
A vacinação contra Covid19 começou em janeiro de 2021, mas mesmo com o avanço da campanha, especialistas informam que é possível que o Brasil enfrente uma nova onda de infecções pela doença entre abril e setembro de 2022.
As informações fazem parte de uma projeção do Grupo de Pesquisa Interdisciplinar Ação Covid-19, que realizaram o estudo Possíveis cenários da pandemia no Brasil sob diferentes durações de proteção vacinal.
Essa pesquisa levou em consideração a taxa média de proteção das vacinas que estão sendo aplicadas no Brasil — CoronaVac, Janssen, AstraZeneca e Pfizer. Além disso, os pesquisadores analisaram uma eventual queda do nível dos anticorpos após 12 e após 18 meses.
O estudo também incluiu variáveis que podem causar um novo surto da doença, que impacte mais uma região do que outra. Assim, criaram o IPC (Índice de Proteção Covid19), que analisa a desigualdade social em diferentes locais. Também são vistos outros parâmetros, como a taxa de vacinação de estados e cidades, nível de isolamento social e densidade demográfica.
Flexibilização
Em conclusão, a pesquisa afirma que, sem uma “revacinação” no início de 2022, há a possibilidade de acontecer um novo surto de Covid19 entre abril e setembro, dependendo da duração da imunidade das vacinas. A flexibilização das atividades econômicas e de lazer também impactam no resultado.
“Já se observa no país a diminuição das medidas de prevenção, com retorno às atividades comerciais e às aulas presenciais, aglomerações em espaços de lazer, realização de festivais de música e eventos esportivos, o que amplia continuamente o risco de transmissão e surgimento de novas variantes, principalmente em cidades com baixo IPC, alta densidade e polos turísticos”, alerta o estudo.
Gerusa Figueiredo, epidemiologista, uma das autoras do estudo e professora do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo, reforça que nenhuma vacina tem 100% de proteção contra a doença. Assim, uma parte das pessoas imunizadas já está suscetível à infecção em um primeiro momento.
Ainda assim, com o passar do tempo, o risco de infecção ou reinfecção para quem já pegou o vírus ou quem já vacinou é maior. “Não é hora de decretar o fim da pandemia. É hora de retomar as atividades com o máximo de cuidado possível, monitorando a curva epidêmica”, afirma em comunicado a bióloga Beatriz Carniel, também autora do estudo.
Gerusa afirma que as flexibilizações no Brasil criam uma visão de que a vida voltará a ser como era antes da pandemia, mas isso não é verdade. “As pessoas precisam continuar utilizando máscaras e manter distanciamento.”
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Não está acabando
Em todo o mundo, cientistas entraram em um consenso de que a Covid19 é uma doença que ainda vai ficar por aqui.
Isso porquê, de acordo com o grupo Ação Covid-19, grande capacidade de mutação do vírus SARS-CoV-2 e a possibilidade de reinfecção tornam impossível a manobra de imunidade de rebanho. Com isso, vale imaginar que serão necessárias vacinações periódicas contra a doença.
“O que a gente colocou no modelo não foi um surto sazonal, foi um surto prevendo que acabe a imunidade. Ficando claro que é isso que vai acontecer, teremos que ter vacinações periódicas para não ter surtos sazonais”, disse o estudo.
A epidemiologista Gerusa diz que esta é uma discussão ainda complicada no Brasil. Até o momento, 41 milhões de adultos não tomaram nem uma dose e outros 61 milhões precisam tomar a segunda no país. Ela finaliza afirmando que precisamos “alcançar uma cobertura vacinal boa e homogênea”.