Um grupo de funcionários de empresas telemarketing de Jundiaí e região que continuam trabalhando diariamente procurou o Tribuna de Jundiaí para divulgar as condições sob as quais estão operando.
Não incluídos no decreto estadual do governador João Doria, os trabalhadores continuam ocupando seus postos de trabalho regularmente. Assim, cabe às empresas oferecer medidas de prevenção para conter a proliferação e contágio pelo novo coronavírus.
“Trabalhamos em salas extremamente lotadas, com cerca de 300 funcionários, mal ventiladas. Só houve abertura das janelas por insistência dos funcionários e em decorrência da quebra dos aparelhos de ar condicionados”, diz a nota enviada pelo grupo.
A falta de reposição de álcool em gel também é outra preocupação. De acordo com os trabalhadores, as estações de trabalho são divididas por repartições e o uso da máscara não foi indicado por dificultar o entendimento dos clientes durante o atendimento. Além disso, eles relatam o compartilhamento dos headphones ou headsets.
“Os atendimentos são feitos através dos headphones e após o fechamento das negociações, é necessário que outro funcionário faça o processo de finalização”, explica.
Por fim, os colaboradores continuam utilizando o transporte público e/ou fretado e, de acordo com eles, pessoas em situação de maior vulnerabilidade seguem se deslocando até a empresa, como mulheres grávidas, por exemplo.
“Não houve qualquer diálogo coerente entre os funcionários e os responsáveis pela empresa, para possíveis soluções ou reduções de danos a serem tomadas”, reforça o grupo.
Algumas empresas optaram somente pela redução da jornada de trabalho, geralmente com diminuição de uma hora, de acordo com os trabalhadores.
“Toda essa exposição e risco de contaminação em que estamos sendo submetidos pode não só nos afetar, como também prejudicar as pessoas que moram conosco. Muitos de nós moram com pessoas idosas, diabéticas, com doenças crônicas, que são as que apresentam maior risco”, finalizam.
Cenário nacional
Relatos como este também são compartilhados por outras cidades paulistas e Brasil afora.
Em Salvador, um operador de telemarketing disse que nenhuma medida tinha sido implantada para manter a distância entre os cerca de 250 funcionários que trabalham no mesmo andar.
“Eu trabalho em um módulo de quatro andares e só colocaram álcool gel na recepção do primeiro. Próximo a elevadores e nos demais andares não tem nada. Cada corredor tem de 10 a 12 postos de atendimento telefônico onde as pessoas sentam lado a lado, apertados, e com grande movimentação o tempo todo”, disse o funcionário à BBC News Brasil.
Em Osasco, na grande São Paulo, funcionários foram afastados com sintomas da Covid-19. Mesmo com reforço na limpeza, os operadores que restaram temes pela segurança de si mesmos e de suas famílias.
“Trabalhamos para uma seguradora. As pessoas nos ligam em situações difíceis e precisamos estar calmos. Toda essa situação está afetando nosso serviço porque estamos num constante pânico”, afirmou também à BBC.
Em São Bernardo do Campo, foi preciso que a Vigilância Sanitária do município intervisse. O órgão determinou a interdição de um escritório da Atento na cidade, alegando que unidade colaborava para a propagação do coronavírus. A empresa foi reaberta só depois de oferecer álcool em gel para os funcionários, afastar as mesas e permitem que que trabalhassem de casa todos que pudessem.
O que dizem as empresas
A Millennium Cobranças, em resposta ao Tribuna de Jundiaí, disse que os horários de trabalho foram alterados com o objetivo de reduzir a quantidade de colaboradores juntos simultaneamente.
Segundo a empresa, o espaçamento de 1 metro entre um colaborador e outro foi adotado, além da implementação de uma posição de atendimento vazia entre trabalhadores. A higienização do ambiente de trabalho foi intensificada.
