Se nossas urgências ainda são de consumo, que sejam renovadas. Saúde e economia só podem estar lado a lado
Connect with us

Opinião

Se nossas urgências ainda são de consumo, que sejam renovadas. Saúde e economia só podem estar lado a lado

Por Raquel Loboda Biondi, jornalista e atualmente assessora legislativa na Câmara de Jundiaí

Published

on

Atualizado há

Raquel Loboda Biondi
Raquel Loboda Biondi, jornalista e atualmente assessora legislativa na Câmara de Jundiaí (Foto: Divulgação)

Em minha primeira coluna neste espaço do Tribuna de Jundiaí, abordei as reflexões que esse momento tão conflitante e doloroso da pandemia tem nos provocado: ele acentua nossas desigualdades, coloca um espelho à frente do que somos e construímos como sociedade até aqui e, ainda assim, em uma situação quase forçada para atos coletivos, muitos resistem em enxergar esse novo cenário que se forma, que depende de novos olhares para o todo e também para si mesmo. Seja de ordem social ou particular, muitos não têm condições para isso, e por inúmeras razões, muitas até vitais, abandonar hábitos e dinâmicas padronizados até aqui não é tão simples.

Sendo assim, acredito que seja o momento de refletirmos também sobre a unidade ou a falta dela que nos acomete. Isto é, precisamos falar sobre colocarmos lado a lado as necessidades que nos preocupam, sejam da saúde ou da economia. Pelas filas e pressa que o período de retomada das atividades comerciais no evidenciou em alguns dias atrás, é difícil não dizer que ainda estamos apegados ao ritmo de antes, aos hábitos de antes, e se nossas urgências ainda parecem estar tão atreladas ao consumo, que possamos olhar para esse ato de forma inteligente e integrada aos novos tempos.

Não cabe aqui a hipocrisia de ‘demonizarmos’ o ato da compra – vivemos em um sistema que se baseia nessa relação e não estamos isentos. Todos nós consumimos. Deste consumo, aliás, depende a economia, a arrecadação de cidades, o salário de muitos. O que discuto é a nossa resistência, em meio a novas condições que nos foram impostas pela proteção de uns aos outros, de revermos os meios de consumo, de adaptarmos nossas necessidades ou prazeres à essa realidade que não extingue ninguém. O que de fato é essencial? Talvez o que vivemos hoje não deva ser restrito somente o lamento, mas ampliado à oportunidade de desenvolvermos meios de consumo mais saudáveis, de repensarmos o uso de ambientes abertos, até então considerados seguros no combate à pandemia, de criarmos um novo tipo de ocupação que preserve esses espaços livres e também os envolva em uma dinâmica econômica que também terá que ser reinventada.

Neste novo processo, também não parece caber uma guerra entre economia e saúde, como nacionalmente se pinta e como alguns reproduzem sem uma reflexão isenta de partidarismo. Nossa quarentena foi dura, trouxe mortes e perdas em vida, portanto, não há qualquer sentido em compararmos quem perdeu mais. O que precisa ser encarado é que não podemos ver um vírus como o único culpado de um cenário desastroso.

Que preparo tinha o Brasil para conduzir uma pandemia na atual conjuntura? Que condições tínhamos nós de oferecermos tecnologia para todos, capacitação e conhecimento para novas plataformas serem eficientes e amenizarem desigualdades? Que cuidados tínhamos nós uns com os outros, na rua, em casa, para frear o contágio desde o início? Que cenário econômico sólido tinha nosso País, antes da pandemia, para garantir segurança financeira diante de uma crise desta proporção? A internet já ameaçava relações de comércio muito antes, já estávamos divididos muito antes, já não acreditávamos em nós mesmos muito antes. E o que fizemos verdadeiramente para progredir? Temos guerreiros na linha de frente de hospitais, nos serviços essenciais, nos municípios que são a ponta de tudo, que lutam sozinhos diante da falta de coesão das diretrizes nacionais. Não ouvimos uma única voz segura que aponta rumos.

Portanto, à espera de uma vacina que nos traga alguma esperança, talvez seja esse o momento de darmos as mãos, de repensarmos esse consumo que parece tanto nos faltar como um aliado da saúde e nossa proteção e cuidados como aliados da economia fragilizada. Por que não passamos a pensar no giro da economia também atrelado à cultura, aos espaços abertos, à reabertura de parques, museus, às práticas esportivas, à valorização de patrimônios? Claro que centros comerciais precisam se reerguer e não há qualquer impedimento de que esses centros também se adaptem, mas vamos contribuir para que os tais novos protocolos de funcionamento também partam de nós e contemplem hábitos mais conectados com o mundo de agora – todos são agentes de uma possível retomada, não apenas os governos. Aliás, se entendermos que caminhamos juntos, não daríamos palco para quem quer ‘ganhar’ sozinho ou dividir ainda mais o que somos.

