A fome tornou-se uma das principais preocupações após o avanço da pandemia por todo o Brasil. Estudo recente divulgado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan) mostra que 116,8 milhões de pessoas – 55,2% dos lares brasileiros – conviveram com algum grau de insegurança alimentar no final de 2020. Destes, 19 milhões afirmaram ter passado fome. Em Jundiaí e região, essa realidade não é diferente.
A ONG (Organização Não-Governamental) jundiaiense Alimentando as Ruas viu aumentar os pedidos de cestas básicas num período de dois meses. Em fevereiro deste ano, foram feitas 100 doações em Jundiaí e cidades da região. Um mês depois, foram atendidos 250 pedidos de alimentos. Na semana passada, durante o feriado da Páscoa, os voluntários se desdobraram para entregar 700 cestas básicas em comunidades e uma entidade social de Jundiaí, em Várzea Paulista e Campo Limpo Paulista.
Doações foram feitas por executivos de empresas após divulgação do Tribuna de Jundiaí (Foto: Arquivo Pessoal)
Parte das doações também foi levada para uma comunidade da Zona Norte da capital. “Doamos 1050 cestas somente neste início de ano. No caso das 700 que entregamos agora, elas foram conseguidas por meio de doações em dinheiro feitas por apoiadores da ONG. Compramos as cestas e com ajuda do projeto Fios Encantados e de voluntários, fizemos as entregas”, contou Luana Evelin Silva, líder da Alimentando as Ruas.
Ela revelou que os executivos Roberto Santos e Alexandre Tadeu procuraram a ONG para poder ajudar após a divulgação do trabalho social. “Um deles viu a reportagem no Tribuna de Jundiaí sobre a ONG e decidiu ajudar as famílias que estão precisando de auxílio. Queriam garantir que quem mais precisa iria mesmo receber, por isso nos procuraram”.
“Os locais foram identificados com base nas nossas experiências e também pelo que recebemos de pedidos de ajuda. São pessoas que estão desempregadas, sem condições de trabalhar”, lembrou ela.
Fios Encantados
Mara Gisele Pereira é idealizadora e presidente do projeto Fios Encantados, que confecciona toucas e perucas para crianças em tratamento oncológico. Em parceria com a ONG Alimentando as Ruas, ela também pôde ajudar na entrega das cestas.
Mara (à esquerda) com Luana, durante entrega de cestas básicas: ação conjunta (Foto: Arquivo Pessoal)
“Tive a oportunidade de conhecer a Luana ano passado e essa amizade vem realizando muitas ações conjuntas. Isso é bom, graças a Deus. Sempre trabalhei com moradores de rua, idosos e já atendi algumas famílias com alimentos. Depois da pandemia, isso aumentou muito”, destacou.
Ela revelou que muitas pessoas estão sem recursos até para adquirir itens básicos. “Não é só com alimentos que estamos ajudando, levamos produtos de higiene, fraldas, absorventes e até ração para os cachorros”.
O perfil dos mais necessitados, segundo Mara, é sempre o mesmo em qualquer comunidade. “São pessoas que perderam emprego, que estão doentes ou não conseguem nem mais fazer bico. É extrema pobreza mesmo, as famílias não têm dinheiro! Muitos não têm nem como pagar o aluguel. Graças a Deus conseguimos ajudar muita gente, até de comunidades de São Paulo”.
Quem quiser ajudar a ONG Alimentando as Ruas e o projeto Fios Encantados, basta entrar em contato pelas mídias sociais das entidades.
Na Vila Real, em Várzea Paulista, moradores recebem as doações (Foto: Arquivo Pessoal)
Auxílio fundamental
Segundo o presidente da Rede Penssan, Renato Maluf, a pesquisa sobre a fome no Brasil traz algumas indicações e sugestões de ações a serem tomadas pelas autoridades públicas. A mais óbvia é que seja restituído o auxílio emergencial, “pelo menos com o mesmo valor do ano passado, ou seja, R$ 600”. Maluf disse acreditar que se a pesquisa fosse feita agora os dados poderiam ser piores. “É crucial que seja retomado o auxílio emergencial em um valor significativo”. Para Renato Maluf, o valor que está sendo dado esta semana não pode ser considerado uma política pública. Os valores variam de R$ 375 (para famílias chefiadas por mulheres) a R$ 150 (para quem mora sozinho).
Municípios
A Prefeitura de Várzea Paulista informou que o Fundo Social de Solidariedade de Várzea Paulista já arrecadou mais de uma tonelada de alimentos, por meio do projeto ‘Ação Solidária’. As doações acontecem durante a vacinação contra a Covid19 e em entregas espontâneas ao FUSS.
Arrecadação em Várzea Paulista continua e pode ser feita nos órgãos públicos indicados (Foto: PMVP)
Os alimentos não perecíveis e materiais de limpeza e higiene podem ser entregues na sede do Fundo Social: rua Pedro Poloni, 36, no Centro (ao lado da Prefeitura), de segunda à sexta, das 9h às 16h. Mais informações nos telefones 4596-9660 e (11) 95049-2902.
A Prefeitura de Campo Limpo Paulista informou que a gestão de Desenvolvimento e Assistência Social de Campo Limpo Paulista “agradece que esta ação de ONGs de Jundiaí se estenda para outros municípios, como Campo Limpo Paulista, principalmente nos dias de hoje”.
Itens arrecadados pela Prefeitura de Campo Limpo Paulista, durante a vacinação contra Covid (Foto: PMCLP)
Em nota, a prefeitura também destacou que está “fazendo os atendimentos pelos CRAS da cidade, diversas famílias estão sendo assistidas e também estamos com a campanha de vacinação solidária do município”.
A Prefeitura de Jundiaí informou que o Plano de Segurança Alimentar, lançado em abril do ano passado pelo Comitê de Enfrentamento ao Coronavírus (CEC), já fez a distribuição de mais de 56 mil cestas básicas para pessoas em situação de vulnerabilidade no município – das quais 11,5 mil somente no primeiro trimestre deste ano.
“Entre os beneficiários das cestas estão cerca de seis mil famílias, das quais cerca de cinco mil que já eram referenciadas pela rede socioassistencial do município, por já receberem benefícios como o Bolsa Família e Benefício de Prestação Continuada (BPC), além de outras novas mil famílias, impactadas pelos reflexos negativos da pandemia”, destacou, em nota.
Alimentos são doados por pessoas que foram vacinadas em Jundiaí: corrente do bem (Foto: PMJ)
A Prefeitura também lembrou que além das entregas de cestas nos equipamentos vinculados à Unidade de Gestão de Assistência e Desenvolvimento Social (UGADS) como as seis unidades dos Centros de Referência de Assistência Social (Cras), o poder público “conta ainda com o apoio de lideranças locais e associações de bairros, como os Vicentinos, para a identificação de novos beneficiários e locais de entrega”.
O poder público municipal destacou que conta ainda “com as doações de parceiros, como os supermercados Tauste, Boa, e outras empresas, que fizeram doações através da Rede Jundiaí de Cooperação (da Unidade de Gestão de Governo e Finanças)”.
“Houve também doações individuais para a campanha permanente de arrecadação do Fundo Social de Solidariedade e a colaboração do 12º Grupo de Artilharia de Campanha (GAC) para a montagem das cestas. A fim de reforçar a campanha permanente, o Fundo Social lançou ainda no fim de março a campanha de Vacinação Solidária. A proposta é que as pessoas que forem aos locais de imunização contra a Covid-19 com horário agendado possam, voluntariamente, doar alimentos não perecíveis para a montagem de novas cestas”, informou o Executivo.