A insensata troca de progresso por juros
Conecte-se conosco

Opinião

A insensata troca de progresso por juros

Artigo escrito por Rafael Cervone, presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (CIESP)

Publicado

em

Atualizado há

Foto: CIESP/Divulgação

Os juros elevados têm sido um obstáculo ao fomento da indústria brasileira, contradizendo a lógica mundial referente ao papel do setor no progresso das nações. Distintos estudos demonstram que somente as economias que promoveram forte desenvolvimento manufatureiro conseguiram crescer de modo sustentado mais de 3% ao ano. Afinal, a atividade é geradora intensiva de empregos, paga os salários médios mais elevados, cria e provê tecnologia e exporta bens de alto valor agregado.

Ademais, considerando que a grande maioria dos itens de consumo nasce no chão de fábrica, os ganhos de competitividade em termos de crédito com juros menores e menos impostos proporcionariam oferta maior para o mercado interno, com menor pressão inflacionária. Também haveria mais excedentes exportáveis.  

Parte dos ônus que ferem a manufatura está sendo equacionada, com a reforma tributária aprovada na Câmara dos Deputados, que reduz a assimetria da taxação, prejudicial ao setor, e o programa de neoindustrialização do governo, que já soma R$ 106 bilhões, incluindo recursos para produção e inovação. Porém, sem desconsiderar a necessidade da reforma administrativa, mais segurança jurídica e pública e melhor infraestrutura, fatores impactantes do “Custo Brasil”, é crucial solução urgente para o gargalo dos juros.

Os danos do problema são demonstrados em estudo do Departamento de Competitividade e Tecnologia (Decomtec) da Fiesp: se tivéssemos os mesmos juros reais da África do Sul, Chile, Indonésia e México, países emergentes nos quais as taxas já são bastante altas, o custo de financiamento do capital de giro da indústria brasileira, de R$ 71,5 bilhões em 2022, cairia para R$ 37,6 bilhões. Os R$ 33,9 bilhões de diferença correspondem a quase 98% dos gastos com atividades internas de pesquisa e desenvolvimento. Ou seja, poderíamos praticamente duplicar o aporte de recursos nessas rubricas se não fôssemos agredidos por um custo de dinheiro que flerta com agiotagem.

Para pessoas físicas, os juros referentes ao crédito somaram R$ 46,7 bilhões, mas se tivéssemos a mesma taxa média dos países citados, seriam de R$ 15,6 bilhões, ou R$ 31,1 bilhões a menos. A demanda de consumo resultante dessa diferença geraria 123,5 mil postos de trabalho nas fábricas.

A soma dos valores dos juros pagos a maior pela indústria e as famílias alcançou R$ 65 bilhões em 2022. Para dimensionar o que isso significa em termos práticos, fiz uma comparação interessante, para não dizer assustadora:  o montante é equivalente ao orçamento do Governo do Rio Grande do Sul no ano passado, o sexto do País, atrás apenas da União, estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro e a prefeitura paulistana.

Esse é o resultado absurdo da Selic média nominal de 12,63% em 2022, mais spread de 3,1% para indústrias de grande porte, 10% para as pequenas e médias e 39,6% para pessoas físicas. É uma distorção prejudicial a investimentos decisivos para a competitividade do Brasil. Não podemos continuar preterindo desenvolvimento e beneficiando o aluguel de dinheiro.

Artigo por Rafael Cervone, engenheiro, empresário e presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (CIESP).

Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam necessariamente as ideias ou opiniões do Tribuna de Jundiaí.

Opinião

Opinião por Miguel Haddad: Inundações no RS e o papel das cidades na luta contra o desequilíbrio do Clima

Publicado

em

Por

Visão aérea de Porto Alegre - RS alagada
Foto: Gustavo Mansur/ Palácio Piratini

O Rio Grande do Sul sofre nos últimos dias pela série de inundações devastadoras, resultantes das incessantes chuvas que assolaram a região. Com mais de uma centena de vítimas fatais e milhares de desalojados, estas enchentes se tornaram o pior evento climático da história do estado, desencadeando uma discussão urgente sobre os fatores que contribuíram para essa catástrofe e como…

Continuar lendo

Opinião

A corrupção é uma tempestade permanente e contribui diretamente com o caos provocado pelos desastres naturais

Artigo por Everton Araújo, brasileiro, economista e professor universitário

Publicado

em

Por

Foto: Gustavo Mansur/ Palácio Piratini

Os Desastres Naturais são fenômenos que geram impactos nas sociedades humanas trazendo consequências graves para as pessoas. Obviamente muitos desses representam o ciclo natural da terra e ainda a ciência não desenvolveu instrumentos precisos de previsibilidade, para ajudar a amenizar os impactos sobre a vida e a economia. Atualmente, alguns eventos climáticos têm aumentado de maneira significativa, e os cientistas levantam hipóteses…

Continuar lendo

Opinião

Agência Moody’s confirma a recuperação da credibilidade da economia brasileira

Artigo por Everton Araújo, brasileiro, economista e professor universitário

Publicado

em

Por

Foto: Canva

As últimas décadas do século XX foram determinantes para a modelagem da ordem mundial vigente e a acumulação financeira condicionando à produtiva e dando origem a um tipo de capitalismo com menor dinamismo e maior instabilidade quando comparado ao sistema vigente no pós-guerra e, além disso, inverteu o sentido de determinação das crises que passaram a originar-se na órbita financeira…

Continuar lendo

Opinião

Planejar a cidade

Artigo por Jones Henrique Martins, Gestor de Governo e Finanças de Jundiaí

Publicado

em

Por

Jones Henrique Martins, Gestor de Governo e Finanças de Jundiaí
Foto: Arquivo pessoal

Ao construirmos uma casa, necessitamos de planejamento e fundações sólidas. Assim também funciona com uma cidade: não há espaço para projetos desorientados, baseados em proposições meramente empíricas e desprovidas de sustentação orçamentária, sem unidade estratégica. O governador Mário Covas dizia que governar exige dizer sim, mas também dizer não. Acrescento que o que se diz, na prática, deve reverberar os…

Continuar lendo

Opinião

Os efeitos da escravidão promovida pelos colonizadores continuam impedindo o avanço da economia brasileira

Artigo por Everton Araújo, brasileiro, economista e professor universitário

Publicado

em

Por

Foto: Canva

O Brasil em pleno século XXI ainda enfrenta distorções na economia e desigualdade social por causa do longo período escravocrata e pela maneira como ocorreu o processo de abolição. As deformações na economia brasileira foram criadas a partir do momento em que a escravidão foi mantida, pois era a base do sistema legal desprezando o capitalismo como sistema de organização…

Continuar lendo
Publicidade