“Como temos transporte próprio para nossos colaboradores, conseguimos também obedecer este distanciamento no trajeto de vinda para o trabalho e retorno para casa. Solicitamos para a empresa que nos atende na linha de ônibus fretados veículos que possuem janelas para que nossos colaboradores possam mantê-las abertas para a circulação do ar”, explicou a empresa. “Reduzimos a carga horaria diária, além de dispensar os funcionários mais cedo para evitar aglomerações e também alteramos os horários de pausa para evitar aglomerações no refeitório”, completou.
Questionados sobre a liberação de funcionários do grupo de risco, a Millennium informou que “todos os colaboradores de grupo de risco foram liberados do trabalho” e que “para as gestantes e grupo de risco foram concedidas férias coletivas ou home office”.
Sobre o álcool em gel, a empresa se manifestou: “sempre disponibilizamos álcool gel bem como todos produtos e materiais para higiene a nossos colaboradores, mesmo antes do inicio desta situação.
Intensificamos a oferta de todos os materiais e produtos de higiene, bem como as rotinas de higienização e limpeza do ambiente de trabalho.
Aumentamos o quadro de funcionários do setor de limpeza para manter a higienização diária necessária”. De acordo com a Millennium Cobranças, o álcool fica disponível nas mesas para utilização sem restrição.
Sobre o compartilhamento de objetos, a empresa disse que isso não ocorre. “Cada funcionário tem seu hed set (sic), e constantemente o local de trabalho é higienizado. Como conseguimos ajustar os horários de trabalho e alocar os colaboradores em posições alternadas, na mudança de turnos os colaboradores que chegam sentam nas mesas que estavam vazias, mitigando o compartilhamento de objetos de trabalho. Os aparelhos são higienizados diariamente por nossa equipe de limpeza”.
A FIS Brasil, que opera a empresa Fidelity, divulgou uma nota ao Tribuna de Jundiaí sobre suas normas de segurança e prevenção do novo coronavírus.
A FIS adotou medidas exaustivas para evitar o contágio entre os colaboradores dos seus sites. Dentre elas, aumentou o espaçamento dos postos de trabalho, e tomou várias ações para reduzir o adensamento nos sites: concedeu licença remunerada de até 30 dias aos 134 funcionários e prestadores que estão no grupo de risco (acima de 60 anos ou com doenças preexistentes); colocou em férias remuneradas 722 colaboradores desde o dia 24/03; liberou o home-office para 584 colaboradores e outras 150 pessoas em licença; está fazendo revezamento entre os funcionários das áreas de apoio operacional (50% trabalham numa semana e outros 50% em outra), entre outras medidas.
Em relação ao álcool-gel, a FIS disponibilizou 255 frascos e dispensers nas áreas operacionais, além dos que já existiam nos ambientes de trabalho. Intensificou o abastecimento de produtos de higiene nos sanitários, como sabão e papel-toalha, além de aumentar consideravelmente a limpeza e higienização nesse espaço, principalmente no revezamento dos turnos.
Outra medida importante foi melhorar a circulação do ar interno, com a abertura de portas e janelas, sempre que possível.
No tocante aos equipamentos, o headset é individual e deve ser higienizado pelo colaborador conforme as orientações das comunicações internas. Os demais equipamentos são limpos e higienizados a cada troca de colaborador no posto de atendimento.
Para todos os sites da FIS, o procedimento de limpeza consiste na limpeza das PAs (pontos de atendimento) conforme o revezamento aplicado pelo distanciamento social; aumento do quadro da equipe de limpeza sendo que parte desta equipe está dedicada à higienização das PAs nas operações, podendo inclusive realizar a higienização de PA que necessitar de troca de operador; onde ocorrer a troca do turno, um número maior de equipe de limpeza está de prontidão e executa a higienização imediata, no intervalo do término e início da nova jornada de trabalho; e foram disponibilizados nas operações borrifadores com álcool 70% e panos descartáveis para limpeza extra das PAs.