O sistema capitalista por natureza está fadado a passar por ondas de otimismo e crise, essas ondas são provenientes do processo de evolução de sistemas anteriores, no qual o equilíbrio está justamente nessas flutuações. A depressão econômica tal como ocorrera no final do século XIX seguida por um rosário de desemprego, inflação e falências, ataca sem nenhuma causa visível. Os fenômenos ecológicos ou a guerra não podem ser responsabilizados por ela.
As sociedades industriais, muitas vezes, antes dos abalos se manifestarem, encontram-se num clima de euforia plena quando então, em um instante, como se fora um castelo de cartas, desabam. Desta maneira, as crises, parecem exercer uma espécie de maldição pairando sobre a vida moderna, segundo a qual, obrigatoriamente, depois de um período de exuberância e de progresso a sociedade fatalmente é ameaçada por forças ocultas e pouco inteligíveis, mergulhando então no pessimismo e na desesperança. Como se no amplo mar da vida uma enorme onda de otimismo deve ser sempre seguida pelo refluxo da maré baixa do desânimo geral.
Recorrendo aos teóricos que debatem tal situação, na dialética de Marx, quanto mais o capitalismo avançava, menos gente era proprietária, mais estreitava o número dos poderosos e menos sobrava aos demais. Mediante esse desequilíbrio o economista judeu apontava que o colapso do capitalismo estava próximo.
Dois séculos após a morte de Karl Marx, a acumulação da riqueza está a cada dia mais aparente e como demonstra o relatório da Oxfran “A Desigualdade que Mata”, os dez humanos mais ricos do mundo dobraram suas fortunas durante a pandemia enquanto a renda de 99% da humanidade cai.
Isso pode ser explicado por um darwinismo social, no qual os organismos mais bem adaptados ao meio têm maiores chances de sobrevivência do que os menos ajustados, deixando um número maior de descendentes. Compreendendo que os meios de produção serão sempre controlados pelas mesmas famílias que reduzem a mais valia da força de trabalho.
No século XX, diversas interpretações sobre a essência das crises surgiram, quase todas atentas ao comportamento dos ciclos econômicos de prosperidade e depressão. Entre elas, os estudos do economista soviético Kondratiev que assinalava que elas obedeciam a um longo ciclo de cinco décadas, motivados por transformações tecnológicas, acompanhadas por demoradas depressões que se estendiam depois por décadas.
O pensador russo influenciou o economista austríaco de origem judaica Joseph Schumpeter. Esse inseriu na matriz das causas da crise econômica, a variável tecnológica. O capitalismo, para ele, desenvolvia-se em razão de sempre estimular o surgimento dos empreendedores. A inovação provocaria ondas de prosperidades e consequentemente a destruição de técnicas anteriores.
A expansão da tecnologia não perdoa os acomodados no ecossistema empresarial. Modelos de negócios, equipamentos, empresas, profissões, técnicas de processos de produção, serão massacrados pela expansão inovadora. Exigindo adaptações da sociedade a esse novo ambiente. Em todos os segmentos é possível observar essa destruição da invenção por ela mesma provocando até indignação a maioria das pessoas, como exemplos a evolução nos meios de comunicação de massa e na mobilidade.
Portanto a crise é um fenômeno inerente ao sistema de organização social da produção capitalista. Será que a evolução da sociedade vai surgir uma nova estrutura menos excludente?
Everton Araújo, brasileiro, economista e professor.
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