Leonardo Cavalcanti, Vigário João José Rodrigues, Maria Polito, Vasco Antônio Venchiarutti, Dr. Domingo Anastasio: esses e muitos outros nomes constituem de alguma forma a história de Jundiaí.
Assim como grandes cemitérios de São Paulo, Rio de Janeiro e tantos outros em muitos países, o Cemitério Nossa Senhora do Desterro, o mais antigo da cidade, também abriga grandes nomes e lindas ou trágicas histórias.
Com a ajuda da Fundação Municipal de Ação Social (Fumas), vamos contar a história de cinco túmulos ou mausoléus mais visitados na cidade.
Dr. Domingos Anastasio
Túmulo do Dr. Domingos Anastasio (Foto: Tribuna de Jundiaí)
O túmulo do doutor Domingos Anastasio é o mais visitado do cemitério. Fato que não há de se negar pela quantidade de flores e homenagens deixadas no local.
Domingos faleceu em 20 de junho de 1938, vítima de um AVC, e deixou um legado importantíssimo à cidade. Ele ficou conhecido com o ‘médico dos pobres’, já que não se recusava de forma alguma a atender os pacientes. Não cobrava por consultas de pessoas carentes, doava remédio e até dinheiro para que seus pacientes não interrompessem os tratamentos de saúde.
Nascido na Itália, se formou em medicina no ano de 1898, em Roma. Veio para o Brasil em 1904, depois de passar pelo Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo. Atuou como médico em Campinas e, em 1909, mudou-se para Jundiaí. Ele era casado com Emília Michelina Ricci de Anastásio.
Trabalhou no Hospital São Vicente de Paulo por 14 anos e fundou a Fratellanza do Mútuo Socorro, que tinha como objetivo atender os imigrantes italianos da cidade. Em 1924, o espaço deu lugar à Casa de Saúde, ampliando então o atendimento médico para todos os cidadãos, sempre colocando acima de tudo, o amor ao próximo e o direito de todos: receber atendimento de qualidade.
Quando sofreu o AVC, agonizou durante dias, enquanto colegas médicos de Jundiaí e Campinas tentavam salvá-lo. A notícia do falecimento abalou a cidade e seu funeral reuniu milhares de pessoas, que acompanharam o cortejo pelas ruas centrais da cidade até o Cemitério do Desterro.
Após seu falecimento, a Casa de Saúde passou a se chamar Dr. Domingos Anastasio e, atualmente, recebeu o nome de Hospital Regional, assim como a praça entre as ruas Rangel Pestana e Torres Neves, onde é possível encontrar um busto de bronze em sua homenagem.
Leonardo Cavalcanti
Túmulo de Leonardo Cavalcanti (Foto: Tribuna de Jundiaí)
O segundo túmulo mais visitado e conhecido do cemitério é o do engenheiro Leonardo Cavalcanti, falecido em 29 de abril de 1925 de forma trágica. Ele foi engenheiro da Companhia Paulista das Estradas de Ferro e integrou a equipe do engenheiro Monlevade, que em 2 de julho de 1922, fez partir da estação férrea de Jundiaí rumo a Campinas, o primeiro trem elétrico da América Latina.
Ele morreu eletrocutado enquanto fazia uma inspeção no trecho dos fios de alta tensão na época em que a Companhia Paulista começou a eletrificar os trechos ferroviários. O engenheiro era filho de Dr. Cavalcanti e vivia com a família na região central, sendo homenageado por meio da rua que recebeu seu nome.
Agora, uma curiosidade: ao visitar o túmulo do engenheiro é possível encontrar a estátua de uma moça debruçada sobre o túmulo. Aquela seria a noiva de Leonardo Cavalcanti e a estátua retrata a sofrida despedida durante o sepultamento do noivo. Triste com sua partida, ela se jogou sobre o caixão e prometeu que jamais teria outro amor e, assim, morreria solteira. Ela faleceu em São Paulo e cumpriu sua promessa de jamais se casar com outro homem.
