Bolsonaro é a maior ameaça ao combate à Covid-19 no Brasil, diz revista inglesa Lancet
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Bolsonaro é a maior ameaça ao combate à Covid-19 no Brasil, diz revista inglesa Lancet

Revista aponta o “desencorajamento” do isolamento social do presidente e a exoneração de ministros nas últimas três semanas como fatores de risco

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Jair Bolsonaro, à esquerda; foto de página de revista, à direita
Bolsonaro é a maior ameaça ao combate à Covid-19 no Brasil, diz revista inglesa Lancet (Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil - montagem Tribuna de Jundiaí)

A maior ameaça à resposta do Brasil ao Covid-19 é seu presidente, Jair Bolsonaro (sem partido), mais empenhado em uma guerra contra a ciência do que contra o novo vírus.

O diagnóstico está no editorial publicado na quinta-feira (7) pela prestigiosa revista científica britânica The Lancet, que nomeia Bolsonaro como “líder ‘e daí?'”, em referência à resposta dada pelo presidente a jornalistas quando questionado sobre a recente escalada no número de mortes por Covid-19 no país.

De acordo com o texto, Bolsonaro não só “semeia confusão, desprezando e desencorajando abertamente as medidas de distanciamento físico e confinamento” como também “perdeu dois importantes e influentes ministros nas três últimas semanas”, numa desorganização com consequências fatais que também indicaria a erosão moral de sua liderança.

“É desesperador que o governo brasileiro não esteja seguindo as recomendações das comunidades médica e científica do país”, disse o médico e editor da Lancet, Richard Horton, à reportagem ao explicar as motivações para a publicação do editorial. “O Brasil tem alguns dos melhores cientistas e pesquisadores do mundo, e o governo precisa ouvir esses profissionais e confiar neles.”

O editorial descreve o Brasil como um terreno pantanoso mesmo sem o jogo contra de lideranças políticas: 13 milhões de brasileiros residentes em favelas, falta de saneamento e acesso a água, ameaças a populações indígenas vulneráveis à ação de madeireiros e garimpeiros, que agora trazem, além da destruição da floresta, também uma nova doença.

Também condena os ataques à ciência protagonizados pelo atual governo, que ignora as recomendações da comunidade científica e, ao fazer isso, trai a população do país. “Há cientistas brasileiros que são líderes globais em muitos domínios, e esse é um recurso poderoso no qual um país deve se apoiar para o bem da sua população. É por isso que eu chamo o comportamento de Bolsonaro de uma traição a seu povo. E isso é imperdoável”, disse Horton.

Diante de uma pandemia global, por que escrever sobre o Brasil?

Richard Horton – A gente tem acompanhado os eventos no Brasil, o sexto maior país do mundo, com mais de 200 milhões de pessoas. Estamos no meio de uma emergência humanitária global, o que significa, literalmente, que a vida de milhões de pessoas está em risco no Brasil a menos que as medidas corretas de saúde pública e de controle epidemiológico sejam tomadas pelo governo.

É desesperador que o governo brasileiro não esteja seguindo as recomendações das comunidades médica e científica do país. O Brasil tem alguns dos melhores cientistas e pesquisadores do mundo e o governo precisa ouvir esses profissionais e confiar neles. Ao contrário, o presidente tem apresentado um comportamento negligente e inacreditavelmente perigoso, o que é chocante para aqueles que se importam com o futuro do Brasil.

Você vê alguma situação semelhante no mundo?

RH – Sim. Nos Estados Unidos da América. O presidente Trump e o presidente Bolsonaro estão agindo de maneira semelhante. Trump dá declarações profundamente não científicas, que levaram os EUA a ter o maior número de mortes em todo o mundo.

Minha aflição é que Bolsonaro esteja conduzindo o Brasil para uma disseminação fora de controle do vírus, a não ser que o Brasil adote as medidas corretas, como o distanciamento social, de maneira agressiva e urgente. Trata-se de uma emergência global, e o presidente precisa se comportar de acordo porque seus cidadãos e trabalhadores da saúde estão nas linhas de frente, em clínicas, hospitais e comunidades, tentando defender a saúde da população brasileira.

