Queremos independência!
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Opinião

Queremos independência!

Artigo por Everton Araújo, brasileiro, economista e professor universitário.

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Foto: Canva Pro

No dia 7 de setembro de 1822, às margens do Rio Ipiranga em São Paulo, Dom Pedro I proclamou a Independência do Brasil. O país ganhou voz, cores, símbolos e organizou as instituições da Monarquia que durou apenas 67 anos, caindo diante de um Golpe de Estado organizado pelas elites escravocratas e militares. Os produtores de commodities insatisfeitos com a queda nas margens de lucro com o fim da escravidão e os homens de farda cobravam mais participação nas decisões do Estado, além de reconhecimento e salários dignos.Essa forma de governo parecia à consolidação da independência diante da possibilidade da sociedade escolher os seus governantes de forma democrática e com base nos princípios republicanos escritos por Platão, tendo na Justiça o eixo principal e a Democracia como regime politico. Em treze décadas a república continua como começou com viés despótico e servindo a mesma minoria que a instituiu. Infelizmente durante esses dois séculos de emancipação politica de Portugal, a dependência econômica, intelectual e tecnológica continua e parece ser os pilares de sustentação das atrasadas elites brasileiras, que continuam combatendo com até morte a luta pela independência da maioria excluída.

Uma economia quando não existe o domínio sobre a vanguarda tecnológica, ficará extremamente vulnerável às alterações da demanda, que varia constantemente por consequência das inovações permanentes. Essa imposição é excludente e dificulta os padrões educacionais desde a base até a universidade. Saliento que a formação técnica devido a esse desenvolvimento derivado é ainda mais afetada com a obsolescência breve das técnicas profissionais, algo comum por aqui.Algumas nações asiáticas já romperam essa barreira com movimentos revolucionários capitaneados por uma elite responsável e atualmente estão na vanguarda, enquanto países com recursos mais abundantes continuam dependendo de ciclos e se submetendo a novas formas de colonialismo.

O processo de produção intelectual baseado na reprodução do “pensamento” do centro capitalista e sem autonomia para formação de uma consciência critica e coletiva para debater os problemas nacionais continua impedindo a busca por autonomia no campo das ideias. A postura e a concepção crítica vêm sofrendo retaliações e, assim, a universidade passa a repetir manuais estrangeiros moldados para diminuir a amplitude do conhecimento e manter a dependência. Acadêmicosde economia, por exemplo, não estuda a critica ao capitalismo de Karl Marx, fica preso nospensamentos da escola de Cambridge. Muitos saem da faculdade sem acesso a obras de pensadores brasileiros, pois nunca foi apresentada a literatura de Celso Furtado e Caio Prado Júnior, entre outros, são induzidos a analisar os economistas ligados ao mercado financeiro como Francis Fukuyama e Roberto Campos. Esse movimento também ocorre nas escolas de base, nas quais a pedagogia é baseada em autores estrangeiros e sem adaptação a realidade do continente Brasil, mantendo os elos com as colônias europeias e dificultando a construção de uma identidade nacional.

A submissão econômica continua nos moldes da Era Colonial, com o aprofundamento da relação de dependência do país importador de bens de capital e fiel exportador de matérias primas. Ao recorrer a Marx percebo que essas relações são marcadas,pela mais-valia relativa e pela constante modernização da tecnologia, fazendo com que as existentes se tornem defasadas, gerando uma baixa taxa de lucro, que em contrapartida, se compensa mediante aos procedimentos da exploração exaustiva do trabalho. Além das circunstâncias peculiares que favorecem, nas economias agrárias e mineiras, a alta rentabilidade do capital variável, aeconomia dependente segue expandindo suas exportações, a preços sempre mais compensadores para os países desenvolvidos e, simultaneamente, mantém sua atração para os capitais estrangeiros, alongando assim o processo de subordinação produtiva. Para facilitar o entendimento basta analisar a cadeia do agronegócio brasileiro, na qual as grandes empresas estrangeiras como Bunge, Monsanto, Cargil e ADM controlam a produção de grãos e tecnologia biológica, e, todavia o fornecimento de equipamentos está concentrado basicamente em três empresas estrangeiras Caterpillar, John Deere e Massey Ferguson.

Dois séculos depois do Grito de “Independência ou Morte” do Imperador, a autonomia da maioria da população está perdida na esperança e o sangue do pobre continua tingindo as calçadas das grandes cidades, talvez como forma de garantir a “soberania” de quem ocupa ponto alto da pirâmide social, pra quem Pedro I bradou. Queremos Independência!

Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam necessariamente as ideias ou opiniões do Tribuna de Jundiaí. Everton Araújo é brasileiro, economista e professor.

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O petróleo não é o excremento do diabo e sim uma Dádiva de Deus

Artigo por Everton Araújo, brasileiro, economista e professor.

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Países do Oriente Médio, Nigéria, Venezuela, Irã, Angola, Congo, Argélia e Rússia são grandes produtores e exportadores de petróleo. Pertencem ou apoiam a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), um organismo com viés monopolista e autoritário. Mas além da terra rica, essas nações têm outras características similares como pobreza, concentração de rendas, aversão a institucionalidade democrática e são dominados…

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Opinião por Miguel Haddad: Inundações no RS e o papel das cidades na luta contra o desequilíbrio do Clima

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Visão aérea de Porto Alegre - RS alagada
Foto: Gustavo Mansur/ Palácio Piratini

O Rio Grande do Sul sofre nos últimos dias pela série de inundações devastadoras, resultantes das incessantes chuvas que assolaram a região. Com mais de uma centena de vítimas fatais e milhares de desalojados, estas enchentes se tornaram o pior evento climático da história do estado, desencadeando uma discussão urgente sobre os fatores que contribuíram para essa catástrofe e como…

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A corrupção é uma tempestade permanente e contribui diretamente com o caos provocado pelos desastres naturais

Artigo por Everton Araújo, brasileiro, economista e professor universitário

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Foto: Gustavo Mansur/ Palácio Piratini

Os Desastres Naturais são fenômenos que geram impactos nas sociedades humanas trazendo consequências graves para as pessoas. Obviamente muitos desses representam o ciclo natural da terra e ainda a ciência não desenvolveu instrumentos precisos de previsibilidade, para ajudar a amenizar os impactos sobre a vida e a economia. Atualmente, alguns eventos climáticos têm aumentado de maneira significativa, e os cientistas levantam hipóteses…

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Agência Moody’s confirma a recuperação da credibilidade da economia brasileira

Artigo por Everton Araújo, brasileiro, economista e professor universitário

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Foto: Canva

As últimas décadas do século XX foram determinantes para a modelagem da ordem mundial vigente e a acumulação financeira condicionando à produtiva e dando origem a um tipo de capitalismo com menor dinamismo e maior instabilidade quando comparado ao sistema vigente no pós-guerra e, além disso, inverteu o sentido de determinação das crises que passaram a originar-se na órbita financeira…

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Planejar a cidade

Artigo por Jones Henrique Martins, Gestor de Governo e Finanças de Jundiaí

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Jones Henrique Martins, Gestor de Governo e Finanças de Jundiaí
Foto: Arquivo pessoal

Ao construirmos uma casa, necessitamos de planejamento e fundações sólidas. Assim também funciona com uma cidade: não há espaço para projetos desorientados, baseados em proposições meramente empíricas e desprovidas de sustentação orçamentária, sem unidade estratégica. O governador Mário Covas dizia que governar exige dizer sim, mas também dizer não. Acrescento que o que se diz, na prática, deve reverberar os…

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