Marcos Galdino
Foto: Prefeitura de Jundiaí

Com 46 anos de experiência na área de infraestrutura e um histórico de atuação em importantes frentes de trabalho na cidade, o engenheiro civil Marcos Galdino é o atual gestor de Infraestrutura e Serviços Públicos de Jundiaí. Com um currículo que inclui passagens marcantes pela concessionária AutoBan e pela Prefeitura, onde colaborou com sete diferentes gestões, Galdino acumula vivência prática e técnica em obras de grande impacto para a população.

Nesta edição do Entrevistão, ele fala sobre o programa “Quem Ama, Cuida”, iniciativa voltada à zeladoria e manutenção dos bairros de Jundiaí, que vem se consolidando como um modelo de eficiência e proximidade com as demandas da comunidade. Na entrevista, o gestor detalha os objetivos da ação, os resultados alcançados e os desafios enfrentados no cuidado diário com a cidade.

Como surgiu o programa “Quem Ama, Cuida” e qual é a principal proposta dele para a cidade?

O programa “Quem Ama, Cuida” foi introduzido a partir a partir de março desse ano. Nós trabalhamos janeiro e fevereiro de maneira aleatória, fazendo as zeladorias da cidade como um todo, com equipes espalhadas e percebemos que quando a gente juntou equipes, ele rendia melhor, tanto a fiscalização quanto a eficiência da zeladoria.

Então, nós tivemos a ideia de criar como se fosse um mutirão. A gente junta várias equipes no mesmo na mesma região e a fiscalização tem um poder melhor sobre as empresas. As empresas trabalham mais, o serviço aparece mais, há um rendimento maior. Então, chega no final do dia, no final da semana, a gente tem uma eficiência maior na zeladoria da cidade.

Programa Quem Ama Cuida, em Jundiaí
Foto: Prefeitura de Jundiaí

O “Quem Ama, Cuida” abrange basicamente cinco pontos: roçagem, a poda de árvores, operação tapa-buraco, o desentupimento de galerias (bocas de lobo) através de caminhões hidrojato e a parte da iluminação pública. Então, a gente faz tudo isso quando a gente está numa região.

Nós pegamos uma região, por exemplo, a Agapeama: o que que está perto da Agapeama? Vila Cristo, Vila São Paulo, toda aquela região lá próxima da Agapeama, colocamos numa única região, colocamos todas as equipes lá e o serviço aparece com mais eficiência.

O nome do programa tem uma conotação afetiva. Qual foi a intenção ao escolher esse nome?

A ideia do “Quem Ama, Cuida” partiu do “Jundiaí é da Gente”, que é outro slogan da gestão. Então se Jundiaí é da gente, nós temos que cuidar. E se a gente cuida, automaticamente veio aquela ideia de quem ama, cuida, né? Então, foi uma analogia que surgiu naturalmente por parte da Comunicação. Eu achei que foi uma uma feliz coincidência. O nome ficou legal.

A gente tem tentado trazer o munícipe para gostar de Jundiaí, fazer o munícipe participar da gestão.

Ele que está lá no bairro, ele vê uma balança que está quebrada, nos avisa, a gente conserta. Se todo mundo cuidar um pouquinho de onde mora, Jundiaí vai ficar muito melhor para se viver, né?

Até o momento, quantos bairros já foram atendidos pelo programa?

351 bairros. Jundiaí tem tudo isso. Quando você fala assim: “Onde você mora?” A pessoa fala: “Mora no Retiro”. Às vezes ela nem sabe que ela mora na verdade na Vila Alvorada. Às vezes na mesma comunidade tem vários nomes.

Vila Hortolândia contempla a Cidade Santos Dumont, Cidade Luísa, Vila Shangai. Então, quando você fala: “Eu estou lá na na Hortolândia”. Ali engloba oito, nove bairros. Então, Jundiaí tem 351 bairros. E nós já passamos por ele uma vez, estamos passando pela segunda vez. Faltam só três regiões pra gente passar pela segunda vez e completar dois ciclos em todos esses bairros.

E tem plano de isso ser contínuo, né?

Ela não vai parar, a zeladoria da cidade. Cada vez que a gente passa numa região, a gente percebe que ela melhora, porque no começo do ano o mato estava com dois metros de altura. Agora a gente chega na mesma região que a gente já cortou, ele está com meio metro, ele está bem mais fácil do que ele estava em janeiro desse ano, que a gente pegou a cidade com uma situação de zeladoria parada, então estava tudo muito ruim.

A gente não quer parar, para que sempre seja mais rápido a passagem e mais eficiente, né? Você pega o mato baixo, você corta melhor, ele fica mais rente. Então, a gente está notando que nessa segunda passada está rendendo mais o trabalho.

