Mariane, de 22 anos, relatou os momentos de apreensão que viveu longe da mãe, recebendo apenas boletins médicos. (Fotos: HSV e Arquivo pessoal)
Edna Maria Demeis Garcia, de 59 anos, sobreviveu ao coronavírus em Jundiaí.
Internada por 27 dias no Hospital São Vicente de Paulo, ela voltou para casa na segunda-feira (1º).
A filha, Mariane Milene Garcia, de 22 anos, escreveu um relato emocionante sobre a trajetória da mãe no hospital.
Os primeiros indícios de uma síndrome gripal apareceram no dia 30 de março, depois de Edna passar nove dias internada para ser avaliada por um neurologista. A mãe de Mariane reclamava de uma visão turva, em cones.
Leia o relato na íntegra:
“Eram feitos cerca de 3 exames de sangue por dia. Glicemia a mesma coisa: o exame era feito várias vezes ao dia. Do lado de cá estou eu e minha família: preocupadíssimos com a situação, querendo que ela saia e querendo uma resposta. Uma visita por dia. Fui todos os dias, queria tirar dúvidas, queria falar com o neuro, queria respostas e nada. Passaram nove dias e minha mãe teve alta. “Que alegria! Que coisa boa!”. Então, não foi tão bom assim, ela entrou em casa com um pouco de tosse, uma tosse seca”, narra Mariane.
“Não ligamos, o lugar aonde ela internou não tinha risco nenhum.
1º de maio, eu cuidava dela com todo o zelo do mundo, conversamos, assistimos juntas. Eu comecei a arrumar o guarda roupa dela com ela deitada na cama e ela me dizia: “Para, Mariane. Está levantando pó, estou com falta de ar!.” E eu retruquei. Continuei.
Ela começou a sentir dores no corpo, se queixava ao tomar banho, ela já estava fraca para levantar da cama. Sem febre, a todo momento eu ouvia o pulmão e estava limpinho, e ela continua com uma tosse seca. Ela me dizia, “fica longe filha, é perigoso!”, eu ria da situação pois eu dizia que não era Covid e que com Covid ou não, eu ficaria ao lado dela.
Na madrugada de 3 de maio eu estava com ela na sala e ela se queixava de falta de ar. Eu estava muito aflita e com medo da situação, ela não conseguia mais dormir por conta da tosse, deitei atrás dela e pedi a ela que me deixasse levá-la ao médico, ela aceitou.
Chegando lá, ela chorava, chorava muito. E me disse coisas que dentro de mim sou incapaz de dizer porque me dói saber o tamanho da gratidão dela pela família.
Por um momento eu cheguei a conversar com o médico e pensei que fosse algo psicológico.
O médico disse que ela estava bem, o pulmão estava realmente limpo, nada apresentou no Raio X, mas era necessário levar ela a outra área.
Chegando lá, eu não podia mais entrar com ela. Eu estava tranquila, até porque seria feito alguns exames e já iam liberá-la. Eu esperando na recepção. Foi então que a médica me chamou para conversar e me disse que a tomografia que fizeram era bastante sugestiva e que ela poderia estar com Covid-19. Eles precisavam começar o tratamento nela com urgência e ela não seria liberada. Assinei os papéis e aguardei mais informações. Me trouxeram as roupas dela pois a partir daquele momento ela estaria isolada e começaria o tratamento, eu iria receber notícias dela uma vez no dia, eu não poderia vê-la. Ela realmente estava com Covid-19.
Eu não consigo descrever o que eu senti quando saí do hospital com as roupas dela na mão. Meu mundo caiu, por alguns instantes a vida não tinha mais sentido, o desespero bateu no meu coração e eu não conseguia organizar as ideias na minha cabeça. Foi tudo tão rápido, há três dias eu recebo a notícia da alta e depois ela precisou ficar internada e isolada novamente!”.
Edna foi internada em um leito de enfermaria do Hospital São Vicente. Apesar das visitas serem estritamente proibidas, a família era informada diariamente com o boletim médico atualizado.
“Primeiro dia da internação dela ligaram no período da tarde para passar o boletim: “sua mãe está bem, precisa de um pouquinho de oxigênio para respirar e continua com um pouquinho de tosse, pediu para recolher algumas roupas do varal e guardar os papéis que estão no armário”. Um alívio! Tudo certo, vamos para mais um dia de tratamento.
Dia 06 de maio, 14h, 16h, 18h e nada do boletim médico. Cheguei a ligar no hospital para pedir informações e me disseram que já ligariam e que no setor em que ela estava havia tido duas intercorrências. Tudo bem, aguardei. O telefone tocou as 19h20 e era o hospital para passar o boletim do dia.
