
A baixa adesão à doação de órgãos no Brasil continua sendo um grande desafio para profissionais de saúde, instituições hospitalares e, principalmente, para os milhares de pacientes que aguardam por um transplante. Nesse cenário, a atitude solidária de uma família atendida pelo Hospital de Caridade São Vicente de Paulo (HSV), que autorizou a doação de órgãos neste domingo (25), se destaca como um exemplo inspirador de amor ao próximo.
Segundo dados da Revista Brasileira de Transplantes, publicada pela Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), a recusa familiar à doação chegou a 43% apenas no primeiro semestre de 2024. Esse índice revela como iniciativas de conscientização e exemplos positivos são essenciais para mudar esse quadro.
Quarta captação de 2025 é realizada com sucesso no HSV
O procedimento marcou a quarta captação de órgãos realizada pelo hospital neste ano. Foram captados os rins de um paciente de 54 anos. Nessas situações, cada minuto é crucial para que os órgãos cheguem em perfeitas condições aos pacientes que aguardam, com esperança, a oportunidade de uma nova vida.
O paciente, em vida, manifestava o desejo de ser doador, e sua família, com respeito e generosidade, decidiu honrar essa vontade. Esse gesto não apenas transforma vidas, mas também serve como exemplo para fortalecer a cultura da doação no Hospital, reconhecido como ‘Hospital Amigo do Transplante’, mas que ainda enfrenta um número reduzido de autorizações.
Queda nas captações: um reflexo da resistência familiar
Em 2023, o HSV realizou 11 captações, com um total de 35 órgãos e 266 córneas captadas. Em 2024, até o momento, foram 6 captações, somando 17 órgãos e 154 córneas. A redução de 45% está diretamente ligada ao aumento das recusas familiares.
A enfermeira líder da Comissão Intra-Hospitalar de Transplantes do HSV, Raíssa Gabriela Fileli, explica:
“O principal motivo que leva à recusa é a falta de conhecimento da família sobre a vontade do ente querido. Por isso é importante reforçar o diálogo: sabemos que é difícil falar sobre morte e perda, mas é necessário para a tomada de decisão nesse momento de sofrimento. A doação de órgãos é a esperança de muitas pessoas, é um ato de amor. Um único doador pode salvar até oito vidas”, afirma.
Como funciona a doação de órgãos no Brasil
O processo de doação de órgãos e tecidos no Brasil é rigoroso e segue protocolos estabelecidos para garantir a segurança e a ética. Todas as pessoas que aguardam um órgão são cadastradas no Cadastro Técnico Único (CTU), que organiza a fila conforme o tempo de espera e permite que os pacientes acompanhem sua posição em tempo real.
“Todas as pessoas que estão no aguardo de um órgão são cadastradas em um sistema nacional, chamado Cadastro Técnico Único (CTU), que as organiza conforme o tempo de espera. O CTU permite que as pessoas em fila acompanhem sua posição em tempo real”, explica Raíssa.
Após o diagnóstico de morte encefálica, feito por três médicos independentes que não pertencem à equipe de transplantes, é realizada uma avaliação clínica para confirmar a possibilidade de doação. Em seguida, acontece a entrevista com os familiares, esclarecendo dúvidas e apresentando a opção da doação.
A autorização para a doação deve ser concedida por um familiar de 1º grau ou, na ausência destes, de 2º grau. Em casos judicializados, o tutor legal pode autorizar. Para menores de idade, é obrigatória a autorização de ambos os pais, independentemente da formação familiar.
Autorização eletrônica: mais um recurso para incentivar a doação
Desde 2024, está disponível no Brasil a Autorização Eletrônica de Doação de Órgãos (AEDO), parte da campanha “Um Só Coração”, iniciativa do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em parceria com os cartórios do país. O documento é emitido digitalmente após confirmação presencial ou por videoconferência em cartório.
“O documento não substitui a autorização familiar, que segue sendo a única maneira prevista em Legislação para autorizar a doação de órgãos, mas é mais uma ferramenta que auxilia na decisão da família”, destaca Raíssa.
A importância de falar sobre a doação em vida
O exemplo recente no HSV evidencia como o respeito à vontade do ente querido pode transformar vidas. Raíssa reforça:
“Que o gesto solidário dessa família sirva de motivação para que mais pessoas se reconheçam doadoras de órgãos e informem suas famílias. Além de fazerem a vontade do ente querido que partiu, esses familiares estão proporcionando uma nova vida aos pacientes que receberão a doação”.
A doação de órgãos é um ato de amor e generosidade, que depende fundamentalmente do diálogo familiar. Informar sobre esse desejo pode ser a diferença entre a continuidade ou não de muitas vidas.
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