Hoje, existe a crença de que, ao colocar flores nas mãos da estátua, é possível receber ajuda para encontrar um verdadeiro amor, assim como o que ela sentia por Leonardo Cavalcanti.
Maria Polito
Famoso túmulo de Maria Polito (Foto: Tribuna de Jundiaí)
Filha de imigrantes italianos, Maria Polito foi vítima de feminicídio e também teve uma morte trágica. Apesar de não ser jundiaiense, ela foi assassinada na cidade e recebeu um jazigo no cemitério daqui.
Maria Polito morava em São Paulo e era noiva de Emílio Lourenço. Eles haviam se casado no civil em 21 de junho de 1900, mas aguardavam a disponibilidade da igreja católica para a realização do casamento religioso. Assim, poderiam viver como marido e mulher.
Em 11 de julho de 1900, Emílio trouxe Maria Polito a Jundiaí para um passeio de trem. Enquanto passeavam pela cidade, o noivo desferiu 18 facadas na jovem. O crime foi cometido onde, atualmente, é a Praça Nove de Julho, na Vila Municipal. Emílio cometeu o crime porque, na adolescência, Maria havia sido estuprada enquanto estava nos Estados Unidos com a família. Ela relatou o caso ao noivo que, a princípio, foi compreensível, mas considerou o ato como uma traição.
Após o crime, ele fugiu para Campinas, mas foi capturado e condenado a 30 anos de prisão. Maria foi enterrada cinco dias após sua morte, em uma cova cedida pela Prefeitura de Jundiaí. Seu túmulo é um dos mais visitados do cemitério e foi construído 27 anos após sua morte. Lá dentro é possível encontrar um quadro pintado em sua homenagem e uma foto dela tirada após a sua morte.
Parte interior da capela (Foto: Tribuna de Jundiaí)
Dr. Antônio de Queiroz Telles (Conde do Parnahyba)
Túmulo do Conde do Parnahyba (Foto: Tribuna de Jundiaí)
Outra sepultura muito visitada é a do Conde do Parnaíba. Ele era filho do Barão de Jundiaí, Antônio de Queiroz Telles. Em 17 de julho de 1886, foi nomeado presidente da Província, o que atualmente seria equivalente ao cargo de governador do Estado.
Ele foi responsável por construir a Hospedaria dos Imigrantes, um local destinado a abrigar os imigrantes chegados da Europa para trabalhar nas fazendas do interior de São Paulo, ação que beneficiou muitas pessoas recém chegadas a Jundiaí.
Mausoléu Antônio de Queiroz Telles (Barão de Jundiaí)
Mausoléu do Barão de Jundiaí (Foto: Tribuna de Jundiaí)
Antônio de Queiroz Telles, pai do Conde do Parnaíba, foi um dos maiores fazendeiros da região. Teve grande influência política e trabalhou na Câmara do império. Ele foi responsável pela modernização da arquitetura do casarão, onde funciona o Museu Histórico de Jundiaí Solar do Barão.
Ele ficou conhecido por seus trabalhos sociais, quando doou diversas terras à Igreja Católica. Em sua lápide há a inscrição pela qual ficou conhecido: “pai e protetor dos pobres”. Após sua morte, a Câmara independente da cidade resolveu prestar uma homenagem, denominando a antiga Rua Direita como Rua Barão de Jundiaí.
Conhecendo mais histórias dos cemitérios de Jundiaí
Se a gente for lembrar todos os grandes nomes enterrados no cemitério Desterro, essa reportagem não vai ter fim. No site da Fundação Municipal de Ação Social, é possível encontrar as histórias de todos os personagens emblemáticos, assim como um link especial somente sobre professores.
Nos túmulos, lápides e mausoléus também tem QR Code. Por meio de um leitor no celular, é possível consultar as histórias durante as visitas ao cemitério.