
O Brasil segue ocupando o topo do ranking mundial de transtornos de ansiedade, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Só entre janeiro e outubro de 2024, o Sistema Único de Saúde registrou mais de 671 mil atendimentos por ansiedade, um aumento de 14% em relação a 2023.
Em Jundiaí, a realidade não é diferente. A psicóloga Dra. Marcia Ramires, proprietária da clínica Viva Desenvolvimento Humano, observa que o fenômeno tem atingido com força o ambiente de trabalho.
“A forma que a gente está lidando às vezes é muito cruel. Quando perguntamos aos pacientes o que lhes traz prazer, a maioria não sabe responder, porque a vida pessoal e profissional já estão tão misturadas que a pessoa não se enxerga além do trabalho”, afirma.
Trabalho em excesso e cobrança contínua
O impacto da ansiedade no desempenho profissional é claro. A especialista explica que muitas pessoas estão “vivendo em estado de alerta constante”, o que causa queda de concentração, exaustão mental e perda de produtividade.
“A ansiedade tem causado muitos afastamentos e queda na performance dentro das empresas. Quando a gente se cobra demais para produzir muito, vem a sensação de falta de suficiência”, pontua Marcia.
Ela reforça que líderes e gestores devem ficar atentos aos sinais de esgotamento na equipe: “É importante identificar os primeiros indícios de exaustão para evitar afastamentos e prejuízos maiores.”
Luto e ansiedade têm uma ligação silenciosa
Além disso, a Psicóloga destaca a conexão entre ansiedade e luto, que vai além da perda de pessoas queridas. “As perdas simbólicas, como a de um emprego ou de um relacionamento, abalam o senso de segurança e controle da vida”, explica.
De acordo com Ramires, muitos casos de ansiedade podem estar ligados a lutos mal processados. “Já atendi pacientes que voltaram a ter crises de ansiedade após uma perda que não foi elaborada. Quando o luto é olhado de forma terapêutica, os sintomas diminuem consideravelmente.”
O papel das empresas e o autocuidado
Tanto para indivíduos quanto para organizações, o desafio é aprender a reconhecer os limites. “Precisamos recuperar o prazer, o descanso e o tempo livre como parte essencial da saúde”, enfatiza a Psicóloga.
Ela recomenda que empresas criem ambientes mais humanizados, promovam pausas, incentivem o diálogo sobre saúde mental e ofereçam apoio psicológico. Para os profissionais, o caminho inclui reconhecer sinais de esgotamento, buscar ajuda e não romantizar o excesso de produtividade.
“A ansiedade deixou de ser um problema individual e virou uma questão coletiva. Precisamos falar sobre isso e agir antes que o corpo e a mente cobrem a conta”, conclui.