Felipe Schadt é de Jundiaí mas recentemente ficou conhecido no Twitter como “o menino dos 11 shows”. Explico: Felipe chamou a atenção de todo fã de música do Brasil – e alguns haters – por realizar a proeza de ir aos 11 shows da banda Coldplay aqui em terras tupiniquins.
É isso aí, você não leu errado, o jornalista, professor e educomunicador completou com sucesso a ida em todos os shows da banda no Brasil. E tudo isso ainda com um objetivo na mente e no coração, Felipe queria o violão de Chris Martin, vocalista da banda.
Maluquice? Talvez, mas isso não quer dizer que seja algo ruim. Felipe foi meu professor na faculdade, e não vou negar que foi surreal a experiência de acompanhar seus perrengues nas filas dos estádios de São Paulo, Curitiba e Rio de Janeiro em busca de seu violão. Posso apenas imaginar como ficou o coração dele durante esse processo.
E assim como Felipe ganhou o famosíssimo óculos do Bono, da banda U2, em 2017, sua persistência lhe concedeu o tão almejado violão do Chris Martin.
Felipe Schadt concedeu uma entrevista exclusiva para o Tribuna de Jundiaí, contando tudo que você quer saber sobre essa aventura. Confira:
Felipe, de onde vem o amor pelo Coldplay?
“Eu conheci o Coldplay em 2005, um amigo meu me apresentou uma música chamada ‘In My Place’. Eu já gostava muito de U2 na época, e ele falou: ‘Cara, ouve essa banda aqui. Você vai pirar nela’. E batata! Eu ouvi Coldplay e adorei. Eu até brinco que quem é fã de U2 está a um passo de ser fã de Coldplay e vice-versa. A sonoridade deste álbum específico, naquela época, são sonoridades parecidas, o estilo é muito parecido. Então foi muito fácil eu gostar de Coldplay. Eu fui a um primeiro show na turnê Viva La Vida, se não me engano em 2009 ou 2010. Depois, em 2011, eles vieram fazer um show no Rio de Janeiro, no Rock in Rio, e eu não quis ir, e me arrependi amargamente.”
“A partir daí falei: ‘Agora eu vou em todos que esses caras vierem’. Eles vieram em 2016, fazer um show em São Paulo, e eu fui. Em 2017 fizeram dois shows em São Paulo e eu fui. E agora, quando eles resolveram lançar os shows eu fui comprando um a um. Lançava e eu comprava, lançava e eu comprava. E de repente eu tinha onze ingressos comprados.”
Há quanto tempo você quer esse violão?
“A ideia dos shows [de ir aos 11] foi surgindo. Não tive a ideia do nada. Os shows foram surgindo e eu fui comprando. E aí que veio a ideia: ‘Eu quero alguma coisa do Chris Martin’. Eu já queria isso há muito tempo. Em 2017 eu ganhei os óculos do Bono, no U2. Eu estava lá com o meu cartaz, com uma estratégia muito parecida com o que eu fiz agora, ia para a grade em todo show, com o mesmo cartaz para que ele me visse. No terceiro show do U2 em São Paulo ele me deu os óculos. E a partir daí eu comecei a pensar: ‘Cara, em quesito show, nada é impossível para mim’.”
“Pode até soar rude, mas, caramba, eu consegui os óculos do Bono, é um item muito raro, muito difícil. O Bono não dá óculos assim para as pessoas. Então eu falei: ‘Eu quero o violão do Chris Martin. Eu vou nos 11 shows e quero o violão’. Ele não dá violão para as pessoas, ele deu um violão para o Presidente da República na semana passada. E agora um para mim. Mas eu usei a mesma estratégia: fui com o mesmo cartaz, que eu fiz de tecido, minha mãe costurou para mim. Todo show eu chegava muito, muito cedo, chegava até um dia antes do show acontecer para eu ficar na fila, ficar na grade, para eu chegar aonde eu queria chegar, para poder mostrar para ele. Ele me viu nos shows e aí aconteceu.”
Qual foi o maior perrengue desses 11 shows?
“Ir em 11 shows já é perrengue por si só, quando você quer ficar na grade, porque tem que chegar muito cedo. Então, por exemplo, quando era show seguido do outro, eu saía do show e já voltava para a fila. Eu ficava lá de madrugada e quando o pessoal [amigos que o acompanharam nesse desafio] chegava eu ia tomar banho. Então eu ia ‘virado’ muitas vezes, minha imunidade baixou muito, eu comecei a ficar com início de gripe, enfim.”
