Antes de atuar na rua, os cães que integram o canil da Guarda Municipal de Jundiaí passam por um longo processo: eles são adestrados e treinados por aproximadamente um ano e três meses.
Atualmente, quatro cães estão nessa fase de preparação – um deles, o Hammer, tem apenas dois meses e acabou de chegar no canil.
De acordo com o Inspetor Alceu Marestoni, para trabalhar no canil é primordial gostar de cães.
Além disso, “é o cão quem escolhe quem será seu treinador”, para que seja criado um vínculo entre os dois.
“Você vê a sincronia dos dois, o cachorro é apaixonado pelo seu treinador e condutor. E sem dedicação, esquece”, contou o responsável pelo canil, que diz que esse é um dos diferenciais que fazem o canil da GM de Jundiaí ser referência em todo o Brasil.
Cão Hammer é o mais novo integrante do canil (Foto: Tribuna de Jundiaí)
São quatro novos cães em treinamento: 2 pastores belgas malinois, a Kira, de 6 meses, e o Logan, de 1 ano e 1 mês; uma labradora, a Pandora, de 1 ano e três meses; e o mais novo de todos, o rottweiler Hammer, de dois meses.
Todos estão passando pelo mesmo processo, de adestração e treinamento. Dependendo da raça, é necessário incluir treinamento diferenciado, a fim de treiná-los da melhor forma de acordo com suas capacidades biológicas.
Os pastores belgas malinois, por exemplo, são ótimos com o faro. Já os rottweiler são cães para atuar na rua, em situações de guarda e proteção, como explicou o inspetor Alceu.
Com dois meses, Hammer já demonstra esperteza para atuar no canil (Foto: Tribuna de Jundiaí)
“O Hammer, por exemplo, será cão de guarda e proteção, para atuar no sentido de contenção de tumulto, em grandes eventos por exemplo. Já os pastores belgas malinois, além de fazerem esse trabalho, também são treinados para a detecção de entorpecentes. Há também cães que são bons na mordida”.
Logan, pastor belga malinois, será treinado para faro (Foto: Tribuna de Jundiaí)
Para o treinamento de faro, os adestradores colocam essência de entorpecentes em um brinquedo, que no início é apenas jogado para que o cachorro corra atrás. Depois de um tempo, o brinquedo passa a ser escondido e, assim, os guardas do canil vão treinando o olfato desses cães para a detecção de drogas.
Alceu diz que outro ponto muito importante é o de sempre ensiná-los de forma positiva. “Não adianta adestrá-los levando para o lado negativo. Vamos reforçar o ensinamento até o cachorro aprender. Quando ele aprender, ele ganha um biscoito, um carinho, enfim, um reforço positivo. Com isso, ele vai aprender que se fizer o comando corretamente, vai ganhar uma recompensa”.
Treinadores sempre ensinam por meio do reforço positivo (Foto: Tribuna de Jundiaí)
Esses novos cães chegaram para substituir outros que aposentaram. A corporação estipula uma média de 8 a 10 anos para que os cães aposentem.
Depois que deixam de atuar na Guarda Municipal, na maioria das vezes eles vão para a casa de seus condutores.
O vínculo entre condutores e cães é tanto que Alceu diz que muitos guardas vão fora do expediente visitar seus companheiros e, quando estão de férias, chegam até a levá-los. “É uma forma de fortalecer esse vínculo”, continuou.
Atuação na rua
Há, ainda, cães que são mais dóceis, voltados para cunho educacional. Um exemplo é o labrador Black, conhecido por levar alegria para as crianças internadas no Hospital Universitário por meio da “cãoterapia”. Já outro cão, da raça bloodhound, tem um bom faro para encontrar pessoas desaparecidas e foragidas.
“O cachorro fraciona odores, então ele sabe diferenciar o cheiro de cada coisa. É muito potente. No caso dos cães com bom faro, eles conseguem detectar drogas e, no caso do bloodhound, consegue detectar, pelo cheiro de alguma coisa da pessoa, se ela esteve naquele lugar. A partir disso, é possível fazer uma busca”, explicou o inspetor.
“Os cães fracionam os odores”, diz o inspetor (Foto: Tribuna de Jundiaí)
Atualmente são 16 cães no canil: 10 prontos para trabalho, 4 em treinamento e 2 aposentados. Do total, são 2 labradores, 2 rotweilleres, 1 bloodhound e 11 pastores belgas malinois.
Na rua, esses cães da Guarda Municipal atuam como ferramentas de trabalho daquilo “que o ser humano não pode fazer”, como definiu Alceu. Eles atuam nas rondas comunitárias e patrulhamentos, na prevenção e combate às drogas, além de situações como eventos, desfiles e atividades educacionais.
Depois de treinados, cães atuam como verdadeiras “ferramentas de trabalho” (Foto: Tribuna de Jundiaí)
Muitas vezes eles prestam apoio em operações da Polícia Civil, Militar e Rodoviária e, em alguns casos, até mesmo da Polícia Federal. “Damos todo o apoio em operações de mandados de busca e apreensão por exemplo”.
Em uma dessas operações, em 2009, o cão Athom fez a maior apreensão do Brasil de drogas: foram 9 toneladas de maconha em um caminhão que foi apreendido em Itatiba, em uma operação conjunta com a Polícia Rodoviária.
Reconhecimento nacional
Além desse recorde nacional, os cães do canil da Guarda Municipal de Jundiaí são referência em todo o Brasil e lideram várias competições na área.
Recentemente, os cães e seus condutores conquistaram dois pódios, em 1º e 2º lugar, no Torneio Ações Especiais K-9/edição 2019 – categorias Civil e Militar.
O evento é considerado o maior sobre cães policiais da América Latina e reuniu instituições de todo o país e também do Exterior.
“Somos referência nacional e frequentemente recebemos guardas e policiais de todo o Brasil para conhecer mais sobre nosso trabalho. Vamos também ministrar um curso aqui, em setembro, para condutores de vários estados. Isso se dá pelo trabalho que fazemos e pelo zelo que os condutores têm com os cães, essa sintonia. Além disso temos um enorme trabalho de equipe, com muito companheirismo”, finaliza o inspetor.