O Brasil tenta se equilibrar na corda bamba da geopolítica global
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Opinião

O Brasil tenta se equilibrar na corda bamba da geopolítica global

Artigo por Everton Araújo, brasileiro, economista e professor universitário.

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Foto: Freepik

Vendo a empolgação nas batidas do martelo da B3, pelo Governador do Estado de São Paulo Tarcísio de Freitas, quando entregou mais uma estrutura estatal paulista a uma empresa submissa às leis do Partido Comunista da China, fiquei intrigado com a cena, por se tratar de um politico que prega a negação ao sistema de organização social comunista. Mas sabedor de que na politica muita coisa fica no campo da retórica para enganar as massas, além disso, também sei da capacidade que o dinheiro tem para anestesiar as mentes, derreter os corações e conter os ressentimentos.

O capital compra tudo, até a pose dos moralistas mais furiosos. Esse fato ocorrido na B3 com a presença de políticos ditos liberais é apenas a continuação dos projetos de privatizações, conforme escrito nas cartilhas neoliberais adotadas pelo PSDB de Geraldo Alckmin e João Dória, ambos venderam as companhias de energia para empresas do governo comunista da China e com a mesma verborragia anticomunista e a falácia do estado mínimo.

Entretanto diante das circunstancias ampliei o campo de analise, ou seja, para a conjuntura da geopolítica global e o Brasil no contexto. O País foi colônia de exploração de Portugal durante séculos, e mesmo depois da Independência em 1822, não se libertou das amarras do perverso colonialismo ocidental. Durante a Guerra Fria se equilibrou na corda bamba da bipolaridade até o Golpe Militar de 1964, idealizado, financiado e sustentado pelo novo ator na saga imperialista, os Estados Unidos da América.

O Brasil passou a ser uma colônia de exploração estadunidense e um mercado consumidor da obsolescência industrial da potencia capitalista em evidência. Os resultados desse alinhamento foi um endividamento externo sem precedentes, liberdades vigiada, hiperinflação, concentração de rendas, sucateamento da indústria e pobreza. E na tentativa de corrigir toda essa desgraça aproveitou a pressão da sociedade brasileira por liberdades e a submeteu a um processo de neocolonização, com desenvolvimento derivado de uma matriz controlada e sustentado por uma democracia que já nasceu fragilizada pela aplicação das reformas estruturais impostas pelo Consenso de Washington.

A estabilidade da nova moeda e a abertura comercial apesar das adversidades serviu de bases para modernizar alguns setores da economia, mas aumentou a precarização do trabalho. As crises globais dificultou a estabilidade do crescimento econômico do Brasil, ao contrario do que ocorreu na China que não aderiu ao modelo neoliberal. No ano 1994, Brasil e China ostentavam produtos internos brutos equivalentes, em torno de 540 bilhões de dólares, já no primeiro ano do século XXI o PIB chinês já era o dobro do brasileiro.

Essa independência da China permitiu um avanço sem precedentes, pois atualmente é o maior exportador e importador do mercado mundial, tem domínio pleno de tecnologias de vanguarda, um mercado consumidor em crescimento constante e continua disputando com o EUA o posto de maior economia do planeta, além de orientar o jogo geopolítico e o cenário econômico em todos os pontos da terra.

Josep Borrell, chefe da política externa da União Europeia (UE), comentou sobre as tensões geopolíticas atuais no mundo e as relações da Europa com o Sul Global, declarando que a era do domínio ocidental terminou definitivamente. Ele enfatizou que se as atuais tensões geopolíticas globais continuarem a se desenvolver na direção de Ocidente contra os demais, o futuro da Europa corre o risco de ser sombrio. E digo se o Brasil não buscar uma direção vai cair junto, mas em pisos diferentes.

Enquanto o ocidente se preocupa em solucionar os conflitos bélicos fornecendo armas, o gigante asiático fornece produtos não letais da sua tecnologia e faz investimentos diretos como estratégia para um desenvolvimento compartilhado, sem por enquanto exigir garantias aos tesouros nacionais. Ao contrario do modelo capitalista moderno que para se sustentar exigem políticas de austeridade, as quais corroem até a democracia, conforme citado na obra “A Ordem do Capital” da autora italiana Clara Mattei.

Câmbio flutuante, superávit fiscal e meta de inflação é uma estrutura macroeconômica que combate à ideia de desenvolvimento econômico, é possível afirmar, apenas observando as economias subdesenvolvidas que adotaram esse tripé. Ao contrario da China que criou um sistema econômico alternativo, com a participação mais ativa das pessoas na economia e com representação indireta na política. A China tem o núcleo duro do Partido Comunista, alicerçado pela Assembleia Popular Nacional, sem sufrágio universal e não aceita interferências externas. Será esse o segredo do sucesso?

Decisões econômicas são políticas e desafiar o sistema atual exigirá esforços substanciais, no entanto não acredito que os brasileiros estão dispostos a fazer. Vão abraçar o que é conveniente para seus projetos de governo, enquanto lavam as mãos para o futuro da Nação. Mesmo porque se estivessem dispostos à ruptura com o modelo esgotado proposto pelo ocidente, não camuflavam a origem do capital e adotavam um projeto de Nação, sem submissão. Será que o caminho apontado é um novo modelo de colonização?

Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam necessariamente as ideias ou opiniões do Tribuna de Jundiaí. Everton Araújo é brasileiro, economista e professor.

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Foto: Canva

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Foto: José Cruz/Agência Brasil

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Elon Musk
Foto: Reprodução/Youtube

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