De acordo com a pesquisa, usuários de maconha têm entre 3,5 e 5 vezes mais probabilidade de desenvolver cânceres de cabeça e pescoço
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Pesquisadores da Universidade do Sul da Califórnia (USC) conduziram um estudo que aponta que fumar maconha com frequência e em excesso pode aumentar o risco de desenvolver certos tipos de câncer. Este estudo analisou 20 anos de dados de saúde de pessoas que eram dependentes de maconha e foi publicado no JAMA Otolaryngology – Head & Neck Surgery.

De acordo com a pesquisa, usuários de maconha têm entre 3,5 e 5 vezes mais probabilidade de desenvolver cânceres de cabeça e pescoço. Esses cânceres incluem câncer das cavidades oral e nasal, faringe, laringe, glândulas salivares e tireoide. Normalmente, o consumo excessivo de álcool e tabagismo estão associados a esses tipos de câncer, com um risco maior para quem consome ambos.

Os pesquisadores da USC destacam que estudos anteriores que exploraram a ligação entre o uso de cannabis e o risco de câncer de cabeça e pescoço produziram resultados inconsistentes. No entanto, neste estudo, foram analisados os dados médicos de 116.000 pessoas, divididas entre usuários e não usuários de maconha com características de saúde semelhantes. Os resultados sugerem que a maconha pode ser ainda mais perigosa que os cigarros em relação ao risco desses tipos de câncer.

Os autores do estudo explicam. “A cannabis queima em uma temperatura mais alta do que o tabaco, aumentando o risco de lesão inflamatória”. Apesar das evidências, o estudo possui limitações, como a falta de informações detalhadas sobre dosagem, frequência e modo de uso da maconha.

Primeira associação entre maconha e câncer de cabeça e pescoço

Esse foi o primeiro grande estudo a relacionar a dependência da maconha, também conhecida como transtorno por uso de cannabis sativa, a um risco de até 5 vezes maior de câncer de cabeça e pescoço. O estudo reforça a preocupação com os efeitos nocivos da fumaça de maconha, que é consumida principalmente por inalação.

Segundo Niels Kokot, cirurgião de cabeça e pescoço do USC Head and Neck Center e autor sênior do estudo, “Fumar cannabis envolve uma inalação mais profunda em comparação ao tabaco. Além disso, a cannabis queima em uma temperatura mais alta do que o tabaco, aumentando o risco de inflamação causadora de câncer”. Esse é o primeiro estudo a estabelecer uma ligação direta entre o uso crônico da droga e o risco elevado desses tipos de câncer.

A prevalência do câncer entre usuários de maconha foi observada independentemente de fatores como idade, gênero e etnia. A equipe de pesquisadores acredita que o efeito prejudicial da fumaça seja a principal causa desse aumento no risco de câncer. Contudo, outros métodos de consumo, como a ingestão de cannabis na comida, não foram abordados neste estudo.

“A detecção desse fator de risco é importante porque o câncer de cabeça e pescoço pode ser prevenido quando as pessoas sabem quais comportamentos aumentam seu risco”, afirma Kokot.

Outros riscos à saúde

Além do câncer de cabeça e pescoço, a maconha pode causar complicações graves para a saúde do coração e do cérebro. Um estudo publicado no Journal of the American Heart Association revelou que o uso diário da droga aumenta em 25% o risco de ataque cardíaco e em 42% o risco de acidente vascular cerebral.

Situação da maconha no Brasil

No Brasil, o porte de maconha para uso pessoal foi descriminalizado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para quantidades entre 25 e 60 gramas ou até seis plantas fêmeas de cannabis. No entanto, a venda e o cultivo da droga continuam ilegais em território nacional. Embora a descriminalização represente um avanço, a maconha ainda é considerada uma substância ilícita e seu uso pode acarretar sanções legais.

Este estudo reforça a importância de entender os riscos associados ao uso frequente e crônico de maconha, especialmente no contexto de doenças graves como câncer e complicações cardiovasculares.

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