Aos 17 anos, Yasmin Fleming se viu com uma filha recém-nascida e com responsabilidades que nunca havia experimentado antes. Enquanto os amigosingressavam na faculdade e investiam nos estudos, ela precisou trabalhar para oferecer o melhor à filha.

“Eu via que todo mundo me olhava com muita pena, como se eu realmente não fosse ter nenhum tipo de futuro”, comenta Yasmin, hoje com 23 anos. O fato de frustrar expectativas de outras pessoas e receber comentários negativos somado a problemas diários, levou a jovem mãe a desenvolver um quadro depressivo grave.

Naquele momento, Yasmin chegou ao extremo e encontrou o suicídio como oportunidade para amenizar a dor.

Na primeira tentativa de tirar a própria vida, o pai a encontrou caída dentro de casa e a levou para um hospital particular da região. “Eu me lembro de que quando eu estava começando a acordar, todo mundo no hospital me tratava com muito desdém, como se falando ‘nossa, menina, você poderia estar fazendo algo melhor com a sua vida!’”, relembra.

Maria Cristina, voluntária do Centro de Valorização da Vida, o CVV, diz que a discriminação, os estigmas e os preconceitos são extremamente graves para as pessoas com doenças mentais e são como um fator que contrário aos tratamentos adequados e necessários. Ela reforça a importância de entender a tentativa de suicídio como consequência de uma doença. “Doenças graves levam à morte e isto também ocorre com as doenças mentais graves”, explica.

O tratamento que Yasmin recebeu devolveu seus batimentos cardíacos, mas não a trouxe de volta à vida.

“Se eu já me sentia mal, naquele dia no hospital eu me senti muito pior”.

Depois de um tempo, mesmo já medicada com antidepressivos, Yasmin tentou por mais uma vez tirar a própria vida. Internada em outro hospital, dessa vez em Campinas, ela recebeu apoio de um psicólogo. “Eu me senti mais acolhida”, conta a jovem.

A mudança de vida aconteceu quando ela se sentiu desafiada a provar para todos que ela não merecia os comentários de pena e dó.

“Eu não tenho vergonha de dizer que eu tirei forças para provar que não era aquela pessoa. A minha motivação foi mostrar para todo mundo que eu poderia sair daquilo e poderia ser melhor do que qualquer pessoa já imaginou”, confessa.

Hoje, Yasmin é empresária e mãe da pequena Alice. Como qualquer outro ser humano, ela continua tendo suas dificuldades. Mas, depois de ver o pior lado da vida, ela não tem mais medo algum. “Talvez se eu não estivesse passado por tudo isso, eu não estaria onde eu estou hoje”, conta.

“A força fica dentro da gente o tempo todo. É muito difícil de encontrar, principalmente quando ninguém mais acredita em você, mas saiba: eu acredito”.

Prevenção

Yasmin defende que tão importante quanto abordar o tema de maneira franca, que é o que ela faz em suas redes sociais, investir em tratamento de qualidade e acessível é fundamental.

Em Jundiaí, pelo Sistema Único de Saúde (SUS), o cidadão pode procurar por ajuda nas Unidades de Pronto Atendimento do município, no Hospital Universitário, no Consultório na Rua (99825-8372), na Enfermaria de Retaguarda de Saúde Mental ou em algum dos CAPS (4521-1132 / Infância e Juventude: 4522-0672/ Álcool e outras Drogas: 4522-6898).

Pessoas de todo o Brasil que estejam passando por sofrimento emocional podem entrar em contato com CVV em qualquer hora do dia, por telefone, e-mail ou chat. Ligue 188 ou acesse o site.