Vereadores na Câmara Municipal de São Paulo divulgaram a proposta de instalar uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar ONGs que atuam no Centro de São Paulo, incluindo as ações do padre Júlio Lancellotti. O requerimento é de autoria do vereador Rubinho Nunes (União Brasil).
“Já tem as assinaturas. Eu protocolei a CPI com 25 assinaturas que eu coletei em 30 minutos no plenário, mas já tem o apoio de mais de 30 vereadores na Câmara e também tenho construído com as lideranças a abertura da CPI já no início do ano legislativa, em fevereiro”, confirmou o parlamentar à CNN.
Nunes justifica que a CPI buscará “examinar as atividades desempenhadas e se elas estão sendo executadas de maneira satisfatória” pelas ONGs que atuam na região da “Cracolândia”. O requerimento não cita nenhuma entidade, mas o vereador afirmou à CNN que, inicialmente, a CPI investigará as organizações Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto (Bompar) e a Craco Resiste. Além disso, Nunes acrescentou que também devem examinar “todas as outras que atuam ali no centro”. Para ele, essas ONGs “compõem a máfia que explora a miséria no centro de São Paulo.”
Atuação do Padre Júlio Lancellotti
O vereador ainda citou a atuação do padre Júlio Lancellotti, que é conhecido por trabalhar junto à população em situação de rua na capital paulista. “Ele capitaneia tudo isso, então ele é uma figura que vai ser convocada tão logo a CPI seja instalada.”
O Padre Júlio Lancellotti afirmou que as comissões são legítimas, mas que não pertence a nenhuma Organização da Sociedade Civil (OSC). Segundo ele, as ações da pastoral estão submetidas à arquidiocese de São Paulo.
De acordo com o padre, o objetivo da CPI é “a questão da política pública com pessoas dependentes químicas, principalmente em área de cena de uso, que são pessoas em situação de rua”. “Quem executa essas políticas são OSCs com o poder púbico e eu não pertenço a nenhuma OSC”.
O coletivo Craco Resiste publicou uma nota dizendo não se tratar de uma ONG. “Somos um projeto de militância para resistir contra a opressão junto com as pessoas desprotegidas socialmente da região da Cracolândia […] Enxergamos esse tipo de ataque também como uma maneira de tirar o foco da discussão, mantendo aberto o ralo de dinheiro que passa ainda pela violência policial e a suposta repressão ao tráfico”.
O Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto comunicou, também através de nota, que o “padre Júlio Lancellotti não é membro associado, conselheiro ou diretor do Centro social Nossa Senhora do Bom Parto, tampouco exerce algum cargo em nossas unidades de atendimento”.
‘Perseguição’
O vereador Senival Moura, líder da bancada petista na Câmara, se manifestou contrário à CPI. De acordo com ele, a CPI contra Júlio Lancellotti é um caso de “perseguição”.
“Não é possível que a maior Câmara municipal do Brasil e da América Latina, ao invés de trabalhar propondo legislações que construam políticas públicas efetivas na área da habitação, assistência social, saúde, trabalho, emprego e renda e educação, que são ações efetivas com o objetivo de enfrentar o problema de milhares de pessoas que vivem nas ruas da maior e mais rica cidade do país, se utiliza do regimento interno da casa e, propõe uma CPI para perseguir uma figura como o Padre Júlio, símbolo da luta pelos direitos humanos, que tem sido uma voz incansável na defesa dos mais vulneráveis”, diz o comunicado.
Vereadores ‘deram para trás’
Após a repercussão do caso da CPI, quatro vereadores que assinaram o pedido de abertura da investigação retiraram seu apoio. Os vereadores Thammy Miranda, Xexéu Tripoli, Sidney Cruz e Sandra Tadeu se disseram “enganados” pelo vereador Nunes.
De acordo com os parlamentares, o vereador direcionou a CPI para “atacar o padre, desvirtuando o foco da investigação” protocolada na Câmara.