas, rituais simbólicos como incluir uma foto ou falar sobre quem partiu podem ajudar a acolher as emoções. Se não houver vontade de participar das celebrações, tudo bem. Às vezes, o mais saudável é escolher ambientes e pessoas que ofereçam acolhimento, e não exigência de alegria”, orienta.
Quando procurar ajuda profissional?
O psicólogo também alerta para sinais de que o sofrimento emocional pode ter ultrapassado o limite esperado para o período.
“Tristeza intensa e prolongada, perda de prazer, alterações no sono e apetite, isolamento e ideias de desesperança são sinais de atenção que reforçam a importância de procurar ajuda profissional. Na rede pública, os CAPS e as Unidades Básicas de Saúde oferecem acolhimento psicológico gratuito. O Centro de Valorização da Vida (CVV), pelo telefone 188, também é uma via de descompressão emocional frente à sensação aguda de desamparo”, diz.
Pequenas atitudes podem tornar o período mais leve
Para atravessar o fim de ano de forma mais equilibrada, o especialista recomenda ações simples de autocuidado no dia a dia.
“Manter uma rotina mínima de sono, alimentação e lazer, procurar momentos de contato com pessoas de confiança e desconectar-se um pouco das redes sociais faz diferença. O essencial é lembrar que não existe um ‘jeito certo’ de viver o fim de ano e que se permitir sentir, com autenticidade e gentileza, já é um caminho de cuidado com a própria saúde mental”.