Medicamentos sem eficácia contra a Covid se tornam problema adicional para médicos
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Medicamentos sem eficácia contra a Covid se tornam problema adicional para médicos

Mais da metade dos médicos brasileiros reconhece a ineficácia da cloroquina e da ivermectina no tratamento contra a Covid, segundo uma pesquisa realizada pela Associação Médica Brasileira e pela Associação Paulista de Medicina

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Medicamentos sem eficácia. (Foto: Divulgação)
(Foto: Divulgação)

O laboratório Merck Sharp & Dohme, que fabrica o medicamento ivermectina, divulgou uma nota em que declara que não existe base científica que indique efeitos terapêuticos desse medicamento contra a Covid em estudos pré-clínicos- ou seja: testes com cobaias, como camundongos, por exemplo.

O laboratório declarou, também, que não existe evidência significativa de eficácia clínica em pessoas que contraíram o coronavírus. A ivermectina é indicada para o combate de verminoses – piolho também.

A Anvisa já declarou que o medicamento deve ser usado apenas para este fim, como consta na bula. Mas o presidente Jair Bolsonaro e o Ministério da Saúde estimularam o consumo desse medicamento e de outros, que também não têm eficácia, como um suposto tratamento precoce da Covid. E isso acabou se tornando um problema adicional para os médicos na pandemia, como mostra a reportagem de Ben-Hur Correia e Laura Nonohay.

Cloroquina, remédio usado no tratamento da malária; ivermectina é um vermífugo; e azitromicina, antibiótico. Remédios que ficaram ligados à pandemia.

Muitas pessoas, ao apresentarem os primeiros sintomas da Covid, tomam esses medicamentos sem nenhuma orientação médica, na esperança de que eles possam evitar o agravamento da doença. Além do risco da automedicação, existe um outro problema: depois de um ano do aparecimento do coronavírus, nenhuma pesquisa ao redor do mundo comprovou a eficácia desses remédios.

Um estudo feito pela Associação Médica Brasileira e pela Associação Paulista de Medicina mostra que 65,3% dos médicos avaliam a cloroquina como ineficaz para o tratamento e 58,6% afirmam que a ivermectina não tem nenhum efeito.

“Essas drogas, esses tratamentos não mostraram que possam alterar o curso da doença, tampouco o desfecho final mais temido, a morte por agravamento da doença. Ademais, essas medicações têm efeitos colaterais”, afirma o presidente da AMB, Cesar Eduardo Fernandes.

São esses efeitos que agora preocupam médicos no país inteiro. Fernando Chagas é diretor do complexo hospitalar Clementino Fraga, referência no combate à Covid na Paraíba. Ele relata o caso de um paciente que apresentou uma arritmia cardíaca enquanto tomava cloroquina e ivermectina associados, na fase inicial da doença.

“Nos deparamos com alargamento do intervalo QT. Esse intervalo do QT alargado evidencia, para gente, uma demora maior que o coração sofre para recarregar entre uma batida e outra. É um tipo de arritmia que pode ser perigosa. Então, diante de uma situação dessas, a gente tem que suspender de imediato as medicações”, diz Fernando Chagas.

O professor de emergências clínicas da USP Luciano Cesar Azevedo conta que tem sido comum pacientes chegarem aos hospitais com complicações pelo abuso dessas medicações.

“O risco é de interações medicamentosas significativas. Você tem uma medicação que potencializa o efeito da outra e a gente tem visto paciente que tem tido efeitos adversos, tipo dor de cabeça, diarreia, alterações hepáticas”, conta Luciano.

“Eu já acompanhei histórias com hepatites medicamentosas por abuso desse medicamento, uma quantidade muito grande de azitromicina, e de outros que acabaram levando o paciente a uma hepatite medicamentosa”, afirma Fernando Chagas.

O casal de infectologistas, Tassiana e Gustavo Galvão, que trabalha no hospital estadual Franco da Rocha e em Cajamar, interior de São Paulo, também começou a ficar alarmado.

“A gente já viu em UTIs onde a gente trabalha ou em relatos de amigos próximos, pancreatite, a gente já viu insipiência renal por vitamina D, a gente já viu muito descontrole diabético, glicêmico, pelo uso excessivo de corticoide. Inclusive a piora do quadro na própria Covid, porque têm pacientes usando doses altas disso já no primeiro dia”, diz Tassiana Galvão.

A médica intensivista Ivone Meneguella viu o irmão sofrer com a Covid. Edson tomou cloroquina, mas a família tem histórico de problemas cardíacos. “Quando ele tomou o segundo comprimido, ele se sentiu muito mal. No terceiro comprimido, ele referia que o coração batia na boca”, conta.

Edson morreu depois de 14 dias de internação e Ivone acredita que o remédio agravou o quadro. “Foi nas 36 horas subsequentes que ele começou esse tratamento. Ele evoluiu mal e precisou ser entubado e ao final do período ele morreu”, diz Ivone.