Existe uma meta de cobertura para 2025, de chegar no terceiro ciclo, ou vai parar no segundo?

Não, nós não vamos se esgotar. Ele vai ficar, a ideia é ficar até o fim da gestão, não interromper.

Porque zeladoria não acaba nunca. Você tem novos buracos – você tampa o buraco, surge outro -, o mato não para de crescer, as lâmpadas continuam a queimar, você tem que substituir. O serviço de zeladoria é mais ou menos como a dentro da nossa casa. Não acaba nunca, né? Todo dia você tem que arrumar uma cama, todo dia tem coisa para fazer.

Como é elaborado o cronograma das ações e a participação dos munícipes na definição das prioridades?

No programa “Quem Ama, Cuida”, nós dividimos a cidade em 10 regiões e percorremos toda cidade. A gente caminha no sentido horário. Por exemplo, nós estávamos na região do Jardim Guanabara, nessa semana nós estamos na região do Varjão, Novo Horizonte, Residencial Jundiaí. Na semana que vem que a gente inicia um novo ciclo, nós vamos estar na região do Traviú, Água Doce, Bom Jardim. A gente vai rodando a cidade.

Nós temos 10 regiões e ficamos uma semana em cada região, fazendo todo esse mutirão. Quando a gente sai, a ideia é que o bairro esteja tudo bonitinho, limpinho, com lâmpada acesa e tudo mais. Então nós vamos indo nessa sequência. São regiões preestabelecidas que a gente dividiu a cidade de R1 até R10. Tem umas menores, outras maiores, dependendo da situação. Assim que a gente vai indo.

A gente publica no site da Prefeitura, no Portal da Transparência, aonde a gente está aquela semana e aonde nós estaremos na próxima semana. Assim o munícipe pode consultar e saber quando que chega na rua dele, no bairro dele.

É importante registrar que uma pessoa pode pensar assim: “Pô, mas vai demorar 10 semanas para chegar no meu bairro”. Mas fora o “Quem Ama, Cuida”, nós temos duas equipes em cada região norte, sul, na leste e na oeste. Então, se ocorre uma ocorrência inesperada, um vendaval derruba uma árvore na Agapeama e eu (do programa de zeladoria) estou aqui no Novo Horizonte, eu continuo com o “Quem Ama, Cuida” e uma equipe volante vai lá e atende emergencialmente aquilo que aconteceu. E essa equipe volante, se ela não tem ocorrência, ela já fica adiantando lá, cortando roçada, cortando a praça, de tal maneira que quando eu chegar com o “Quem Ama, Cuida” lá, já está adiantado o meu trabalho e aí rende meu serviço.

Programa Quem Ama Cuida, em Jundiaí
Foto: Prefeitura de Jundiaí

Qual o tipo de impacto o senhor tem percebido nas regiões beneficiadas? A população tem respondido positivamente o programa?

A gente percebe que a população tem gostado sim, porque é visível que a cidade já melhorou bastante o visual. Como eu te disse, no começo tinha muito mato, tinha 2 mil buracos na cidade, 16% das lâmpadas estavam apagadas num parque de 65 mil lâmpadas, é muita coisa, né?

Hoje esse índice está em torno de 8%, reduzindo para metade e nós vamos chegar a 3% que é o ideal. Então nós estamos baixando bastante essa demanda. Buraco, por exemplo, nós já controlamos. Nós estamos já numa numa situação de normalidade, já não tem mais aquele desespero de ter buraco pela cidade toda. Então, na medida do possível, as coisas vão melhorando.

E claro, quando você melhora a aparência, mais a cidade vai ficando mais bonita, mais limpa, o morador, claro, que vai gostando. A gente sente esse acolhimento da população.

Além do aspecto visual e funcional, há impactos em áreas como segurança, saúde pública ou valorização desses bairros?

Tudo está interligado. Quando a gente corta mato, por exemplo, faz a roçagem, você diminui o número de animais peçonhentos, de rato, de escorpião, você contribui contra a dengue, né? Então está muito interligado na área da saúde.

Quando você ilumina melhor a via pública: a gente também tem um programa de LED. Por enquanto nós estamos acendendo as lâmpadas apagadas. Em seguida, nós vamos começar a substituir essas lâmpadas, aquela lâmpada amarela que você vê à noite por lâmpada LED, que ela tem uma eficiência maior, ela ilumina mais, é muito bonito quando você pega uma avenida toda com LED. O que que acontece? Você torna a via mais segura, melhora para a guarda municipal, o aspecto da segurança. Então, tudo é muito interligado, né?

Quando você faz as zeladorias na cidade, você vai deixando ela mais bonita, mais saneada, menos doente e mais segura.

O programa ajudou a reduzir reclamações ou chamados em relação à zeladoria urbana?

