Softwares de Orçamento: Vantagens e Riscos
Conecte-se conosco

Opinião

Softwares de Orçamento: Vantagens e Riscos

Artigo por Profª Esp. Rosângela Castanheira, Tecnóloga em Construção Civil e proprietária da empresa TRÍADE Engenharia de Custos.

Publicado

em

Atualizado há

Homem em frente à computador
Foto: Dollarphotoclub

Tenho sido sempre questionada em sala de aula, nos meus cursos sobre Orçamento de Obras, sobre os melhores programas de orçamento. Alguns me perguntam inclusive qual software eu vou ensinar… Eles justificam dizendo que o uso de planilhas eletrônicas toma muito tempo, tempo esse roubado do processo de coleta de preços, tido por eles, como o mais importante no processo orçamentário. Destacam também, como grande vantagem, os bancos de dados de composições unitárias, prontos para serem usados.

A todos esses questionamentos e argumentos, tenho sempre respondido que mais importante que eleger um software, é saber desenvolver o processo orçamentário todo “na unha”, pois todo e qualquer programa apenas automatiza procedimentos, nos servindo como ferramenta.
Todos os programas de orçamento de obras são bons. Todos cumprem a sua proposta, cada um com a sua particularidade, claro. Mas todos são excelentes ferramentas. Eu mesma faço uso de várias ferramentas dessas, todas muito boas, todas fazendo exatamente o que se propuseram a fazer.

Mas o fato de usar um programa de orçamento, não nos torna nem orçamentistas e nem engenheiros de custos. Também não nos desobriga de avaliar e criticar o produto final que a ferramenta oferece. Pelo contrário, nossa atenção deve ser muito maior, pois o “piloto automático” nos coloca em risco. Não se pode delegar o processo à ferramenta e ficar atento apenas às cotações de preços. O processo orçamentário precisa ser desenvolvido com atenção, técnica, minúcia e experiência.

A questão das quantidades bem calculadas e sob as regras dos Critérios de Medição e Remuneração (CMR), é fundamental. Um orçamento com quantidades erradas, para nada serve… E como consequência dos CMR, o uso do banco de dados correspondente, banco esse que precisa também ser analisado.

O motivo da análise? Saber se a produtividade das composições que fazem parte do seu orçamento reflete a produtividade da sua equipe. Verificar se a quantidade de serviço prevista por dia trabalhado é maior, menor ou compatível com a quantidade que o seu profissional ou equipe executa. Se isso não for observado, você ou estará vendendo mal o seu serviço (sua equipe é mais produtiva) ou estará em prejuízo, pois sua equipe pode ter capacidade de produção aquém da considerada na composição unitária.

Deve-se também analisar o consumo dos materiais por unidade de serviço conforme a qualidade dessa mesma mão de obra, que pode produzir perdas muito maiores que as previstas. No caso de bancos de dados que fornecem atualização de insumos, é preciso que a análise se estenda também a esses itens, caso se queira cotar apenas itens muito específicos do projeto, aproveitando os valores do programa em uso.

E você só vai saber tudo isso se estiver acostumado a “ler” as composições unitárias!
Mas se você apenas escolhe as composições no banco de dados do seu software preferido, você pode estar correndo alguns riscos… Veja esses dois exemplos de composições unitárias de serviços corriqueiros, alvenaria de vedação e armação CA-50:

  • Alvenaria de vedação, executada com bloco de concreto dim. (14x19x39)cm, assentados com argamassa mista de cimento, cal e areia, traço 1:0,5:8 (m2).

O coeficiente da areia, que tem um erro de digitação (0,023546 m³/² é o correto), faz com que o custo unitário do serviço seja 1,38 vezes maior (R$ 62,86/m² é o valor correto do serviço). Indica também o consumo, e consequente compra, de quase 1m³ de areia a cada m² de alvenaria executado.

  • Armação de aço CA-50, Ø 12,5mm considerando corte, dobra e colocação (kg)

O valor do insumo máquina elétrica dobradora de aço foi lançado como aquisição, não como custo horário de utilização (R$ 18,50/h) , fazendo com que o custo seja 232 vezes maior (R$ 9,72/kg é o valor correto do serviço). Esses dois exemplos são reais, e me deparei com eles na minha atividade profissional. Evidentemente não são casos de má fé, mas equívocos a que todos nós estamos sujeitos. O fato de terem sido publicadas e disponibilizadas para uso, torna tudo um pouco mais complicado, mas uma vez constatado o erro, a correção foi feita pelos responsáveis, nas duas situações.

O uso de programas e bancos de dados pré-instalados, sejam eles públicos ou particulares, é de fato uma grande ajuda para o desenvolvimento de um orçamento. Porém, o olhar crítico do profissional é indispensável, pois o risco pode se sobrepor à vantagem. 
Será que você vai passar a observar com mais afinco as composições unitárias do banco de dados do seu software de orçamentos?
Eu aconselho!