Depois da morte do irmão, ela juntou amigas médicas para criar um grupo de combate à fake news sobre a Covid. “Não acredite em nada que seja fácil, porque a Covid não é fácil. Se existisse um tratamento que evitasse mortes, eu teria dado para o meu irmão. Vacinem, por favor, vacinem”, pede Ivone.

Um levantamento do Conselho Federal de Farmácia, divulgado pelo G1, mostra que a venda desses remédios disparou em 2020. A venda de hidroxicloroquina aumentou 113%, e de ivermectina, 557%.

Desde a metade de 2020, as principais entidades médicas e de pesquisa dos Estados Unidos e do Reino Unido reforçam a falta de embasamento científico desses medicamentos no tratamento da Covid. E, mais recentemente, esse passou a ser também o entendimento da Anvisa.

“Até o momento, não contamos com alternativa terapêutica disponível para prevenir ou tratar a doença causada pelo coronavírus”, afirmou Meiruze Freitas, presidente da Anvisa, em 17 de janeiro.

Mas no dia seguinte à liberação das vacinas no Brasil, o presidente Bolsonaro voltou a falar na suposta existência de alguma forma de prevenção terapêutica da Covid. “Não desista do tratamento precoce. Não desista, tá?”, disse Bolsonaro.

No mesmo dia, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, negou ter falado em tratamento precoce e, sim, em atendimento precoce: “Não confundam o atendimento precoce com definição de que remédio tomar”.

Mas, no início de janeiro, Pazuello defendeu o tratamento ao lado de Bolsonaro em uma transmissão ao vivo pela internet. “É fundamental. Não existe outra saída senão diagnosticarmos pelo médico o mais rápido possível e iniciar o tratamento precoce o mais rápido possível”, disse Pazuello na ocasião.

Desde o inicio da pandemia, o governo insistiu em comprar e distribuir esses medicamentos. Uma semana antes de faltar oxigênio nos hospitais de Manaus, o Ministério da Saúde enviou milhares de comprimidos de cloroquina para a capital do Amazonas, como consta em um documento da Advocacia Geral da União em resposta à cobrança de um plano de enfrentamento da crise da Saúde no estado. A Procuradoria-Geral da República está investigando o caso.

Para o presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, o governo federal errou. “O governo federal deve fazer um ‘mea culpa’ e, se não quiser falar que errou, pelo menos mudar a sua conduta, parar de dizer que a cloroquina vai salvar vidas ou evitar doenças”, diz Clovis Arns da Cunha.

O presidente da Associação Médica Brasileira esclarece que medicamentos podem ser usados em casos de combate à infecção, mas não como tratamento precoce.

“Buscar, em tempo correto, tratamento para atenuar a evolução da doença quando ela já está ficando grave. Aí sim tem medicações que podem, em casos mais graves, serem salvadoras. Como, por exemplo, os corticosteroides, os anticoagulantes. Mas não como tratamento preventivo, como tratamento de doença nas suas formas mais graves”, afirma Cesar Eduardo Fernandes, presidente da AMB.

O presidente do Conselho Federal de Medicina, órgão que regula a atividade médica no Brasil, afirmou que não recomenda o tratamento precoce, mas dá autonomia aos médicos.

“O Conselho Federal de Medicina não apoia o tratamento precoce e o Conselho Federal de Medicina também não proíbe que o tratamento precoce seja realizado, porque a ciência não concluiu em relação aos benefícios ou não do chamado tratamento precoce. O parecer do Conselho Federal de Medicina delega a decisão de realizar ou não o tratamento precoce para o médico e para o paciente, dentro das suas autonomias, que são garantias constitucionais. Então, cabe ao médico que quer tratar, realizar o tratamento. E aquele que não quer tratar, não realizar o tratamento. E cabe ao paciente que quiser ser tratado, poder realizar o tratamento, e aquele que não quer ser tratado, não realizar o tratamento”, diz Mauro Ribeiro, presidente do Conselho Federal de Medicina.

O posicionamento deixa médicos que estão na linha de frente apreensivos: “Acho que isso é um grande problema, porque dizer que o médico tem autonomia, claro, a gente tem autonomia. Mas a gente não está livre para fazer qualquer coisa também. A gente tem um limite ético que a gente precisa e isso precisa estar respaldado”, diz Tassiana Galvão.

Questionado sobre o tratamento precoce contra a Covid, o Palácio do Planalto afirmou que o Ministério da Saúde iria responder. O ministério declarou que não prescreve medicamentos, nem o ministro Eduardo Pazuello; que apenas um profissional de saúde pode indicar o melhor tratamento e receitar remédios, sempre em concordância com o paciente; e voltou a afirmar que o que chamou de atendimento precoce é importante para evitar casos graves da doença.

Com informações do G1.

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