Crise climática coloca em risco a saúde física e mental da população mundial 
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Saúde

Crise climática coloca em risco a saúde física e mental da população mundial 

Segundo a Organização Mundial da Saúde, pelo menos 150 mil pessoas morrem anualmente em decorrência das alterações climáticas; número deve dobrar até 2030. *Por Thais Szegö, Agência Einstein

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Carro em enchente
Foto: Canva

Calor e frio extremos, aumento da poluição atmosférica, elevação das chuvas, derretimento de geleiras, inundações, queimadas… Basta uma rápida olhada nos noticiários para ter a certeza de que o clima está sofrendo alterações consideráveis. O resultado da intervenção humana na natureza traz prejuízos ao meio ambiente e, consequentemente, sérios impactos à saúde de todos.

“Hoje temos muitos estudos mostrando que esses fatores estão associados ao aumento da mortalidade por doenças cardiovasculares, respiratórias, renais e obstétricas”, afirma Paulo Saldiva, médico patologista e professor de medicina da Universidade de São Paulo (USP), que estuda o assunto.

Quando as temperaturas caem, por exemplo, o organismo desencadeia uma vasoconstrição (o estreitamento dos vasos sanguíneos) para manter a temperatura corporal, além de aumentar a secreção de adrenalina e cortisol, o que faz com que o coração tenha que trabalhar mais para manter o sangue circulando. Além do risco de acarretar disfunções, como arritmias cardíacas, esse cenário pode levar ao deslocamento de trombos que estavam localizados nos vasos, provocando problemas como infartos e Acidentes Vasculares Cerebrais (AVCs). 

Especialistas ouvidos pela Agência Einstein explicam que, nos dias com temperaturas mais altas, os vasos sanguíneos superficiais se dilatam para liberar o excesso de calor para o meio externo, o que pode provocar a queda na pressão arterial, levando a mal-estar e até mesmo a desmaios. Além disso, nessa situação o coração tem que bater com mais frequência para manter a pressão arterial, o que pode ocasionar a arritmia e a insuficiência cardíaca em quem já tem predisposição. O aumento da transpiração nos dias mais quentes também deixa o sangue mais espesso, elevando o risco de trombos, que podem acabar bloqueando os vasos.

“Os rins também têm que trabalhar mais no calor para impedir que a pessoa perca uma quantidade muito grande de fluidos pela transpiração, e isso pode aumentar a concentração do sangue e diminuir o fluxo urinário, levando ao risco de infecções urinárias frequentes”, explica Saldiva.

Malefícios da poluição 

Já a poluição, cada vez mais presente na atmosfera, prejudica o sistema respiratório, desencadeando ou piorando males como a asma e a doença pulmonar obstrutiva. O coração também padece, ficando mais suscetível a arritmias e paradas cardíacas. Os poluentes podem ainda afetar o sistema reprodutor feminino, atrapalhando a ovulação e colocando a fertilidade em risco.

Saldiva ressalta ainda que o aumento das temperaturas e das chuvas tem influência sobre as doenças infecciosas, principalmente as causadas por mosquitos. “No caso da dengue, esses fatores elevam o risco de eclosão das larvas, ampliando as fronteiras geográficas da enfermidade, que era uma doença litorânea e está chegando até o Centro-Oeste”, explica. O médico chama a atenção ainda para as doenças com transmissão aquática, como a leptospirose e a enterovirose, que contaminam muito mais gente por causa das enchentes.

Por todas essas razões, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), ao menos 150 mil pessoas morrem anualmente em decorrência das alterações climáticas e esse número deve dobrar até 2030. “Acredito que essa estimativa esteja subestimada”, avalia o médico da USP.  

A saúde mental também é afetada 

Os eventos provocados pela crise climática aumentam muito a carga de estresse do dia a dia, o que pode descompensar transtornos psiquiátricos já existentes ou desencadeá-los em pessoas mais vulneráveis.  

Um estudo realizado por pesquisadores italianos publicado no periódico Frontiers in Psychiatry revelou que a exposição a eventos extremos relacionados às mudanças climáticas ou de forma prolongada tem um efeito direto e indireto em curto, médio e longo prazo. A pesquisa mostra que isso pode resultar em doenças psiquiátricas sérias, como estresse pós-traumático, que podem também atingir as novas gerações.  

“Todo o tensionamento causado pelas alterações do clima traz emoções negativas, que podem contribuir para desencadear problemas graves, como o comportamento agressivo, a violência doméstica e o uso de substâncias psicoativas, como álcool, drogas e tabaco”, diz o psiquiatra Daniel Oliva, do Hospital Israelita Albert Einstein.  

Isso sem falar no aumento das taxas de transtornos psiquiátricos, como transtorno de ansiedade, transtorno psicótico e depressão, entre outros, que podem ser relacionados até mesmo a casos de suicídio. E há ainda, segundo o psiquiatra, o risco aumentado da perda de pessoas próximas provocadas por esses fatores, problema que atinge em especial os mais vulneráveis, como idosos e recém-nascidos.  