Por seu comportamento atual, o presidente está traindo seu povo. Ele é o grande e único obstáculo a resposta brasileira à pandemia baseada em ciência.

O governo cortou verbas de ciência e pesquisa, e é acusado de disseminar fake news, além de atacar a imprensa. Como esta campanha de deslegitimação da informação com lastro agrava o quadro atual?

RH – A política criada por Bolsonaro pode ser chamada de uma guerra contra a ciência e ela colocou o Brasil numa situação de grande risco. O país está certamente mais fraco e vulnerável por conta disso. Em 20 anos da The Lancet, acompanhamos o desenvolvimento da ciência no Brasil como um dos grandes sucessos do país. Instituições como a Fiocruz não são apenas centros nacionais de excelência, são pólos internacionais de excelência. Os cientistas brasileiros são líderes globais em muitos domínios, e esse é um recurso poderoso no qual um país deve se apoiar para o bem da sua população. E é nada menos que uma tragédia que o governo não reconheça, abrace e apoie essa comunidade. E é por isso que eu chamo o comportamento de Bolsonaro de uma traição a seu povo. E isso é imperdoável.

O Brasil pode se tornar o novo epicentro da pandemia global?

RH – Esse é o maior medo. O comportamento do presidente é de desprezo pelas recomendações científicas, e esse é um exemplo nocivo para o país. O perigo é quando o vírus irromper pelas comunidades mais pobres e mais remotas, onde o acesso a atendimento médico já é precário.

Sabemos agora que não se trata de um vírus como o influenza. Trata-se de vírus que demanda a internação de cerca de 20% dos doentes. Destes, metade acaba nas unidades de terapia intensiva, com alto risco de morte. Essas mortes são passíveis de prevenção se frearmos o vírus. E isso quer dizer que a liderança política do país tem de agir rápido e decididamente para diminuir sua transmissão.

Quais seriam as soluções para a epidemia no país?

RH – Todas essas mensagens tem sido emitidas pelas comunidades médica e científica do Brasil de maneira clara e potente. É inexplicável, para aqueles que olham para o Brasil desde fora, que seu presidente não esteja ouvindo aos melhores conselheiros que poderia ter nessa área. Diante do perigo de que a curva de contágio e de mortos se acentue, seria necessário um período de “lockdown”, o que causaria danos econômicos.

Estamos passando por isso agora no Reino Unido. A China e partes da Europa já passaram por isso. Se você precisa parar a disseminação do vírus, precisa fazer o “lockdown”, do qual tem de sair de maneira lenta e cautelosa para então reconstruir sua economia e seu sistema de saúde. Do contrário, o vírus pode causar uma catástrofe humanitária como aquela vista na Itália.

Além do presidente, cuja posição você conhece, poucos governadores do país consideram o sistema de “lockdown”.

RH – O que aprendemos com Hong Kong é que a única maneira de escapar do lockdown é criar medidas muito rígidas de distanciamento social combinadas com ampla testagem de casos suspeitos, seguida de um rastreamento detalhado dos contatos prévios dos indivíduos que testaram positivo e de sua quarentena. Se você consegue aplicar essas medidas, pode evitar o “lockdown”. Se você não pode, precisa isolar as pessoas.

No Brasil, com 13 milhões de pessoas vivendo em favelas, fica difícil praticar o distanciamento social. Também sei que não há tantos testes disponíveis em boa parte do país. E aí está minha preocupação: uma explosão do vírus caso o “lockdown” não seja implementado. Não sei detalhes da capacidade das UTIs brasileiras, mas elas provavelmente não serão suficientes para tamanha demanda.

Ao agir contrariamente as recomendações da ciência e da medicina, Bolsonaro pode ser responsabilizado por parte das mortes por Covid-19?

RH – Em democracias, os políticos só são responsabilizados nas urnas. Em tese, portanto, o presidente só pagaria por sua negligência em 2022. Mas a mídia e a comunidade científica o tem responsabilizado. A meu ver, trata-se de um comportamento criminoso. E meu temor é que milhares de brasileiros ainda precisem morrer para que a sociedade civil brasileira diga “chega”.

FERNANDA MENA – FOLHAPRESS

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