Post nas redes sociais alega que a jornalista Daniela Lima, da Globo News, afirmou que é falso que quem está salvando o Rio Grande do Sul durante as enchentes são os civis e voluntários. É falso.
Por meio do projeto de verificação de notícias, usuários do Facebook solicitaram que esse material fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação da Lupa:
Daniela Lima: “É falso que “quem” está salvando o Rio Grande do Sul são os civis e voluntários” – Texto em vídeo que circula nas redes sociais
Daniela Lima não negou a atuação dos civis voluntários no Rio Grande do Sul. O vídeo que circula nas redes sociais é um recorte da fala completa da jornalista no programa Edição das 18h, da GloboNews, em 9 de maio. Na ocasião, Lima citou pesquisadores da área para comentar informações falsas que circulavam sobre as enchentes. Segundo ela, muitas das fakes estudadas afirmam que há um trabalho exclusivo de civis nos resgates para reforçar, com interesse político, uma narrativa de que o Estado nada faz.
“O primeiro eixo de fake news: o Estado nada faz. O que eles dizem? Eles usam vídeos falsos, descontextualizados, para dizer que quem está salvando o Rio Grande do Sul no braço são os voluntários, são os civis. A palavra mestra – e aí eu vou pedir para você salvar esse termo, chama-se “cauda longa” – para quem estuda a internet é “civil salva civil”. Aí você vai dar uma olhada naqueles perfis de sempre, você sabe, essa ideia tá enrustida toda lá. É para dizer que o Estado é lento, que o Estado não chega, que o Estado é preguiçoso, que o Estado nada está fazendo”, disse.
Na sequência, a jornalista explica outros dois eixos de desinformação encontrados por especialistas: a ideia de que o Estado só atrapalha e o pânico econômico. Ao final, ela relata que os principais disseminadores de informações falsas são pessoas com uma base grande de seguidores e que, em um passado recente, defendiam “remédio para vermes contra o vírus Covid-19 e um golpe de Estado”.
Abaixo, leia a íntegra do que Daniela Lima disse sobre os três eixos de desinformação no Edição das 18h, de 9 de maio:
“São três eixos principais segundo os especialistas. Eles têm ali, primeiro eixo é o de dizer que o estado nada faz. Então, o que que eles usam, se você ver isso desconfie: o primeiro eixo de fake news o Estado nada faz. O que eles dizem? Eles usam vídeos falsos, descontextualizados para dizer que quem está salvando o Rio Grande do Sul no braço são os voluntários, são os civis. A palavra mestra – e aí eu vou pedir para você salvar esse termo, chama-se “cauda longa” – para quem estuda a internet é “civil salva civil”. Aí você vai dar uma olhada naqueles perfis de sempre, você sabe, essa ideia tá enrustida toda lá, é para dizer que o Estado é lento, que o Estado não chega, que o Estado é preguiçoso, que o Estado nada está fazendo.
A outra ideia que está centralizada no disparo de fake news – e aí você tem diversas fake news com essa mesma ideia – é a de que o Estado atrapalha. Vocês vão ver circulando um vídeo que dá a entender – e nesse caso o Exército virou o principal alvo – é como se os disseminadores de fake news da extrema-direita, lá de trás, estivessem indo à desforra agora, por conta do que o Exército não fez no 8 de janeiro. Alguns deles escrevem isso mesmo. Como vocês sabem, eles pediram um golpe, as Forças Armadas não apareceram e, aparentemente, eles estão querendo manchar a imagem das Forças agora nesse episódio.
Então, nesse eixo, primeiro é o governo não aparecer, não veio. Mentira, não só está lá o Governo Federal, as Forças Armadas, como o governo de São Paulo, o governo do Mato Grosso, o governo de Goiás, governo do Rio Grande do Norte, de Pernambuco, tem muita gente lá. O Brasil que sabe quem de verdade está lá. O outro eixo é esse, o Estado atrapalha. Então, são vários vídeos que dizem “olha, não estão deixando chegar mantimento, estão barrando, não estão deixando pilotar a lancha”. Tem um agora, o novo, mais último, é o que aparece uma velhinha, uma pessoa idosa pedindo ajuda e um militar dando os ombros. É fake. Não é de agora, está fora de contexto. As agências de checagem estão trabalhando como loucas.
Terceiro grande eixo de fake news é o pânico econômico, e aí gente, eu vou abrir aqui, conversando com os especialistas têm uma série de áudios falsos, desancorados e vídeos também desancorados da realidade, meio que pregando uma corrida enlouquecida aos mercados porque vai acabar a comida. E eu não estou falando do Rio Grande do Sul, lá o abastecimento está difícil por conta do estado, está tudo desse jeito, as pessoas estão indo, o mantimento está indo e eu vou mostrar aqui em imagens também exclusivas da Fab, mas é o dia, a aeronave ou navio é assim que está chegando, helicóptero ou navio. Avião não adianta mandar, não tem onde pousar, o aeroporto está fechado. De todo o modo, o terceiro eixo é esse, o pânico econômico.
E aí eu liguei para o ministro da Agricultura, falei “ministro, eu não sei se o senhor está sabendo, está havendo uma série de disseminação de desinformação, eu gostaria de saber se o Brasil corre risco de desabastecimento”. Olha o que o ministro Carlos Fávaro me contou. Ele disse “Daniela, eu mesmo recebi um áudio”. Veja só, o ministro recebeu um áudio de um homem dizendo “eu sou gaúcho, eu tenho certeza do que eu estou te falando, o saco de arroz vai bater R$ 70, corre e compra”. A Federação produtora de arroz do Rio Grande do Sul – que responde por 70% da produção nacional – já falou que não vai acabar o arroz. O Ministério já tinha dito que não ía, mas agora o ministro dá uma garantia: não haverá desabastecimento. É o que diz o Fávaro, e mais, ele fala que tudo o que está sendo feito é para garantir o fluxo. Inclusive não ter repique de preço.
Então assim, pânico econômico, inação ou estado trabalhando contra o cidadão são três palavras-chaves que os estudiosos já identificaram, viraram o motivo de fake news. Para fechar, quem são os principais disseminadores? Porque é gente que tem muitos seguidores, que já tem uma base feita. Por que eles já têm uma base feita? Porque alguns são réus no Inquérito das Fake News, no Inquérito dos Atos Antidemocráticos, já tiveram de prestar depoimento para a Polícia Federal sobre pregação golpista, tiveram de prestar depoimento sobre pregação mentirosa na pandemia. É gente que de lá de trás veio te dando um remédio de vermes para curar vírus, de lá de trás veio te dizendo que golpe de Estado não era crime, gente que lá de trás disse que “imagina nós não queremos dar um golpe”, vem o 8 de janeiro. Agora, eles pedem anistia. É a mesma coisa. E eles estão usando essa mesma rede de novo”.