
Hoje, 21 de setembro, o país celebra o Dia da Árvore, data que, por ironia do destino – ou não – acontece em período crítico para o meio ambiente brasileiro. O Tribuna de Jundiaí conversou com Thiago Pinto Pires, Engenheiro Florestal e Servidor Público do Jardim Botânico de Jundiaí, para saber mais sobre as consequências das queimadas para os ecossistemas, animais e seres humanos a curto e longo prazo.
Os incêndios florestais, um problema cada vez mais recorrente no Brasil, estão intimamente ligados ao aquecimento global. O aumento gradual das temperaturas da atmosfera e dos oceanos, um fenômeno global, está provocando mudanças climáticas significativas em diversas regiões do planeta, incluindo o Brasil.
“Basicamente, o planeta está ficando mais quente e esse efeito de aumento de temperatura tem provocado alguns transtornos em todas as regiões do planeta”, explica Pires. Uma das consequências mais evidentes é a intensificação de eventos climáticos extremos, como secas mais prolongadas e ondas de calor mais frequentes.
“Regiões como Jundiaí, por exemplo, que no passado raramente tinha a temperatura acima de 35°C, agora já é mais fácil observar isso ao longo do ano. A gente vê essas ondas de calor e tudo isso têm favorecido, aqui no Estado de São Paulo e no interior do Brasil, um aumento na intensidade da seca”, destaca.
O ciclo vicioso do fogo e do aquecimento global
Os incêndios florestais intensificam o aquecimento global e, consequentemente, aumentam o risco de novos incêndios, criando um ciclo vicioso. A vegetação queimada libera grandes quantidades de gás carbônico, um dos principais gases do efeito estufa, para a atmosfera.
“Tudo isso vai para a atmosfera e fica em suspensão até que aconteça uma chuva. Esses gases que estão em suspensão voltam para a terra e tudo isso é muito poluente e aumenta também a temperatura da atmosfera. É um ciclo vicioso: o aquecimento global provoca a seca, a seca aumenta as chances de incêndio, o incêndio aumenta a incidência de gás carbônico na atmosfera e esse gás aumenta ainda mais a temperatura”, explica o especialista.

Ação humana como fator determinante
Apesar das condições climáticas favoráveis à propagação do fogo, é importante ressaltar que a maioria dos incêndios florestais tem origem em ações humanas. “Todos esses incêndios que têm acontecido, principalmente agora em setembro e agosto, são incêndios criminosos”, afirma Pires.
O engenheiro ambiental explica que, embora a ocorrência natural de incêndios causados por raios seja possível, a ausência de chuvas suficientes indica que os incêndios recentes são, em sua maioria, provocados por ação humana. “Se não tiver o start da pessoa ir lá e colocar o fogo, ele não ‘pega’ sozinho nessa época do ano. Por uma razão que a gente nem sempre conhece, as pessoas ateiam fogo na vegetação, em pastagens, e isso tem acontecido de forma recorrente.”
Ecossistemas, biodiversidade e saúde
Os ecossistemas brasileiros apresentam diferentes graus de vulnerabilidade ao fogo. Enquanto o Cerrado possui espécies adaptadas a incêndios periódicos, a Mata Atlântica, a Amazônia e o Pantanal são ecossistemas mais sensíveis.
“Um incêndio que acontece na região central do Brasil, onde é Cerrado, é menos prejudicial para as árvores e para a vegetação do que um incêndio que ocorre na Amazônia, na Mata Atlântica ou no Pantanal”, destaca Pires. As árvores desses ecossistemas, não adaptadas ao fogo, morrem em grandes quantidades, reduzindo a biodiversidade e comprometendo a capacidade de regeneração das florestas.
Além dos problemas relacionados ao meio ambiente, as queimadas impactam diretamente a vida na Terra. Esses ecossistemas funcionam como o lar de animais selvagens e silvestres. Durante um período com muitas queimadas, como presenciamos há pouco, animais que vivem nestes locais morrem no incêndio ou têm uma vida mais curta, devido à dificuldade de encontrar alimento, água ou abrigo na região devastada pelas chamas. “Esses animais vão morrer, não vai ter uma outra solução, porque eles se alimentam dessas árvores que também servem de abrigo para eles.”
De acordo com o engenheiro ambiental, a fumaça proveniente dos incêndios florestais contamina o ar e agrava problemas respiratórios, como bronquite, rinite e sinusite. A perda de cobertura vegetal também contribui para o aumento das temperaturas nas cidades e reduz a umidade do ar. Imagine todo o volume de árvores que foram queimadas, esse volume sobe para a atmosfera e fica no ar, o mesmo ar que respiramos todos os dias. Não tem como isso ser bom.


Dia da Árvore: importância da arborização e prevenção
Para reverter esse cenário, é fundamental investir em ações de reflorestamento e prevenção de incêndios. “O que é necessário hoje seria o plantio de árvores em uma grande escala, não só nas áreas urbanas mas também em áreas rurais”, defende o engenheiro ambiental.
“Corporações de bombeiros e brigadas não estão dando conta de apagar esses incêndios, então é necessário criar tecnologias e ter um incentivo para o controle de incêndio no futuro”, alerta Pires. Ele também ressalta que é preciso conscientizar a população sobre a importância da preservação ambiental e os riscos de provocar incêndios.