Um ano depois de Jundiaí confirmar o primeiro caso positivo do vírus SARS-CoV-2, o município vivencia o seu pior momento da pandemia. A afirmação é do superintendente do Hospital de Caridade São Vicente de Paulo (HSV), Matheus Gomes, que avaliou uma tendência de crescimento na demanda por leitos nas próximas semanas, ultrapassando a fase mais crítica já enfrentada na cidade.
“Na primeira fase da pandemia, o crescimento foi lento, semanal e gradativo. Neste ano, percebemos que as curvas são muito rápidas em relação ao aumento da gravidade dos casos. Demoramos três meses para chegar ao pior momento da pandemia. Agora, estamos vivenciando o pior momento, numa variação de 15 dias”, destacou Gomes, dia 8.
Para os profissionais da linha de frente do Hospital São Vicente, o aumento do número de casos positivos na cidade e a alta procura por leitos hospitalares são uma angústia sem fim. A primeira internação por Covid na instituição foi do paciente Patrick Lobo, 40 anos. Ele ficou cinco dias no hospital até receber alta sem sequelas.
Quando Patrick foi internado, Jundiaí já registrava 34 casos positivos confirmados. O primeiro registro de óbito na cidade após a confirmação do diagnóstico por Covid ocorreu dia 3 de abril. A vítima foi um homem de 72 anos, que possuía hipertensão arterial e diabetes.
Nesta sexta-feira (12), o município soma 27.118 casos positivos, 25.823 mil recuperados e 654 óbitos para a pandemia da Covid19, além dos leitos públicos e privados de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) próximos da máxima de ocupação.
No limite
Em entrevista ao Tribuna de Jundiaí, o cirurgião geral e diretor clínico do Hospital São Vicente, Frederico Michelino, explica que o paciente infectado pelo novo coronavírus requer uma alta demanda por cuidados hospitalares, o que deixa o profissional de saúde esgotado física e mentalmente.
“As equipes que estão trabalhando com os pacientes com Covid estão esgotadas. Apesar de serem profissionais preparados, estão todos cansados”, explica o cirurgião.
Ele enalteceu o trabalho dos profissionais de saúde do Hospital São Vicente, principalmente aqueles que estão no combate direto do vírus. “Há um ano esses profissionais realizam um trabalho de entrega e dedicação diária com todos os pacientes. Hoje, a palavra que descrevo de toda a equipe do hospital é superação”, elogia.
Durante este período, o Hospital São Vicente perdeu três colaboradores por Covid. Eles foram homenageados no aniversário de 118 anos do HSV com fotos em formato de estrelas em uma “árvore da vida”, instalada num painel gigante nos quartos revitalizados do hospital.
O HSV ressalta que não é possível identificar onde ou de que maneira os funcionários foram contaminados. “Reforçamos também que a instituição ofereceu todo o suporte necessário às famílias dos colaboradores e permanece a disposição para o que for preciso”, informou, por meio de nota enviado pela assessoria de imprensa.
Atualmente, o São Vicente conta com a 2.452 colaboradores. Deste total, 124 profissionais da enfermagem, seis psicólogos e 24 fisioterapeutas estão na linha de frente no combate ao coronavírus. A instituição conta também com a atuação de 15 a 20 médicos na linha de frente em cada plantão de 12 horas.
Vacinação: “Suspiro”
Todos os profissionais da linha de frente do Hospital São Vicente já foram vacinados. Eles receberam as duas doses da vacina CoronaVac, produzida pelo Instituto Butantan. Outros profissionais de saúde do hospital estão sendo imunizados com a mesma vacina e com doses da Oxford/AstraZeneca.
O diretor clínico do hospital afirma que a imunização desta equipe deu mais força para os profissionais continuarem trabalhando. “Eles estão se sentindo mais seguros”, destaca.
Para Michelino, a vacinação em massa é a maior esperança para combater a doença. Ele também destaca a importância das medidas de segurança sanitária, como o distanciamento social, o uso de álcool em gel e de máscaras. “A vacinação vai diminuir a transmissão da doença e a necessidade de internação, mas não vai acabar com a doença. Vamos ter que conviver por mais tempo com ela em uma situação pós-covid”, destaca.
Planejamento
Em novembro do ano passado, o Hospital São Vicente registrava 7 pacientes internados nos leitos Covi19. No início deste mês, o número saltou para 70 pacientes – aumento de 900% em pouco mais de três meses, que gerou 80% de ocupação dos leitos. Hoje a necessidade de internações vem superando a velocidade de criação de leitos.
Desde o início da pandemia, o HSV convive com os altos e baixos nos leitos hospitalares e o diretor destaca a importância do planejamento para atender os pacientes com Covid. Ele recorda que entre julho e agosto do ano passado, o hospital atingiu o pico de atendimento, com 170 pacientes internados.
Há 15 dias havia 135 pessoas internadas em Jundiaí, nos hospitais púbicos e privados. Hoje são 281 pessoas, quer dizer, em menos de 15 dias este número mais do que dobrou. Detalhe é que 25% dos pacientes estão abaixo dos 50 anos de idade.
Junto com o Comitê de Enfrentamento ao Coronavírus (CEC), órgão criado pela Prefeitura de Jundiaí, o Hospital São Vicente reavalia a abertura de novos leitos conforme o limite máximo de 80% de ocupação. Nas últimas duas semanas, o hospital ampliou cinco vezes os leitos de UTI. Com essa estratégia, o HSV passa a contar com 151 leitos públicos dedicados à Covid: 83 de UTI e 68 para enfermaria.
No período de 1 a 10 de março, houve o avanço na criação de leitos de 82 para 151 leitos, o que resulta em 84% na ampliação pública específica para o atendimento contra a Covid19.
“Jundiaí segue o Plano Municipal de Enfrentamento ao Coronavírus e conta com parcerias com o Hospital Regional e com instituição particular para oferta de leitos com maior complexidade para o suporte às demandas gerais. No entanto, é essencial que a circulação do vírus seja reduzida, para, desta forma, conter as infecções e necessidade de internações”, informou o prefeito Luiz Fernando Machado (PSDB).
Na segunda (8), o vice-governador do Estado, Rodrigo Garcia, acatou o pedido do prefeito de Jundiaí para aumentar a parceria entre o Hospital Regional e o São Vicente. O objetivo é garantir que os pacientes de maior gravidade tenham acesso aos leitos e à assistência de saúde.