Nesta segunda-feira (8), a escuta de crianças internadas no Hospital Universitário (HU) foi tema de um seminário para a Rede Municipal de Cidades das Crianças. Inspirada no modelo implementado pelo hospital Pedro de Elizalde de Buenos Aires, na Argentina, a iniciativa em Jundiaí completou seis meses desde a sua oficialização. Assim, seus resultados foram socializados entre os cerca de mais de 120 participantes, de diversos Países latino-americanos e europeus.

Além das apresentações dos médicos responsáveis pelo hospital jundiaiense e portenho – Dr. Rodrigo Camargo e o Dr. Javier Indart -, o encontro contou com as participações de Francesco Tonucci, pedagogo italiano idealizador do conceito e da Rede de Cidades das Crianças; de Lorena Morachimo, coordenadora internacional do projeto; e dos coordenadores das Redes brasileira e argentina, Marcelo Peroni e Paula Querido; além dos promotores de escuta nos hospitais e demais autoridades. 

“Assim como todas as vezes em que escutamos as crianças, esta iniciativa pioneira nos hospitais de Jundiaí e Buenos Aires não é mais do que o cumprimento do artigo 12 da Convenção sobre os Direitos da Criança da Organização das Nações Unidas (ONU), que garante a elas o direito de se expressar acerca dos temas que as impactam. E o cuidado com a saúde delas lhes é certamente de interesse. Quando elas são escutadas, não só se sentem participantes das mudanças, como obtêm até mais rapidamente sua recuperação. Chegará o dia em que todas elas poderão gozar desse direito e o sorriso delas é uma prova suficiente de que escutá-las vale a pena”, disse Tonucci.

Projeto de escuta em Jundiaí

Peroni falou das frentes de escuta no Município e agradeceu o acolhimento do hospital à proposta. “A escuta das crianças em Jundiaí está vinculada aos eixos ‘Promover a Participação’ e ‘Garantia de Autonomia’ do programa Cidade das Crianças e se dá, principalmente, em três frentes: com o Comitê das Crianças, os Conselhinhos nas escolas da rede municipal e no Hospital Universitário. Atualmente somos cinco promotores de escuta e, obviamente, o nosso não é um olhar clínico e técnico, mas traz uma abordagem por meio do diálogo e do brincar, já tendo se revelado transformador, não somente nos resultados já obtidos, como também junto à equipe hospitalar”, comentou o gestor de Cultura de Jundiaí.

Já o Dr. Rodrigo apresentou um histórico da escuta para os participantes. “Com diversas conquistas já obtidas, a escuta no HU completou recentemente seis meses de implementação oficial, mas o projeto vem se desenvolvendo há mais tempo. Em outubro de 2022, recebemos a visita do Comitê das Crianças ao hospital e, em março do ano passado, a visita do Tonucci e da Lorena, que já trouxeram suas contribuições. Trata-se de um movimento de humanização muito grande e que já tem gerado mudanças de comportamento da própria equipe, que, espontaneamente, também tem trazido ideias novas, como a visita dos irmãos mais velhos para o bloco neonatal e a visita dos cães de estimação à brinquedoteca. Tudo isso, acompanhado da excelência técnica, tem trazido também resultados relevantes na efetividade clínica do hospital.”

Projeto na Argentina

O Dr. Javier compartilhou ainda algumas das novidades no hospital portenho que resultaram da escuta das crianças. “É motivo de muita alegria ver o quanto uma proposta que se iniciou em plena pandemia de Covid-19 e que tem só três anos já contribuiu tanto para os nossos caminhos profissionais e nossas vidas. Da escuta das crianças, surgiram ideias fantásticas, como a introdução de mais cores ao ambiente hospitalar, majoritariamente branco; a criação de sessões de cinemas para elas no domingo à tarde, momento indicado por elas como o mais triste da rotina hospitalar; e da tomada de protocolos que protegiam o direito delas à privacidade. Hoje, no hospital, profissional nenhum entra no quarto sem pedir licença, e as crianças, por sua vez, têm a liberdade de transitar pelos corredores e chamar seus amigos para brincar.”

Lorena recordou a visita que fez ao HU durante o Encontro de Cidades das Crianças, promovido pela Prefeitura, em 2023. “Hoje temos a alegria de compartilhar com os demais integrantes da Rede as inúmeras conquistas resultantes desse trabalho. Trata-se de um intercâmbio inspirador e transformador. Não só no tratamento dessas crianças, como para os demais pacientes e para a vida das cidades e de seus cidadãos em gerais, reforçando a necessidade de que haja canais de escuta das crianças na rotina de nossas vidas.”