Como infelizmente a crise climática é uma realidade que não pode ser mudada prontamente, para mitigar esses riscos é importante investir em atitudes coletivas e individuais. “No âmbito individual, é importante que sejam promovidas terapias baseadas na resiliência, dando instrumentos para que as pessoas trabalhem a sua capacidade de lidar com situações extremas, além de práticas focadas no presente que combatam a ansiedade, como a mindfulness (atenção plena)”, sugere Oliva. 

De acordo com o especialista, em nível coletivo é importante mapear as áreas de risco, formar agências de cuidados e ajuda às vítimas de desastres naturais e conscientizar as pessoas sobre a importância das ações que possam combater as alterações climáticas. 

“Também é essencial localizar os indivíduos com mais risco, os que já têm transtornos psiquiátricos ou sofrimento mais intenso, por exemplo, e oferecer recursos terapêuticos, como a escuta ativa, além de levar informações claras a todos, promover a reconexão entre entes queridos e oferecer proteção e conforto mínimos para a sobrevivência”, diz o médico.  

O problema é tão sério que já existem organizações internacionais focadas em difundir o tema e assegurar a boa saúde mental a todos, prevenindo e diminuindo os impactos das mudanças climáticas sobre a população mundial. A Climate Psychiatry Alliance, formada por médicos dos Estados Unidos, é um exemplo.  

“Além disso, é necessário que todos entendam que estamos diante de um desafio coletivo e que, enquanto imperar a lógica individualista e não olharmos para o lado, seja para outras pessoas, seja para outras nações, e assumindo nossa responsabilidade, o quadro não terá melhoras, e pode até piorar”, opina Oliva. 

“O ideal seria que os setores de saúde dialogassem com os ligados à previsão do tempo e houvesse o aumento na discussão em torno do tema, como aconteceu em relação ao cigarro, percebendo que muitas vezes os pontos de atenção podem estar fora da saúde, mas é ela que paga a conta”, complementa o médico da USP. 

Fonte: Agência Einstein 

Bem-estar

Dieta Mediterrânea é uma grande aliada para afastar a hipertensão

Uma pesquisa mostra que a boa alimentação auxilia na proteção cardiovascular; confira como adaptar esse cardápio, de ingredientes facilmente disponíveis no Brasil.

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Mesa com alimentos frescos e variados, incluindo frutas, vegetais, carnes, peixes e grãos, destacando uma dieta balanceada e saudável.
Por Regina Célia Pereira, da Agência Einstein (Foto: Canva)

Manter um cardápio diversificado, com hortaliças, frutas, grãos integrais, oleaginosas (castanhas, nozes e afins), pescados, lácteos magros e, é claro, azeite de oliva, traz vários benefícios para a saúde. Esses são alimentos típicos da chamada Dieta Mediterrânea, tradicional em países como Grécia, Espanha e Itália, e cujos benefícios para o coração são bastante estudados. E isso inclui minimizar o risco…

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Saúde Pública

Jundiaí: Hospital São Vicente moderniza parque tecnológico com ventiladores e Criostato

HSV recebeu novos equipamentos para aprimorar o atendimento aos pacientes. Saiba mais.

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Saúde Pública

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Descubra quem pode se vacinar, os locais de aplicação e a importância do reforço contra novas variantes.

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Mulher idosa recebe vacina contra COVID-19 em Jundiaí, com profissionais de saúde ao fundo.
A vacinação contra a Covid-19 possibilitou a redução de casos e de óbitos (Foto: Prefeitura de Jundiaí)

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Saúde Pública

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Tanto homens quanto mulheres poderão realizar mais 270 procedimentos que antes eram restritos a um gênero específico

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O Ministério da Saúde anunciou uma mudança na classificação de gênero para mais de 200 procedimentos no Sistema Único de Saúde (SUS). Esta alteração visa ampliar o acesso de pessoas transexuais aos tratamentos e exames oferecidos pela rede pública. Novos procedimentos incluídos Com a nova portaria, tanto homens quanto mulheres poderão realizar diversos tratamentos e exames que antes eram restritos…

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Saúde

Internações provocadas por trombose venosa  profunda aumentam no país 

Envelhecimento da população, sedentarismo, uso de hormônios e pandemia de Covid-19 são alguns fatores que explicam a elevação dos casos da doença

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Foto: Canva

Por Thais Szegö, Agência Einstein  Um estudo realizado pela Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV), com dados do Ministério da Saúde obtidos de janeiro de 2012 a agosto de 2023, revela dados preocupantes: mais de 489 mil brasileiros foram hospitalizados por causa da doença no período. No último ano do levantamento, a média diária de internações superou a…

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