O Brasil ostenta um exército de jovens sem futuro
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Opinião

O Brasil ostenta um exército de jovens sem futuro

Artigo por Everton Araújo, brasileiro, economista e professor universitário.

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Sala de aula vazia
Foto: MJP/Canva

O Relatório Education at a Glance, divulgado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) infelizmente apontou mais um grave problema para a sociedade brasileira. De acordo com o documento, 35,9% dos jovens brasileiros entre 18 a 24 anos não tem nenhum tipo de ocupação, ou seja, não trabalham e nem estudam há mais de doze meses. Esse indicador corresponde a um universo de 14 milhões de pessoas, isso representa mais de um terço da população do Canadá e o dobro dos habitantes do vizinho Paraguai. É lamentável que esse contingente enorme fique fora dos indicadores de desemprego publicado pelos órgãos oficiais, no entanto invisíveis para os formuladores de politicas públicas.

A tese mais difundida que aponta o atraso de uma nação está condicionada a fatores culturais, geográficos ou educacionais como a origem da diferença entre ricos e pobres, mas não é regra, pois dois conceituados professores de economia dos Estados Unidos, após um minucioso estudo publicaram o livro “Por que as Nações Fracassam“, no qual demonstram que essa lacuna em muitos países teve início na formação das instituições estatais e da sociedade civil, que em cada país aconteceu em um momento diferente e determinou o caminho de desenvolvimento de cada sociedade. No caso da América Latina apontam que as instituições estatais foram criadas por elites colonialistas para explorar as pessoas e serviram de modelo para as demais organizações.  

Os escritores deixam claro que não deve retirar os méritos dos heróis da independência de alguns países, como no Brasil, pois a soberania foi um passo importante, mas mostram que não mudou muito as coisas e em alguns lugares, isso piorou ainda mais quando foram às elites locais que se tornaram os novos senhores da exploração. Por aqui os efeitos continuam visíveis em todos os cantos e os dados apontados acima é apenas um dos diversos problemas que nos assolam como sociedade. Evidentemente não pode culpar os mártires por algumas falhas, pois pertenciam ao coração da nobreza e seus projetos eram impulsionados por esses aristocratas. Essa situação já dura séculos, não de uma forma estatista e imutável, as pessoas que governam o Brasil hoje não se assemelham às que governavam no século XIX, por exemplo, mesmo porque novas empresas foram formadas e novos líderes surgiram, mas o sistema político permaneceu amplamente extrativista, opressor e corrupto.

O Estado continua servindo de base para a manutenção de uma oligarquia egoísta que se apropriam dos recursos naturais sem contrapartidas sociais, utilizam o orçamento público como diferencial competitivo através do acesso privilegiado a subsídios e se beneficiam de uma gigantesca massa de pobres sem capacidade critica e dispostos a servi-los, induzidos pela narrativa da esperança de que dias melhores virão e também acometidos pelo medo da fome extrema, pois pregam que podem perder o que nem possuem e dessa forma não pressentem que estão sendo enganados. No instante em que rabisco esses parágrafos o debate político está em curso para saber que vai comandar um dos dez maiores orçamentos públicos da terra. No entanto estão mais preocupados em distribuir côdeas de pão para garantir o crédito do voto, a buscar soluções para essa legião de jovens que seguem invisíveis aos olhos dos que ocupam o trono e excluídos pelos empresários, que nada contribuem com a formação e qualificação de mão de obra pra aumentar o seu lucro.

Não há luz no fim do túnel, as instituições estão moldadas para manter o sistema da servidão. Basta observar as milenares assembleias da fé que estão perdendo a essência e sendo conduzidas por mercadores de indulgências, que criam espetáculos para promover o negócio, enriquecer e manter a massa distraída. Por outro lado a escola deixou de ser a porta de saída para a miséria, e a sua falência como instituição pública é evidente pelo acesso ao ensino de qualidade restrito as classes sociais ricas. Sem alternativas para inserir esses jovens na produção, a sociedade continuará com níveis de produtividades baixos e os políticos fazendo do assistencialismo uma plataforma permanente de realizações. Parafraseando o filosofo alemão Nietzsche, somos uma sociedade conduzida por uma elite pobre, pois está sempre dando esmolas e se vangloriando pela ação.

Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam necessariamente as ideias ou opiniões do Tribuna de Jundiaí.

Everton Araújo é brasileiro, economista e professor.

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Opinião por Miguel Haddad: Inundações no RS e o papel das cidades na luta contra o desequilíbrio do Clima

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Visão aérea de Porto Alegre - RS alagada
Foto: Gustavo Mansur/ Palácio Piratini

O Rio Grande do Sul sofre nos últimos dias pela série de inundações devastadoras, resultantes das incessantes chuvas que assolaram a região. Com mais de uma centena de vítimas fatais e milhares de desalojados, estas enchentes se tornaram o pior evento climático da história do estado, desencadeando uma discussão urgente sobre os fatores que contribuíram para essa catástrofe e como…

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A corrupção é uma tempestade permanente e contribui diretamente com o caos provocado pelos desastres naturais

Artigo por Everton Araújo, brasileiro, economista e professor universitário

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Jones Henrique Martins, Gestor de Governo e Finanças de Jundiaí
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Opinião

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Artigo por Everton Araújo, brasileiro, economista e professor universitário

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Foto: Canva

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