As primeiras fases de uma pesquisa realizada com 550 crianças e adolescentes com idades entre 3 e 17 anos mostrou que mais de 96% dos participantes desenvolveram anticorpos contra o vírus da Covid19 após tomar as duas doses da vacina Coronavac. O estudo, realizado na China, foi publicado na revista científica “The Lancet Infectious Diseases” nesta segunda-feira (28).
De acordo com o estudo, a única reação adversa observada na maioria dos participantes foi dor no local da injeção. O imunologista Daniel Bargieri, do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (USP), afirmou que os resultados das fases 1 e 2 do estudo são promissores, porquê indicam que o imunizante desenvolvido pela farmacêutica Sinovac induziu a resposta do sistema imunológico contra o vírus.
Esse é o primeiro passo para indicar a possibilidade do uso da vacina para determinado grupo, no caso, crianças e adolescentes. “Essa resposta de 96% ter sido mais alta do que nas outras faixas etárias é animadora”, afirma o imunologista.
Ainda assim, é cedo para afirmar sobre a eficácia da vacina no grupo. Esse dado será observado apenas da terceira fase de testes, que ainda não aconteceu. Mas, de acordo com Bargieri, com esse índice de resposta imunológica, “é muito provável que seja eficaz nessa faixa etária”.
Vacina em crianças
Recentemente, a China autorizou o uso emergencial da Coronavac para imunizar crianças com mais de 3 anos de idade. De acordo com Qiang Gao, da Sinovac Life Sciences Co, Ltd, da China, as crianças e adolescentes que se infectam com a Covid19 em geral têm infecções leves ou assintomáticas, comparados à adultos.
No entanto, ainda existe a pequena possibilidade de crianças desenvolverem casos graves da doença. “Eles também podem transmitir o vírus a outras pessoas, o que torna vital testar a segurança e a eficácia das vacinas contra a Covid19 em grupos de idades mais jovens”, afirmou Qiang Gao.
Na China, o estudo com a Coronavac está sendo realizado apenas com crianças e adolescentes da etnia Han, o que se demonstra um fator limitante para a resolução da eficácia da vacina na faixa etária. Especialistas concordam que ainda serão necessários estudos maiores e mais diversos com públicos diferentes, mas da mesma faixa etária.
“Não dá para dizer, baseado neste estudo, que se vacinarmos 550 crianças ou adolescentes de outra etnia, 96% delas responderão da mesma forma, ainda que seja muito provável. São necessários mais estudos com populações diferentes”, avalia Daniel Bargieri. No entanto, o especialista não invalida os resultados desta pesquisa.
A base de estudos clínicos chineses acompanharão os voluntários por um ano. Assim, ainda não há informações sobre a resposta imune do organismo a longo prazo da Coronavac neste grupo.
“Nossa descoberta de que Coronavac foi bem tolerada e induziu fortes respostas imunológicas é muito encorajadora e sugere que estudos adicionais em outras regiões, envolvendo populações multiétnicas maiores, podem fornecer dados valiosos para informar estratégias de imunização envolvendo crianças e adolescentes”, concluiu Qiang Gao, da Sinovac.