A quebra de elos em algumas cadeias produtivas esta provocando muita preocupação na sociedade brasileira. Segmentos importantes da economia nacional estão sendo afetados negativamente por esse movimento. A indústria automotiva vem interrompendo sua produção e atrasando a entrega do produto final por falta de componentes, consumidores de cerveja que não encontram a sua marca preferida nos pontos de venda e o motivo é a falta de embalagem, na construção civil as empresas estão adiando lançamentos por precaução devido à falta de materiais básicos, na agricultura a escassez é de matéria prima básica como fertilizantes e defensivos.
Essas rupturas em uma ou mais etapas na oferta agregada, tem efeitos devastadores para todos os interessados. As incertezas oriundas dos efeitos da crise sanitária e dos conflitos geopolíticos tem afetado a economia globalizada, pois muitas companhias empresariais têm seus processos de produção universalizados como estratégias competitivas e buscam explorar os melhores atributos de cada região na geografia econômica.
A fragilidade dos fundamentos econômicos em alguns países causa insegurança e desestimulam os investimentos diretos e até mesmo os indiretos. A fuga de capital na bolsa de valores e a transferência de plantas produtivas para mercados mais seguros já é uma forte demonstração do agravamento da realidade brasileira.
O Brasil vem enfrentando problemas diversos como queda no investimento externo direto, debandada de empresas estrangeiras, saída de investidores externos da bolsa, declínio na demanda de bens consumo duráveis e imediatos, desemprego elevado, queda na renda da população, divergências com as tendências da economia moderna, moeda desvalorizada, degradação do tecido social, crise sanitária sem controle, devastação ambiental, aumento de preços de alimentos e commodities, instabilidade politica e falta de clareza quanto à competência dos agentes políticos para criar soluções para vencer os obstáculos.
A direção para o Brasil seguir poderá ser adotar modelos de politicas públicas similares as que foram implantadas nos Estados Unidos da América, que estão criando as condições para se reposicionarem na disputa geoestratégica marcada pela consistente e acelerada ascensão da China, que avança para ocupar o lugar de maior economia do planeta. Várias medidas adicionais previstas pelo governo americano, o reconhecimento explícito de que a crise não será superada e o país não poderá voltar a ser competitivo, se não reconstituírem sua classe média, distribuírem renda, eliminarem a pobreza, gerarem empregos decentes e sindicalizados, assegurarem direitos trabalhistas e investirem em serviços públicos e no Estado de Bem-Estar.
Essa reconfiguração do modelo capitalista está evidente a necessidade de um Estado organizado, forte e flexível sustentado por uma sociedade em constante evolução. O ecossistema empresarial sofre mudanças constantes e a concentração de atividades é uma logica para a sobrevivência no capitalismo circular e também para encurtar as relações na cadeia produtiva para evitar rupturas bruscas e prolongadas. Algumas regiões do planeta deverão ser beneficiadas por essa revolução mesmo porque a indústria aditiva já permite a aglomeração da produção em pontos geográficos específicos com abundância de vantagens comparativas.
A nova ordem mundial é exatamente a desconstrução do capitalismo globalizado e liberal, a invasão da Ucrânia pela Rússia vai acelerar a reorganização de blocos econômicos sólidos e com baixa dependência. Os países da América Latina uma vez rompendo as amarras com a potencia do norte poderá ganhar poder de negociação nessa regionalização do sistema capitalista. Mas o comportamento das elites locais sinaliza para o aumento da submissão aos anseios do Clube de Paris.
Artigo por Everton Araújo, brasileiro, economista e professor universitário
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