Revisei mais uma vez o livro The Vanishing Middle Class: Prejudice and Power in a Dual Economy do Professor de Economia do prestigiado Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), com o objetivo de tentar entender um cenário complexo como a guerra. A economia sempre foi o causa dos conflitos entre os impérios nos últimos séculos e a elite imperialista não podendo mais reinvestir o excedente econômico nos departamentos produtores de bens de capitais ou nos bens de consumo, respectivamente devido à estagnação ou mesmo queda na demanda, o sistema é obrigado a investir continuamente na produção de armamentos e promover eventos bélicos financiados pelos orçamentos públicos planificados para esses fins.
A desigualdade de renda aumentou mais nos Estados Unidos do que em qualquer outro país desenvolvido desde 1980 conforme o último Relatório de Desenvolvimento Humano do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD). O país ostenta atualmente os piores índices de pobreza entre os componentes da OCDE, com cerca de 10% da população vivendo abaixo da linha oficial da miséria.
O empobrecimento que já era uma realidade na sociedade americana foi agravado pela crise financeira de 2008 que levou muitos cidadãos a perder até suas casas. As dificuldades na economia americana obrigou o novo governo a aprovar um pacote de ajuda financeira para amenizar os impactos da recessão agora estimulados pelo vírus. Segundo o Federal Reserve o aporte de três trilhões de dólares não será suficiente para fazer girar a roda da economia e outras frentes breves serão necessárias.
Por ser a maior economia do mundo e ter autonomia para emitir moedas, consegue aumentar o endividamento público sem sofrer consequências nos títulos da divida, porque as demais nações do mundo ajudam a carregar o risco e o conflito na Europa obriga os países ricos da região a financiar a indústria bélica americana e ameniza as ameaças a sua hegemonia econômica.
A economia de guerra passa a ser uma poupança externa para a poderosa economia dos Estados Unidos e matem em movimento suas engrenagens internas com a demanda por defesa em regiões que não tinham nem orçamento para tal. Como exemplo a Alemanha que está disponibilizando cerca de 3% do produto interno bruto para o setor, retirando de educação e saúde sem medir as consequências breves.
A corrida para ofertar armas para a Ucrânia chega à euforia e não é doação e sim estimulo a indústria americana e dívida aos integrantes do bloco Atlântico Norte que aumentaram a compra de equipamentos de proteção para suas bases com tecnologia americana. A Polônia pobre assim como a Ucrânia que perdem milhões de habitantes para os vizinhos ricos explorar, já assinou um contrato para a compra de 250 tanques pesados M1A2 Abrams, gastando US$ 4,75 bilhões convencendo a população que é para o bem de todos.
Saliento que a neutralidade do governo brasileiro nesse conflito não pode ser vista como negativa, pois ao escolher um lado as consequências virão. Somos vizinhos da América do Norte, mas o histórico de dependência e segregação nos permite a ficar de fora dessa mesa para não ter que dividir a conta. Apesar da distancia dos asiáticos a agricultura brasileira tem toda a cadeia produtiva ligada naquela região.
São os grandes fornecedores de insumos e os maiores compradores do produto final, então a diplomacia brasileira mais uma vez analisou com racionalidade o jogo e a decisão correta é a neutralidade. A guerra é cruel, mas por aqui temos muitas a ser combatidas e aguardo o “clamor” e a solidariedade do mundo rico.
“Quando os ricos fazem a guerra, são sempre os pobres que morrem”. Jean-Paul Sartre
Everton Araújo é brasileiro, economista e professor
Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam necessariamente as ideias ou opiniões do Tribuna de Jundiaí.