Em tempo:

  1. Todos os bancos de dados de composições unitárias disponibilizados, sejam eles de preços públicos ou não, são elaborados com todo rigor técnico e são de grande importância ao dia a dia dos profissionais da Engenharia de Custos.
  2. A finalidade desse texto é sobre como utilizar esses bancos de dados, tirando o máximo de proveito das informações valiosas que eles apresentam e saber reconhecer as semelhanças ou diferenças entre as situações estatísticas que eles apresentam com a situação específica de cada empresa;
  3. As duas composições apresentadas foram ajustadas rapidamente pelos responsáveis dos bancos de dados aos quais pertencem, e foram por mim guardadas para, especificamente, ilustrar a importância de análise crítica de todo conteúdo técnico na minha atividade de docência;
  4. Os insumos dessas duas composições foram atualizados da data base da época para data base de junho/2017 por minha conta e risco, apenas para ilustrar o exemplo.

Artigo por Profª Esp. Rosângela Castanheira, CRK possui Certificação por Notório Saber em Engenharia de Custos pelo International Cost Engineering Council (ICEC), é Tecnóloga em Construção Civil (FATEC-SP) e pós-graduada em Gestão Estratégica de Custos (INPG). Proprietária da empresa TRÍADE Engenharia de Custos, com 33 anos de mercado. Participante das Comissões Especiais de Estudo da ABNT CEE-162 (Elaboração de Orçamentos e Formação de Preços de Empreendimentos de Infraestrutura”, ABNT NBR 16633/2017) e CEE-ABNT 134 (“Modelagem de Informação da Construção“, ABNT NBR 15965/2014). Professora em cursos de pós-graduação na temática BIM. Pesquisadora de BIM 5D, tornou-se referência no assunto, sendo sempre requisitada para falar sobre o tema. Idealizadora dos projetos Terças de BIM®, Mentoria em Orçamento de Obras e Faça BIM!®.

Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam necessariamente as ideias ou opiniões do Tribuna de Jundiaí.

Opinião

Agência Moody’s confirma a recuperação da credibilidade da economia brasileira

Artigo por Everton Araújo, brasileiro, economista e professor universitário

Publicado

em

Por

Foto: Canva

As últimas décadas do século XX foram determinantes para a modelagem da ordem mundial vigente e a acumulação financeira condicionando à produtiva e dando origem a um tipo de capitalismo com menor dinamismo e maior instabilidade quando comparado ao sistema vigente no pós-guerra e, além disso, inverteu o sentido de determinação das crises que passaram a originar-se na órbita financeira…

Continuar lendo

Opinião

Planejar a cidade

Artigo por Jones Henrique Martins, Gestor de Governo e Finanças de Jundiaí

Publicado

em

Por

Jones Henrique Martins, Gestor de Governo e Finanças de Jundiaí
Foto: Arquivo pessoal

Ao construirmos uma casa, necessitamos de planejamento e fundações sólidas. Assim também funciona com uma cidade: não há espaço para projetos desorientados, baseados em proposições meramente empíricas e desprovidas de sustentação orçamentária, sem unidade estratégica. O governador Mário Covas dizia que governar exige dizer sim, mas também dizer não. Acrescento que o que se diz, na prática, deve reverberar os…

Continuar lendo

Opinião

Os efeitos da escravidão promovida pelos colonizadores continuam impedindo o avanço da economia brasileira

Artigo por Everton Araújo, brasileiro, economista e professor universitário

Publicado

em

Por

Foto: Canva

O Brasil em pleno século XXI ainda enfrenta distorções na economia e desigualdade social por causa do longo período escravocrata e pela maneira como ocorreu o processo de abolição. As deformações na economia brasileira foram criadas a partir do momento em que a escravidão foi mantida, pois era a base do sistema legal desprezando o capitalismo como sistema de organização…

Continuar lendo

Opinião

Lula festeja o crescimento da economia e o povo ainda não

Artigo por Everton Araújo, brasileiro, economista e professor universitário

Publicado

em

Por

Presidente Lula
Foto: José Cruz/Agência Brasil

As projeções para a economia brasileira são positivas e o governo aproveita para promover as suas conquistas dando publicidade para a posição do Brasil no ranking das maiores economias global, e com isso vai camuflando o problema endêmico da distribuição de rendas. O Fundo Monetário Internacional (FMI) revisou suas projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2024…

Continuar lendo

Opinião

Elon Musk ataca a democracia no Brasil, tentando barrar a BYD e amenizar sua agonia

Artigo por Everton Araújo, brasileiro, economista e professor universitário.

Publicado

em

Por

Elon Musk
Foto: Reprodução/Youtube

O ambicioso, controverso, arrogante e polêmico bilionário sul africano Elon Musk, em uma entrevista à Bloomberg em 2011, caiu na gargalhada quando o repórter sugeriu a BYD como possível rival da gigante Tesla no setor de veículos elétricos. Musk respondeu com empáfia, perguntando se alguém já tinha visto um carro da marca chinesa, subestimando qualquer possibilidade de algum terráqueo superar…

Continuar lendo
Publicidade