Mariana Janeiro reflete sobre racismo na política e no mercado de trabalho
Foto: Arquivo Pessoal

Neste Dia da Consciência Negra, nossa reportagem traz uma conversa com Mariana Janeiro, a primeira vereadora preta de Jundiaí. Mariana abordou o enfrentamento ao racismo tanto na política quanto no mercado de trabalho, além de destacar os desafios para a construção de uma sociedade mais igualitária.

Mariana Janeiro na política

Mariana ingressou na política com apenas 23 anos, motivada por um propósito transformador. “Quando engravidei do meu primeiro filho, entendi que a política partidária era um caminho para mudar a realidade que eu e outras mulheres se encontravam. E desde então, dediquei os meus estudos, minha força de trabalho e meu cotidiano para a construção da política no partido e nos movimentos sociais”, relembra.

Para ela, ocupar um espaço historicamente hostil às pessoas negras é uma forma de inspirar e abrir caminhos. “Acredito que a minha presença na Câmara pode impactar positivamente a representatividade das pessoas negras aqui na cidade, por um motivo bastante simples: mostrar que é possível ser negro, se saber negro e defender as nossas pautas em um espaço que, historicamente, é tão hostil conosco.”

Mariana Janeiro é eleita vereadora em Jundiaí
Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal

Mulheres Pretas na Política

Apesar de seu pioneirismo, Mariana enfatiza que ainda há muito a ser feito para criar espaço para mulheres pretas na política. “Em um espaço tão masculino e com o voto em mulheres sendo ainda bastante recente, acredito que não haja espaço suficiente na política para nenhuma mulher, especialmente para as negras”, afirma. Ela destaca que, embora mulheres negras sejam o maior grupo populacional do Brasil, sua representatividade política ainda é muito baixa. “Só vamos mudar esse cenário com mais políticas afirmativas de incentivo para mulheres e pessoas negras na política.”

Para quem deseja ingressar nesse campo, os desafios são inúmeros. Além das barreiras estruturais, como a dificuldade de acesso a direitos básicos, Mariana chama atenção para a falta de compreensão dos partidos políticos sobre questões raciais. “A falta de compreensão da maioria dos partidos políticos sobre as questões raciais, as frequentes fraudes às cotas raciais nas chapas e o baixo investimento em candidaturas negras são um dos principais desafios que podemos destacar”, pontua.

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Racismo na Política e no Mercado de Trabalho

Mariana enxerga similaridades entre o racismo na política e no mercado de trabalho. “É possível traçar um paralelo com a dificuldade de se inserir no mercado de trabalho e a dificuldade de se inserir na política: primeiramente, pela dificuldade de acesso aos direitos básicos; em seguida, os questionamentos frequentes sobre a capacidade de execução de tarefas importantes por pessoas negras”, analisa. Segundo ela, ambas as áreas são majoritariamente brancas, masculinas, competitivas e elitizadas, o que reforça barreiras para pessoas negras.

A luta por igualdade racial em Jundiaí

Ao avaliar o cenário de Jundiaí, Mariana lamenta a falta de avanços significativos na igualdade racial. “Os principais indicadores da cidade não indicam nenhum avanço significativo no combate ao racismo e igualdade racial, infelizmente”, destaca. Como exemplo, cita os alagamentos e a precariedade em regiões vulneráveis, habitadas majoritariamente por pessoas negras. Para a vereadora eleita, a solução exige uma mudança estrutural. “Falta vontade política e uma decisão firme de governo para que a RAÇA seja um elemento central presente em todas as formulações políticas, na teoria e na prática, em nossa cidade.”

Sobre o papel da representatividade, Mariana é enfática: “Ampliar e fortalecer a representatividade negra é importantíssimo na luta antirracista, porém não é tudo. Uma representatividade sem luta efetiva, sem defesa de pautas importantes, é uma representatividade oca, vazia. Não precisamos de mais mulheres trabalhando para aprovar leis que só favorecem aos homens, e não precisamos de pessoas negras que neguem o racismo, por exemplo. Precisamos de mulheres e de pessoas negras comprometidas de verdade com a vida de quem eles precisam e devem representar, pois sabemos o quão difícil é para nós chegarmos nesses espaços”, finaliza.

Mariana Janeiro é uma voz que inspira e evidencia a urgência do combate ao racismo em todas as esferas. Sua presença na Câmara de Jundiaí é um lembrete de que representatividade importa, mas também exige luta, comprometimento e transformação.