A audiência pública on-line da Prefeitura de Jundiaí para discussão do Plano Municipal de Mobilidade Urbana, realizada na manhã desta quinta (15), trouxe situações que os jundiaienses já conhecem há anos.
O estudo apresentado mostrou desafios que o poder público tem em relação à melhoria da acessibilidade e da valorização das rotas caminháveis, a saturação de alguns terminais de ônibus e a redução do número de passageiros, pontos de estrangulamento no trânsito que em alguns anos podem se transformar em grandes congestionamentos e as pouquíssimas opções de ciclovias na cidade.
Segundo dados de 2020, Jundiaí conta com uma frota de 337,6 mil veículos – 78% deles são automóveis e 16% motocicletas. E que se nada for feito até 2030, a cidade sofrerá consequências em relação à mobilidade. O número de acidentes e de mortes no trânsito local também foi destaque, inclusive com uma campanha de conscientização já iniciada pela Prefeitura neste ano.
Aloysio Queiroz, gestor de Mobilidade e Transporte, conduziu a audiência (Foto: Reprodução/Facebook)
O trabalho foi conduzido pelo gestor de Mobilidade Urbana e Transporte, Aloysio Queiroz, com a participação de diretores e técnicos da Prefeitura, além da consultoria contratada pelo município para auxiliar na elaboração do plano.
Os gestores de Planejamento Urbano e Meio Ambiente, Sinésio Scarabello Filho, de Infraestrutura e Serviços Públicos, Adilson Rosa, e de Governo e Finanças, José Antônio Parimoschi, fizeram parte da audiência, assim como o presidente da Câmara Municipal, Faouaz Taha (PSDB), e o promotor de Justiça Claudemir Battalini.
De acordo com a Prefeitura, a audiência pública marca a finalização da primeira etapa do Plano de Mobilidade Urbana de Jundiaí, que focou no diagnóstico e análise prévia da atual situação. Outras duas etapas serão realizadas até dezembro deste ano, quando o projeto de lei deve ser criado.
A segunda audiência pública está prevista para junho, já com a elaboração das propostas apresentadas pela população nesta segunda etapa. “Essa discussão é necessária, pois envolve a cidade que todos nós desejamos, mais caminhável, com acessibilidade e modais que não sejam os motorizados para se locomover. A participação mostra o desejo de fazer a ocupação dos espaços públicos de maneira ordenada”, declarou o prefeito Luiz Fernando Machado (PSDB).
Calçadas
De acordo com o estudo feito, foram identificadas 14 rotas caminháveis mais utilizadas na cidade, que abrangem a região central e áreas centrais de alguns bairros. Esses locais foram avaliados pelas pessoas e tiveram notas que variaram entre 7,6 para edificações/sensações (maior nota) e 5,8 para sinalização (menor nota).
Os melhores trechos, segundo a pesquisa, estão entre o terminal Colônia e o Centro, passando pela avenida dos Imigrantes Italianos, e do terminal da Vila Rami pela rua Bom Jesus de Pirapora, rua Cica e adjacências.
Os piores trechos indicados no estudo estão na rua Adelino Martins, no Jardim Tulipas, e nas ruas Oswaldo Cruz e Carlos Gomes, na Ponte São João.
A pesquisa apontou ainda que 42% das calçadas avaliadas têm largura entre 1,50m e 2,50m e que em 62% delas não há guias rebaixadas para garantir a acessibilidade.
Ciclovias
O atual Plano Cicloviário de Jundiaí aponta uma estimativa de 174 quilômetros de espaços destinados à locomoção de ciclistas, mas atualmente só existem oito quilômetros – outros 56,7 quilômetros de ciclovias constam apenas em projetos.
Obra da nova ciclovia na avenida Luiz Latorre, que terá três quilômetros e interligações (Foto: PMJ)
O uso da bicicleta, num estudo realizado em 2014, apontou 24,4 mil viagens diárias – 38% delas feitas por motivo de trabalho. Em cinco pontos identificados pela Prefeitura como de maior demanda deste modal, não há estrutura cicloviária – um deles é a avenida Antônio Frederico Ozanam. Em contrapartida, a maior ciclovia de Jundiaí, que fica na avenida Antônio Pincinato, tem um fluxo baixo de utilização.
Segundo Sinésio, o poder público tem total interesse de investir em novas ciclovias e também na melhoria de calçadas. “Existe a ciclovia para o lazer, como as que vão para parques e estradas rurais, e para quem está interessado em usar como meio de transporte no dia a dia, para trabalho e estudo. Como priorizar? A resposta deverá ser facilitada com a conclusão do Plano de Mobilidade, que vai apontar isso. O município tem o propósito de ampliar as ciclovias e as calçadas, mas isso precisa de recursos. O viaduto das marginais do córrego das Valquírias é um exemplo disso, aproveitando a oportunidade de quando se implanta uma nova obra já incluir trechos como de ciclovia. Neste momento, está em execução na Luiz Latorre uma ciclovia que vai ter interligação com outras”.
Transporte coletivo
Das perguntas feitas pelas pessoas que acompanharam a audiência pública, a maioria estava relacionada ao transporte coletivo.
Por dia, segundo a apresentação feita pela Prefeitura, são 104 mil passageiros, de segunda à sexta, no transporte coletivo municipal. O maior pico é das 6h às 7h, com 11,6 mil embarques no sistema.
Prefeitura vai reorganizar o sistema de transporte coletivo: reclamações (Foto: PMJ)
O estudo apontou que nos últimos sete anos houve redução de 17% do total de passageiros. A saturação dos terminais mais utilizados na cidade, como o da Vila Arens e do Centro, também foi apresentada.
Quem acompanhava a audiência reclamou das superlotações, pediu mais linhas de ônibus, limpeza dos veículos e até a sugestão para que Jundiaí utilize ônibus elétricos para contribuir com o meio ambiente.
“Estamos fazendo um trabalho de replanejamento do transporte coletivo. Nossa preocupação é com o distanciamento social, uso da máscara e álcool em gel, isso está sendo trabalhado pelas equipes e levado para os usuários nos terminais. Nosso objetivo é que as linhas sejam mais eficientes, para que as pessoas permaneçam nos terminais o menor tempo possível”, disse o gestor Aloysio Queiroz.
Ministério Público
Claudemir Battalini ressaltou a importância da elaboração do plano para o desenvolvimento do município. “Na administração anterior a essa, foi apresentado um plano de construção de BRT num projeto de mais de R$ 150 milhões e que iria atender apenas uma parte da cidade, sem o planejamento do município como um todo. Recebemos a denúncia e entramos com ação contra aquela gestão, porque isso precisa ser discutido com a sociedade, como é o que está sendo feito agora”, disse.
Promotor faz sugestões para trânsito melhor e valorização do comércio (Foto: PMJ)
O promotor falou também sobre o Vetor Oeste, que tem sofrido com problemas viários. “Houve um crescimento acelerado de condomínios naquela região do Eloy Chaves e que aumentou o uso das rodovias como acesso, principalmente nos horários de pico. O Ministério Público tem acompanhado isso e cobrado os órgãos estaduais para exigir das concessionárias a melhoria necessária, mas o município tem de participar também com vias alternativas para essa região. É preciso cobrar dos novos empreendimentos as contrapartidas que possam viabilizar essas vias alternativas ou segurar o desenvolvimento dessa região até que tenhamos uma melhor condição”.
Ele também deu sugestão de valorizar os comércios regionalizados, descentralizando a oferta de produtos e serviços para qualificar os bairros, incentivar a geração de emprego e renda e auxiliar na sustentabilidade.