Homem negro ao lado de carro vermelho apontando para faról
Jayme tira de de R$ 4 mil a R$ 5 mil por mês (Foto: Larissa Melo/Tribuna de Jundiaí)

Qual o segredo do sucesso? Para Jayme Lima, de 35 anos, é a humildade, força de vontade e superação. Após viver 10 anos nas ruas, ele deu a volta por cima e, hoje, lucra com seu negócio de polimento de faróis automotivos

Para saber um pouco mais sobre a história que encantou Jundiaí, o Tribuna de Jundiaí conversou com ele para saber mais detalhes que mostram que 2019 foi um ano especial para Jayme. 

Leia a entrevista na íntegra:

Tribuna de Jundiaí: O que te fez morar nas ruas? Como era seu passado?

Jayme Lima: Fui para as ruas por causa da depressão e tinha problemas com álcool desde os 13 anos. Antes das ruas, eu tive uma vida normal. Comprava e vendia carros, tinha uma oficina mecânica, mas um dia coloquei a mochila nas costas e cai no mundo com depressão. Depois disso, fiquei com vergonha de voltar pra casa da minha família e o tempo foi passando… quando percebi já tinha dez anos, mas queria sair daquele círculo Praça da Sé, São Paulo, para me distanciar das más companhias, do álcool e das ruas. A rua vicia e cria uma falsa zona de conforto, você recebe algum tipo de ajuda e quando percebe não tem mais força para sair.

Depressão e alcoolismo levaram Jayme para as ruas de São Paulo (Foto: Arquivo Pessoal)

TJ: Já sofreu algum tipo de preconceito nas ruas?

JL: Sofri muito preconceito nas ruas de São Paulo e tenho até indenização de um grande supermercado. Entrei com um cobertor nas costas e os seguranças me agrediram, ganhei em primeira e segunda instância, mas na época gastei tudo com bebida. 

TJ: Quando você decidiu sair da rua para procurar ajuda? O que te motivou?

JL: Eu morava na Zona Norte de São Paulo, mas quando fui para ruas fiquei em abrigos, dormia muito nas rodoviárias Barra Funda e Tietê, onde cheguei ficar até um ano antes de voltar a dormir nas ruas novamente. Sai da rua por causa de uma tragédia. Eu publicava meu dia a dia na internet, mas levei um soco no olho e levaram meu celular. Naquele dia, procurei minha tia porque não conseguia ficar na rua naquela situação. 

TJ: Como você conheceu Jundiaí? 

JL: Conheci uma pessoa em Jundiaí, em 2017, pela internet. Ela acompanhou minha história pelo jornal “A Folha” que eu tinha uma página que contava sobre o meu dia a dia nas ruas. Vim pra cá, fiquei um tempo com ela, mas não deu certo. No entanto, gostei muito da cidade. Após o término do relacionamento, tive recaídas e voltei para ruas de São Paulo com a cabeça em Jundiaí. Na mesma dificuldade quis resgatar minha vida social, descarreguei um caminhão, ganhei R$ 50 e comprei o material de polimento, fiz uns cartões e comecei a divulgar. No começo, acabei dormindo na rua, mas os guardas municipais, funcionários do Hospital Paulo Sacramento e do Compre Bem me passaram serviços e me ajudou bastante. Trabalhei num posto de combustível desativado da Avenida dos Ferroviários, mas após um acidente, decidi que sairia daquele local. Então, fui para o Bolsão da Avenida Nove de Julho, conheci o pessoal do estacionamento e eles me cederam um espaço na frente do JundiaíShopping. 

TJ: Quando você decidiu abandonar o alcoolismo?

JL: Sou alcoólatra há mais de 20 anos, meu primeiro gole foi aos 13 anos, mas no último 15 de novembro, decidi declarar o fim do álcool em minha vida. Cervejinha de fim de semana nunca mais!

TJ: Você recuperou o contato com a sua família? 

JL: Tenho contato com a minha tia de Caieiras (SP) que é minha mãe de criação. Minha mãe, que mora no interior, também me visita, mas fiquei três anos sem falar com ela por vergonha. Hoje, perdi a vergonha e todo mundo sabe que morei na rua. 

TJ: Por qual motivo decidiu promover ações voluntárias em Jundiaí?

JL: Nunca sofri preconceito em Jundiaí! Por isso, tive a cobrança de fazer algo pela cidade para agradecer, como a revitalização do lago e as doações de leite, roupas e alimentos que entrego para instituições.

Homem negro de roupa social ao lado de rapaz jovem de barba com carrinho de compras com leites
No mês passado, Jayme trocou serviço por leite e conseguiu arrecadar 150 litros (Foto: Arquivo Pessoal)

TJ: Qual é o faturamento atual do seu empreendimento?

JL: Tiro em média de R$ 4 mil a R$ 5 mil por mês. Com isso, consegui alugar uma casa no Bela Vista, consegui abrir conta em banco e pretendo expandir meus serviços. 

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