“Houve intercorrências no nosso setor, sua mãe foi transferida para a UTI e precisou ser entubada e sedada. É muito triste passar essas informações à família, sentimos muito e faremos o que tiver ao nosso alcance, infelizmente ela precisa 100% do respirador”.
Eu não conseguia mais responder, eu só chorava e gritava pedindo a minha mãe. Pra mim tudo tinha acabado naquele momento. Eu tive uma crise de pânico, perdi o controle, queria vê-la, mas não podia. Queria abraçá-la, mas não podia. Todos da minha casa ficaram chocados e sem rumo. Foi o pior dia da minha vida. Depois disso, todos os outros dias foram de muito choro, aflição e saudade. Eu pedia incansavelmente a Deus pela cura dela, pedia a Ele pela fé que ela tinha. Eu orava a todo instante.
Na semana seguinte ela terminou o tratamento. Tudo funcionando (rins, exame de sangue e batimentos cardíacos regulares, pressão arterial normalizada), mas ela ainda precisava do respirador, era uma paciente grave e estava totalmente debilitada.
Um dia sem remédio, sem tratamento. Dia seguinte, picos de febre, muita febre, não abaixava. Um antibiótico, não funcionou; dois antibióticos, nada; três antibióticos: febre, febre e febre.
Continuava entubada e sedada, precisava ainda do respirador.
4° antibiótico, 24 horas sem febre. “Um alívio, deu certo! Amanhã não terá mais febre!”
Dia seguinte no boletim médico: três picos de febre, inclusive um chegou a 39.9, não tinha mais o que fazer.
O exame de cultura havia sido feito e não apresentou nada. Ela tomava o antibiótico mais forte que tinham. Quanta angústia! A febre ia e voltava, o exame de sangue apresentava agora uma infecção bacteriana. Passado os dias ela continuava estável, era uma paciente grave, estava entubada e sedada.
A pressão dela começou a oscilar. Chegou a 6.4 e foi mais baixa ainda, mas os médicos não quiseram relatar. Estavam fazendo de tudo para mantê-la viva.
Depois das medicações, ela teve anemia profunda. Precisou de duas transfusões sanguíneas e, à medida que davam remédio, a pressão subia muito, e horas depois caia muito. Febre, pressão, anemia.
Passada a semana, a ligação do domingo chegou mais cedo. Às 13h30, mais ou menos. A saturação de oxigênio dela tinha voltado ao normal. Ela precisava de pouco oxigênio. Foi um alívio, que vitória! E assim foram dias e dias.
O quadro dela ainda era estável, a pressão oscilava bastante e apresentava febre.
Um certo dia ela já não precisava mais do respirador. Continuava entubada para manter os pulmões abertos, e continuava sedada.
Foram diminuindo a sedação e tentando acordá-la aos poucos. Ela não reagia. Passaram dias e dias e ela não reagia. Tirando aos poucos a sedação, ela passou a fazer alguns movimentos com as pálpebras dos olhos. Os médicos tentavam de tudo para acordá-la, mas sem sucesso.
Três dias sem sedação. Ela acordou!!! Amém! Mas já voltava a dormir.
Tentaram por duas vezes tirar os tubos dela, mas não conseguiam.
Passaram mais dois dias e ela já estava um pouco mais lúcida e finalmente foi desentubada.
No período da noite nós recebemos a notícia de que a minha tia tinha contraído a Covid-19. A angústia no coração tinha voltado. Ela precisou ir para o hospital e lá ela ficou.
No boletim médico do dia seguinte foi relatado que a minha mãe iria ser transferida para outro setor. Ela não precisava mais da UTI. Quanta alegria, quanto choro de alegria, quanto agradecimento!. Os médicos disseram que tinham visto pelo histórico dela que havia uma irmã internada, também por coronavírus, e que iam tentar colocar uma ao lado da outra!
Foi muito difícil saber que as duas se encontravam naquela situação, mas reconfortante saber que a minha tia estaria ali, do ladinho dela!
Os médicos disseram que foi muito, muito emocionante. A reação das duas foi linda!
A cama da minha mãe era a 13A e a da minha tia 13B.
Uma semana depois minha tia teve alta e minha mãe continuou internada.
Um certo dia ela já estava lúcida, respondia aos movimentos que os médicos pediam. Passado uma semana, ela ficou três dias sem febre, foram descartados quatro remédios. E já comentaram sobre a previsão de uma internação domiciliar.
No momento em que eu e minha família ouvimos isso foi muita, muita alegria. Deus cuidou de tudo tão bem. No dia programado para isso acontecer, o coração dela acelerou muito e foi preciso fazer eletrocardiograma. Foram mais dois dias de observação.
No dia 1º, ela recebeu alta.
Eu termino o texto deitada ao lado dela. Ela dormindo e eu escrevendo. Sua família te ama mãe! Eu serei eternamente grata a Deus por isso!”.
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