A inteligência artificial está provocando um abismo social sem precedentes
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Opinião

A inteligência artificial está provocando um abismo social sem precedentes

Artigo por Everton Araújo, brasileiro, economista e professor universitário.

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A mudança é a única coisa permanente na vida, e o medo da transição pode provocar reações diversas nos humanos. Alguns temem e criam resistências às novidades por receio das dificuldades de adaptação, já outros mais ousados veem oportunidades para avançar na direção imposta pela revolução. Com o advento da cibernética está ocorrendo um desmantelamento do ordenamento social em uma velocidade cada vez maior, bem diferente de outras invenções impactantes na jornada humana.

Basta um simples toque na tela na palma da mão que o cidadão terá acesso a inúmeros produtos, serviços e informações gerais. As big tech que permitiram tais conquistas continuam evoluindo e ofertando novas tecnologias. Esse fenômeno ocorre na mesma proporção que aumentam o “poder” dos monopólios globais e acumulam valores monetários exorbitantes que superam o produto interno bruto de muitas nações do grupo das vinte mais ricas do mundo. Essa concentração “suprema” é tão perigosa que pode ser comparada a um artefato atômico controlado por um ditador desequilibrado e ganancioso. 

As gerações anteriores presenciaram grandes greves de trabalhadores, principalmente nos países da periferia capitalista com o intuito de atrasar ou até barrar a substituição do homem pela máquina. Os intelectuais apontavam que a tecnologia não desempregava e apenas promovia o deslocamento do trabalhador para outras atividades, assim como ocorreu na primeira revolução industrial na Europa no século XVIII, também marcadas por grandes conflitos entre trabalhadores e patrões. Outra justificativa que atualmente se sustenta é a de que países que estão na vanguarda das tecnologias mantem taxas de desemprego baixas e com níveis de rendas elevados.

Não faltam exemplos, basta verificar as principais nações do ocidente e algumas asiáticas como Singapura, Taiwan e até mesmo a China em constantes avanços. Outra premissa que pode ser observada nos países ricos é a correlação entre o crescimento econômico lento e a tecnologia sendo utilizada para reduzir custos. Ocorrendo situação inversa nas economias que apresentam processo contínuo e taxa elevada de crescimento.

O agravante está justamente nas atividades que formam as classes médias e que estão sendo exercidas por robôs conectados as redes de computadores e reduzindo a qualidade de vida desse grupo, pela dificuldade de recolocação com rendas iguais ou superiores. Fenômeno mais comum nas regiões subdesenvolvidas nas quais a educação, mas séries primárias têm dificuldades diversas, dada ao atraso na formação de pedagogos e uma pedagogia excludente. Com efeitos na capacidade do adulto em aprender novas tecnologias dada a deficiência na formação de base.

Esse movimento de degradação do mundo do trabalho natural ao subdesenvolvimento está atingindo alguns extratos sociais nas regiões ricas do planeta, e os profissionais afetados são altamente qualificados e ocupam boas posições no organograma das maiores companhias do mundo. Os descartes de profissionais ganham espaços nos noticiários até da grande imprensa que sempre fez vistas grossas para essas transformações.

Algumas das maiores empresas de tecnologia do mundo demitiram mais de 150 mil trabalhadores nos últimos meses, atingindo ate os setores técnicos, os quais são mais difíceis de serem substituídos. Isso pode se alastrar por todas as empresas do planeta, pois não passa de um experimento para atualizar seus produtos e serviços tendo suas bases como cobaias o que aumenta a confiança de possíveis clientes.

Ainda resta uma luz no fim do túnel, que está justamente na educação de base, que passa por reformulação continua nos países de primeiro mundo, e a estratégia é permitir a readaptação continuada dos profissionais às transformações inevitáveis na jornada da humanidade. No Brasil tem alguns movimentos localizados, mas sem efeitos práticos, muitos municípios criam até bons apelos, mas não avançam na pratica, pois o proposito e apenas usar como bandeiras de promoção politica.

Os slogans são audíveis com incitações a inovação e acolhimento infantil, até com datas comemorativas, eventos e demonstrações de inventos sem nenhuma atividade pedagógica e desconectada da realidade dos alunos e sem extensão até as unidades familiares, algo comum nas classes mais acima que por sobrevivência apoiam essa divisão. Infelizmente o processo brutal de obsolescência humana está em vigor no planeta e o que mais incomoda é a ausência de sinais de reação em uma Nação como o Brasil. Estamos caminhando rumo a um abismo social sem precedentes e uma massa crescente de excluídos dependentes de renda básica. O debate agora não é mais exclusão do trabalhador e sim obsolescência humana. É um avanço do processo de exclusão ou uma lógica da modernidade?

Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam necessariamente as ideias ou opiniões do Tribuna de Jundiaí. Everton Araújo é brasileiro, economista e professor.

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