O Ministério da Justiça da Itália encaminhou ao Brasil o pedido de extradição do atacante Robinho, condenado por nove anos de prisão por violência sexual no país europeu. O pedido havia sido feito em fevereiro pelo Ministério Público de Milão, e enviado oficialmente agora às autoridades brasileiras.
A notícia foi divulgada pela agência italiana Ansa e reproduzida por veículos locais, que enfatizam que o Brasil não aceita a extradição de seus cidadãos, mas que a pode permitir que o jogador seja preso caso decida deixar o país rumo a outros destinos.
Robinho foi condenado por violência sexual contra uma jovem de 23 anos em uma boate em Milão, em janeiro de 2013, junto a seu amigo, Ricardo Falco. O Supremo Tribunal da Itália confirmou em janeiro deste ano a decisão do Tribunal de Justiça de Milão, tomada no fim de 2020.
O julgamento foi realizado em 19 de janeiro, na Corte de Cassação de Roma, o equivalente ao Supremo Tribunal Federal no Brasil. Na época, o Robinho e seus advogados apresentaram o último recurso, que foi negado pela corte italiana.
Os dois foram arrolados no artigo “609 bis” do código penal italiano, que dita sobre a participação de duas ou mais pessoas reunidas para o ato de violência sexual, forçando alguém a manter relações sexuais por sua condição de inferioridade “física ou psíquica”.
A vítima diz que foi embriagada e abusada sexualmente por seis homens enquanto estava inconsciente. Os defensores dos brasileiros dizem que a relação foi consensual.
Além da condenação de nove anos, Robinho também terá de pagar uma indenização de 60 mil euros, cerca de R$ 372 mil.
O caso
Robinho e Ricardo Falco foram condenados em primeira instância por violência sexual de grupo, em novembro de 2017, contra uma mulher albanesa. O caso aconteceu numa boate de Milão chamada Sio Café, na madrugada do dia 22 de janeiro de 2013, quando o jogador defendia o Milan, da Itália.
Outros quatro brasileiros teriam participado do ato. Como deixaram a Itália no decorrer das investigações, eles não foram acusados, sendo apenas citados nos autos.
A vítima foi com a amiga naquela noite à boate – a violência aconteceu dentro do camarim do local – para comemorar seu aniversário de 23 anos. No final desta semana, ela completará 32.
Desde a denúncia do estupro coletivo há nove anos, a Itália viu dezenas de episódios parecidos ganharem destaque, alguns envolvendo até filhos de políticos. Os acusados, segundo um balanço do judiciário realizado pelo equivalente ao IBGE italiano, são majoritariamente jovens entre os 20 e 25 anos (Robinho tinha 29 anos quando foi acusado do crime).
Em outubro de 2020, o ge publicou com exclusividade as interceptações realizadas contra Robinho e seus amigos com a autorização da Justiça, escutas foram instaladas até no carro que o jogador usava no país europeu.
As gravações, que foram transcritas na sentença inicial, confirmaram a versão da vítima de que houve violência sexual cometida por seis homens contra uma mulher que estava alcoolizada e inconsciente. “A mulher estava completamente bêbada”, disse Robinho em uma das conversas gravadas.
A primeira condenação do ex-jogador do Santos e de Ricardo Falco data de novembro de 2017. Na época, Robinho jogava no Atlético-MG. Ele deixou a Itália em 2014, quando já tinha sido convocado a depor no inquérito que apurava o crime. O jogador negou a acusação, porém confirmou que manteve relação sexual com a mulher, reforçando que ela foi consensual e sem outros envolvidos. No caso de Falco, uma perícia encontrou a presença de seu sêmen nas roupas da jovem.
No julgamento realizado na segunda instância, em dezembro de 2020, a corte de Apelação de Milão manteve a condenação inicial de nove anos de prisão. Responsáveis pela sessão, as três juízas destacaram o “particular desprezo” de Robinho com a vítima que foi “brutalmente humilhada”. Além disso, elas também consideraram a tentativa de enganar a Justiça italiana com uma “versão dos fatos falsa e previamente combinada” com os outros envolvidos.
Depois do Atlético-MG, Robinho passou por dois clubes turcos: Sivasspor e Istambul Basaksehir. Em outubro de 2020, chegou a ser anunciado pelo Santos, mas não entrou em campo pelo clube, já que teve seu contrato suspenso e posteriormente encerrado.
Reconstituição do crime
Na reconstituição feita pela Justiça, a vítima de origem albanesa contou que foi ao Sio Café em 21 de janeiro de 2013 para comemorar seu aniversário de 23 anos ao lado de duas amigas. No dia, a programação da boate era dedicada à música brasileira.
Ainda segundo o depoimento, na noite do episódio, a vítima disse que foi ao local convidada por um dos amigos do Robinho, mas que, por SMS, ele a informou que ela só deveria se aproximar da mesa depois que a mulher do jogador fosse embora.
Assim que isso aconteceu, ela e duas amigas se juntaram ao grupo de brasileiros, que depois passou a ter também a presença de Ricardo Falco. Segundo a vítima, os brasileiros ofereceram várias bebidas alcoólicas, mas apenas ela bebia, pois uma das amigas estava grávida e a outra estava dirigindo.
Por volta de 1h30 da madrugada, as duas amigas foram embora, e uma delas se comprometeu a voltar para buscá-la. Depois de dançar com os brasileiros, sem ar e tonta, ela contou ter ido para uma área externa da boate, momento em que um dos amigos do jogador tentou beijá-la. Pouco depois, os dois foram para o camarim, onde o mesmo amigo continuou tentando beijá-la.
A vítima admitiu ter apenas “alguns flashes daquela noite”, acrescentando que não tinha condições de “falar” nem de “ficar em pé”. Segundo suas recordações, ela ficou no local sozinha por alguns minutos e “percebeu” que o mesmo amigo e Robinho estavam “aproveitando” dela.
Diversas gravações de ligações telefônicas entre os acusados, feitas com autorização da Justiça, foram transcritas na sentença. Uma das mais decisivas para a condenação em primeira instância foi uma conversa de Ricardo Falco com Robinho que indicou ao tribunal que os envolvidos tinham consciência da condição da vítima.
O único dos presentes na boate em Milão que começou a cumprir a pena aplicada pela Justiça é o músico brasileiro Jairo Chagas, que vive na Itália há anos e que naquela noite de 2013 tocava no Sio Café. O crime teria ocorrido no camarim dele, conforme a reconstituição feita pela Procuradoria.
Ele foi condenado por falso testemunho à justiça italiana. Em uma das gravações interceptadas, Jairo diz a Robinho por telefone que viu quando o jogador “colocava o pênis dentro da boca dela”. No depoimento, porém, o músico disse que não viu cenas de sexo naquela noite.
Entre 2018 e agosto de 2021, ele fez serviço comunitário uma vez por semana cuidando de idosos numa casa repouso e limpando praças e creches na região de Milão.