A desconfiança em relação à imunização, impulsionada por campanhas de desinformação e movimentos antivacina, permanece como um desafio significativo para o Brasil. A ministra da Saúde, Nísia Trindade, destacou que o fenômeno da “hesitação vacinal” ganhou força a partir de 2016, agravado por restrições orçamentárias na saúde e pela falta de estímulo do governo anterior à imunização da população.
A queda na cobertura vacinal culminou na perda do certificado de eliminação do sarampo em 2019, devido à baixa procura pela vacina contra a doença. “Esse cenário foi agravado no último governo, já claramente com o fenômeno do negacionismo científico. É importante destacar que esse é um fenômeno que permanece”, afirma Nísia.
Da mesma forma, o diretor da Sociedade Brasileira de Imunização (SBIm), Juarez Cunha, enfatiza a dificuldade em atingir metas de vacinação desde meados da década passada, atribuindo isso à desconfiança nas vacinas.
“Um aspecto fundamental é a confiança. Um dos aspectos que a gente sabe que foi muito abalado e continua sendo é a confiança nas vacinas. Não é só confiar naquele produto, na sua eficácia e na sua segurança. É um aspecto que deixa as pessoas com bastante dúvidas. Então, a gente tem que informar muito bem”, defende Cunha.
O diretor da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), Jarbas Barbosa, alerta que a desconfiança não é exclusiva do Brasil e cresceu durante a pandemia da COVID-19. Assim, ele propõe o monitoramento constante das redes sociais pelos governos para combater boatos e desinformações sobre a vacinação.
Barbosa destaca o crescente ceticismo em relação às informações oficiais, tornando essencial o papel dos profissionais de saúde na disseminação de informações confiáveis, visto que a baixa procura pela vacinação coloca em risco a saúde pública, permitindo o ressurgimento de doenças controladas.
Ações
O governo brasileiro tem enfrentado a desinformação, lançando em outubro a plataforma “Saúde com Ciência“, como parte da luta contra a hesitação vacinal. A ministra Nísia destaca a mudança de postura do governo atual, evidenciada pelo lançamento do “Movimento Nacional pela Vacinação” e a recuperação de estoques, resultando no aumento da cobertura vacinal em 2023.
Apesar dos esforços, Juarez Cunha destaca a necessidade de ações que vão além da luta contra a desinformação, como ampliar o acesso à vacinação, estendendo o horário dos postos de saúde e utilizando postos drive-thru. Ele enfatiza a importância de diagnosticar a situação vacinal por municípios, bairros e comunidades, considerando realidades distintas.
Nísia Trindade informa que o governo realiza ações de microplanejamento com os estados, sistematizando informações para monitorar coberturas vacinais. Barbosa prevê que o Brasil recuperará em breve o certificado de eliminação do sarampo, já que não há novos casos há mais de 1 ano.
Com informações da Agência Brasil