Programa Quem Ama Cuida, em Jundiaí
Foto: Prefeitura de Jundiaí

O Jundiaiense reivindica bastante, né? Ele é bem atuante nisso. Para você ter uma ideia, nós temos aproximadamente 200 chamadas no 156 por dia – 156 é o nosso telefone que o munícipe entra em contato com a prefeitura. Se ele tem uma reclamação para fazer, ele disca 156 e nós temos uma central de atendimento que anota a queixa do munícipe. Duzentas reclamações diárias, faça uma ideia, como o jundiaiense é exigente e interage com a gente, né?

Isso é constante, essa média vem se mantendo desde o início, porque as pessoas reclamam de tudo, sabe? Que tem um enxame de abelha na árvore, tudo, tudo que você pode imaginar. Nossa lista do 156 tem 44 itens de que você pode reclamar. Então não é só roçagem, iluminação. Tem tudo, tudo que você pode imaginar. Eles vêm alguma coisa na rua, eles ligam no 156 para a gente socorrer. Então essa interação ela existe e é bom. Porque você cria uma interação entre o munícipe e a prefeitura.

Como o cidadão pode participar das ações do “Quem Ama, Cuida”?

O munícipe pode contribuir. Porque, por exemplo, nós temos ecopontos pela cidade para que a pessoa possa descartar até 1 m³ do de material de construção civil. Às vezes a pessoa está reformando o seu banheiro, ela junta lá quatro latinhas de entulho. O que que ela faz? Aonde eu jogo? Ela pode descartar, botar no porta mala do carro e ir até um ecoponto e descartar.

Nós temos uma deficiência de ecoponto. Nós só temos meia-dúzia, seis ecopontos ao longo da cidade. Nós precisamos criar mais ecopontos, porque aí facilita esse descarte. Aí o que que ocorre quando a gente não tem ecoponto? As pessoas descartam de maneira irregular, num cantinho, numa esquina, numa praça pública, onde ninguém está vendo. E aí então a gente tem equipes para recolher esse descarte regular.

Então uma maneira da população nos ajudar é mostrando, nos indicando aonde ela encontra alguma coisa regular, algum descarte regular e aciona a gente pelo 156, para que a gente limpe e deixe a cidade bonita, né?

Como a prefeitura avalia o sucesso do programa até agora?

Tenho recebido muitos elogios.

A gente já fez uma entrevista para uma TV de Campinas que veio até aqui, até uma emissora de São Paulo. Sinal que o programa está dando certo.

A gente percebe que as pessoas já falam “Quem Ama, Cuida”, a gente têm percorrido os bairros e as pessoas já estão adotando o programa, está ficando na boca do povo. “Quando o ‘Quem Ama, Cuida’ vai chegar aqui?” Então a gente percebe que foi um sucesso. Até visualmente você percebe que ele teve um efeito positivo. Então a recepção da população tem sido muito positiva.

Há planos para expandir ou aprimorar o “Quem Ama, Cuida” com novas ações ou tecnologias?

O principal que eu vejo é criar mais ecopontos para a pessoa poder descartar o lixo para não jogar em qualquer lugar. Porque a pessoa acaba dando essa desculpa: “Ah, eu não sabia o que fazer”. Então, por praticidade ela acaba descartando em lugares que às vezes pode contaminar o lençol freático. Então, a ideia do programa, eu acho que a gente precisa investir mais em ecopontos.

Lá no Tamoio tem um Balsão, uma região que o pessoal tem baixo poder aquisitivo, tem muito lixo. No São Camilo tem muito lixo, no Santa Gertrudes. Então, são os três lugares que eu estou mais objetivando em construir ecopontos, talvez eu até consiga construir um esse ano ainda. A gente está com restrição orçamentária, mas estamos colocando no orçamento no ano que vem, pelo menos para fazer uns três ecopontos ao longo da cidade.

Eu estive em Salto, que tem quase 30 ecopontos e é uma cidade com um terço do tamanho de Jundiaí. Então, para você ver como que a gente está atrasado nesse aspecto.

Temos que criar mais ecopontos para poder cobrar da população a limpeza da cidade.

Que mensagem o senhor deixaria a população sobre a importância de cuidar de espaços públicos?

A população é nossa maior parceira, nosso maior fiscal. Nós temos bastantes fiscais na rua, mas nada supera o morador do bairro, aquele que está lá vendo as coisas e aquele que está lá reivindicando aquilo que tá errado.

Então, às vezes ele vê um fio caído na via, ele tem que reclamar e a gente está aqui é para atender a população. Então, a gente não fica bravo com com solicitações, não, pelo contrário, a gente agradece.

A população é a maior fiscal que a gente tem. Então, nós temos um exército de fiscais na rua, né?