Há uma visão infelizmente ainda enraizada – e que depende de muitos fatores para se desfazer – de que consumir cultura, arte, memória, não necessariamente seja algo que fomente a economia, que não possa andar junto do desenvolvimento, quando outros países nos mostram que essa sintonia é tão sadia. Vamos olhar, portanto, para essas novas possibilidades. Se não quisermos ficar parados por mais tempo, que a gente se adapte e respeite os novos tempos, que a gente se mova pra frente e não pra trás, pois voltar ao que era não nos tira desse buraco, só deixa mais fundo o que já havíamos ‘cavocado’ com nossas limitações.

Esse desejo por uma retomada sem mudanças, sem revisitações, é aflitivo e um sintoma nítido do que ainda somos, do que ainda não vemos nem ‘amarrados’ por um vírus que, da forma como reagimos a ele, tem se mostrado tão mais forte que nós – com exceção, claro, dos que batalham contra ele todos os dias, os profissionais de saúde.

Que possamos pensar parcerias para ocupar futuramente as ruas e espaços ao ar livre com segurança, com integração do comércio em parques, em áreas livres, em praças e que haja um fomento saudável a todos: a quem pode consumir com qualidade de vida, preservando espaços históricos, encontrando o interesse para além da simples compra; aos que podem e precisam vender para seu sustento e também estariam inseridos neste contexto cultural e às cidades que só tendem a ganhar com estruturas de convívio mais inteligentes, robustas, sem exageros e desperdícios.

Essa é a nossa chance de repensar como tudo funciona. Uma pena que ainda fiquemos presos àquele antigo buraco.

Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam necessariamente as ideias ou opiniões do Tribuna de Jundiaí.

Opinião

A Era da Decisão Automatizada

Artigo por Elton Monteiro, empreendedor, mentor, investidor e especialista em IA

Published

on

Elton Monteiro é empreendedor, mentor, investidor e especialista em IA
Foto: Arquivo Pessoal

Estamos entrando em uma nova era na qual a tomada de decisões empresariais está sendo revolucionada pela Inteligência Artificial (IA). O que antes dependia de longas análises, reuniões e deliberações humanas, agora pode ser automatizado e otimizado por algoritmos avançados, capazes de processar volumes gigantescos de dados em tempo recorde. O impacto disso está apenas começando a ser sentido, mas…

Continue Reading

Opinião

O ideal olímpico da indústria

Artigo escrito por Rafael Cervone, presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (CIESP)

Published

on

Artigo escrito por Rafael Cervone, presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (CIESP)
Foto: CIESP/Divulgação

A indústria paulista correu, lutou, anotou cestas, cortou e bloqueou na rede, pedalou e fez emocionantes aces na Olimpíada de Paris. E repetirá os feitos na Paralimpíada, que será disputada entre 28 de agosto e 8 de setembro. Onze atletas do Sesi-SP participaram dos jogos, em modalidades como atletismo, vôlei masculino, vôlei feminino, basquete masculino, triathlon, ciclismo, judô, goalball e…

Continue Reading

Opinião

O impacto dos impostos na competitividade da indústria

Artigo escrito por Rafael Cervone, presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (CIESP)

Published

on

Rafael Cervone, presidente do CIESP, escreve sobre O impacto dos impostos na competitividade da indústria
Foto: CIESP/Divulgação

A indústria, embora seja fundamental para que o Brasil tenha crescimento sustentado mais substantivo do PIB e ingresse no rol das economias de renda alta, tem enfrentado numerosas barreiras e recebido poucos estímulos ao longo das últimas quatro décadas. Um dos principais problemas é o excesso de impostos, pois paga mais do que os demais ramos de atividade. A questão…

Continue Reading

Opinião

O Futuro da Produtividade

Artigo por Elton Monteiro, empreendedor, mentor, investidor e especialista em IA

Published

on

Elton Monteiro, empreendedor, mentor, investidor e especialista em Inteligência Artificial
Foto: Arquivo Pessoal

Estamos à beira de uma revolução na produtividade global, impulsionada pela adoção massiva da Inteligência Artificial (IA). Empresas pioneiras que já abraçaram essas tecnologias estão experimentando ganhos de produtividade que antes pareciam inimagináveis. Em alguns setores, o impacto da IA tem sido tão profundo que empresas estão registrando aumentos de 20% a 40% na eficiência operacional. E, em casos ainda…

Continue Reading

Opinião

Imposto do Pecado para automóveis híbridos e flex é uma heresia tributária

Artigo escrito por Rafael Cervone, presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (CIESP)

Published

on

Rafael Cervone
Foto: CIESP/Divulgação

O Projeto de Lei Complementar (PLP) 68/2024, que regulamenta a reforma tributária, aprovado na Câmara dos Deputados no dia 10 de julho, contém um grave equívoco, ao incluir os automóveis, inclusive os flex e híbridos, entre os produtos abrangidos pelo Imposto Seletivo (IS). O argumento que fundamentou a decisão, de que motores a combustão são danosos ao meio ambiente, é…

Continue Reading
Advertisement