
Pesquisadores da Universidade da Flórida estão desenvolvendo uma vacina inovadora que promete estimular o sistema imunológico inato, ampliando as possibilidades no combate ao câncer. Inspirado nas tecnologias utilizadas nas vacinas contra a Covid-19, o estudo aposta na ativação simultânea do sistema imune inato e adaptativo como estratégia para criar um imunizante universal contra tumores.
O professor Luís Carlos Ferreira, do Departamento de Microbiologia do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, e responsável pelo Laboratório de Desenvolvimento de Vacinas, comenta a proposta do projeto.
“Quando se fala em vacinas, vem à mente a ideia de vacinas contra doenças infecciosas. Já o conceito de imunoterapia para câncer tem muito a ver com a ideia de que você vai administrar no paciente anticorpos ou mesmo células geradas a partir do sistema imunológico”, explica.
A abordagem do estudo envolve a produção de anticorpos monoclonais capazes de frear o crescimento tumoral. Assim, desbloqueando a ação do sistema imunológico contra os tumores. Para isso, os cientistas utilizam vacinas baseadas em RNA mensageiro. Essa é a mesma tecnologia amplamente aplicada durante a pandemia da Covid-19.
Resultados promissores em testes com mamíferos
Segundo Ferreira, os testes realizados em camundongos com tumores agressivos indicaram aumento na sobrevida dos animais tratados com a nova formulação. O imunizante também foi testado em três cães, sem apresentar toxicidade nos resultados preliminares.
“Não é tão trivial assim, ‘olha, temos aqui uma vacina para câncer’. Na verdade, começaram a explorar aspectos do sistema imunológico frente a respostas contra certos tumores em condições experimentais”, ressalta o professor.
A tecnologia aplicada utiliza RNA mensageiro envolvido por uma camada lipídica — o mesmo princípio das vacinas da Covid-19. Essa composição se mostrou eficaz para ativar o sistema imune inato de forma inespecífica, promovendo a liberação de sinalizadores como interferon-alfa e interferon-1, moléculas cruciais na resposta contra células cancerígenas.
Diferença entre imunidade inata e adaptativa
Para esclarecer o funcionamento da vacina, Ferreira destaca a distinção entre os dois braços do sistema imunológico.
“Nós dividimos o sistema imunológico dos mamíferos em dois componentes. Um é chamado inato, que nós respondemos o tempo todo, que enfrenta 99,9% das infecções que nós nos deparamos no dia a dia e 99,9% das células tumorais que surgem no nosso organismo diariamente. Do outro lado, nós temos o sistema imune adaptativo, que é o alvo principal das vacinas. O sistema imune adaptativo trabalha com especificidade para antígenos, ou seja, tanto os anticorpos quanto as células T reconhecem determinados elementos, proteínas ou açúcares específicos presentes em microrganismos. Nós tomamos uma vacina hoje, e temos imunidade por um ano, cinco anos, dez anos, pela vida inteira, dependendo do tipo de vacina e doença”, conclui.
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