“Mas tiveram dois dias em específico que foram muito difíceis: o show que aconteceu no dia 13 de março, uma segunda-feira, em São Paulo que choveu muito, foi um temporal, alagou a região, uma chuva que castigou demais. Nos outros dias tinha chovido, mas essa chuva castigou demais. Ficamos no meio do temporal, tomando chuva, para poder entrar no estádio, foi bem difícil. E no penúltimo show do Rio de Janeiro, no domingo, dia 26. Fez 43°C no Rio de Janeiro. 43°C! Foi muito, muito, muito calor que a gente passou, muita gente passando mal dentro do estádio. Quando a gente entrou no estádio não melhorou, continuou o calor. Estar 43°C, debaixo do sol, sem árvore em volta, sem sombra. A gente improvisou barraca, lona, mas foi muito difícil. Então eu peguei os extremos: uma chuva muito forte e um calor insuportável.”
Não fica chato ir a 11 shows do mesmo artista?
“Cara, não é chato. Porque eu gosto muito de Coldplay, eu assistiria Coldplay infinitas vezes, porque eu ouço Coldplay infinitas vezes. Cada show é único, você é transformado em cada show, então você não é o mesmo. O Felipe do primeiro show não é o mesmo Felipe do segundo show, que não é o mesmo Felipe do terceiro show, transformado pelo show anterior. Não tem essa de enjoar, é viver o momento e entender que cada momento é único, é inédito, é irrepetível. Foram 11 shows diferentes que eu vivi, foram 11 experiências diferentes que eu vivi. Algumas experiências foram mais emocionantes, outras foram mais divertidas, outras foram mais cansativas, cada uma teve sua experiência.”
O que te manteve animado para cada um?
O que me manteve animado foi o objetivo de conseguir o violão, mas na hora do show eu me divertia para caramba. Eu sou feliz quando vou ao show do Coldplay, então vou ser feliz 11 vezes.
Por fim, como foi a entrega do violão pelo Chris Martin?
“A entrega foi diferente de tudo que eu imaginava que seria. Eu cheguei a imaginar que ele me chamaria no palco, que me chamaria para tocar alguma coisa. Mas não foi. Assim que ele terminou de tocar ‘Yellow’, que é uma das minhas músicas favoritas, ele termina de tocar e [geralmente] vai até o final da passarela, e deixa o violão ali. Dessa vez ele não deixou. Ele foi até o final da passarela e trouxe o violão. E quando ele estava trazendo o violão, ele estava tentando tirar a correia, e não estava conseguindo tirar. Ali eu falei: ‘ele vai me entregar o violão agora’.”
“Ele não conseguiu tirar a correia, foi até o assistente dele e apontou para mim. Aí o cara confirmou, apontou para mim, e ele [Chris Martin] foi cantar a música que ele tinha que cantar. Depois de uma música o cara [assistente] me entregou o violão ali na grade. Não teve uma exposição tão gigante, foram poucas as pessoas que viram isso. Foi legal do mesmo jeito, eu chorei horrores, mas foi assim que aconteceu. Ele fez questão de me entregar, e o assistente dele veio com o case, bonitinho.”
‘A gente tem que sonhar’
“Muita gente achou loucura o que eu fiz, e de certa maneira é um pouco de loucura, mas eu acho que a gente precisa sonhar mais, sabe? Eu não quero dar papo de guru, mas a gente precisa sonhar mais. A vida são esses instantes. Eu sonhei com os óculos do Bono, eu sonhei com o autógrafo do Bono, eu sonhei em encontrar o Bono, e eu sonhei com o violão do Chris Martin. Todos esses sonhos foram realizados, porquê eu sonhei e eu fui atrás. Também não é papo de meritocracia, eu sei dos meus privilégios para poder ter assistido os 11 shows, eu sei de todas as facilidades que eu tive. Mas eu acho que a gente precisa sonhar mais e comemorar esses sonhos nem que sejam sonhos pequenos.”
“O Coldplay tem uma música chamada ‘A Head Full of Dreams’ (‘Uma Cabeça Cheia de Sonhos), a gente tem que ser assim, ter uma cabeça cheia de sonhos e viver os nossos sonhos sem se importar com o que vão falar. Muita gente vai te criticar, mas muita gente vai te entender. E foi o meu caso, eu recebi muito amor, de gente que eu não conheço, que eu nunca vi na vida. Simplesmente acompanhou a minha história e ficou genuinamente feliz por mim. Também é outra máxima, é o lema desse show do Coldplay: ‘Se você quer amor, seja amor’. Essas coisas fizeram com que as pessoas fossem gentil comigo.”