Com as atrocidades das guerras promovidas também por empresas as quais aproveitam as demandas nos campos de batalhas para aumentar seus lucros atendendo as demandas dos Estados promotores de conflitos armados. A sociedade global “consciente” continua questionando os incentivos que as companhias empresariais fornecem para guerras. Entretanto empresas administradas por gestores gananciosos não se negam a abocanhar os fartos orçamentos públicos ditos de defesa e fornecem artefatos militares, serviços hospitalares, suprimentos alimentares e outros tantos utilizados na logística da operação dos campos de extermínio de jovens.
Obviamente que após as carnificinas ocorridas no século passado uma boa parte das corporações voltou suas estratégias para questões humanitárias. Muitas estão saindo do campo das intenções e mesmo abusando da retorica para promover suas marcas poderosas já é possível perceber alguns avanços. Mas poderiam ampliar seus códigos de conduta nas cadeias de fornecimentos, algo possível devido o seu poder de barganha e ajudar os agentes públicos a organizar as relações sociais evitando até apelos nefastos sobre o papel do Estado na sociedade moderna.
É possível perceber as transformações culturais em empresas transnacionais e nas nacionais listadas na Bolsa de Valores, principalmente em suas peças publicitárias, pois é nítida a pluralidade humana. Acredito que isso somente é possível, pois internamente já construíram equipes inclusivas e diversas para recrutar e capacitar talentos e transformar intenção em ação. Apostar em processos inclusivos de seleção e buscar reduzir vieses inconscientes reconhecendo o potencial de cada cidadão independente de raça e gênero. Muitas empresas já têm estabelecido metas robustas em todas as posições abertas para que sejam preenchidas por candidatos com as diferentes dimensões de diversidade da sociedade e tornar o balanço social um ato de transparência de todas suas ações sociais.
O papel da empresa na sociedade não pode ser limitado à geração de empregos e ao pagamento de tributos como defendido por economistas liberais da escola americana. A empresa moderna tem funções pedagógicas na sociedade atual, pois pode estabelecer processos livres de preconceitos ao promover a diversidade estabelecendo um código de conduta capaz de criar um ambiente de respeito para todos, conduzindo os negócios de tal maneira que ela se torne parceira e corresponsável pelo desenvolvimento social.
No Brasil já tem empresas fazendo processos seletivos afirmativos para determinados grupos sociais, como estratégia de inclusão. Magazine Luiza, Vivo, Bayer e Diageo promoveramrecentemente programas de trainees apenas para candidatos negros, a iniciativa tem como objetivo aumentar a reduzida presença de executivos pretos e pardos em seu corpo de funcionários. Essas medidas combatem a discriminação racial, étnica, religiosa ou de gênero, esse movimento é também uma tentativa de reparar seu caráter histórico. Nessa linha as empresas de economia mista e estatais atendem a Lei de cotas raciais nos seus processos seletivos.
Sutilmente empresas mundo afora estão adotando práticas sigilosas para incluir outras minorias como gays, lésbicas, travestis e afins em seus quadros de funcionários, além do lançamento de produtos destinados a esses grupos. Apesar das resistências de grupos sociais estabelecidos, conforme previsto pelo sociólogo alemão Ulrich Beck na obra “A Sociedade de Risco” o processo inclusivo é civilizatório. Tenho plena convicção de que essas ações inclusivas vão ajudar a promover a tolerância e conscientizar de que somos humanos, porem diversos.
Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam necessariamente as ideias ou opiniões do Tribuna de Jundiaí. Everton Araújo é brasileiro, economista e professor.