De acordo com infectologistas, os candidatos do Enem têm mais chances de se infectar com Covid-19 no transporte até o local da prova do que durante a avaliação.
“São jovens que deveriam estar evitando aglomerações e que vão ser forçados a sair de casa, a pegar transporte público e a talvez encontrar grandes grupos nos corredores e portões”, afirma Alexandre Naime Barbosa, chefe da infectologia da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI). “Se for ver todo o processo, a realização da prova em si é o menor dos perigos. A mudança de rotina, sim, vai impactar o número de casos.”
Segundo Barbosa, os locais de prova têm maior controle sobre os protocolos sanitários. Os riscos não são nulos, mas com o distanciamento entre carteiras, uso constante de máscara, ventilação natural e higienização com álcool, as chances de contaminação diminuem. No entanto, a mesma garantia não existe nos momentos anteriores à prova.
Outra preocupação dos especialistas é da aglomeração nos portões das escolas. “Os jovens vão encontrar os amigos ou conhecidos. Em provas de residência médica, recentemente, houve aglomerações absurdas nos corredores e escadas”, comenta Barbosa.
Com o objetivo de prevenir a concentração de pessoas na entrada, o Inep antecipou a abertura dos portões, para as 11h30. Ainda assim, o infectologista acredita que há o risco de contaminação em grandes grupos ou desrespeito ao distanciamento social.
De acordo com a epidemiologista e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Ethel Maciel, a circulação de estudantes para o Enem é irresponsável. “A gente fica falando para todo mundo se manter nas suas bolhas sociais e, agora, vai estourar a bolha no Brasil todo ao mesmo tempo”.
Grupos de risco
Outra preocupação válida dos especialistas é que, depois do encontro com outros estudantes, os candidatos podem entrar em contato com familiares e pessoas do grupo de risco. Dessa forma, Barbosa recomenda uma “semiquarentena”.
“Se o aluno mora com alguém de risco, é melhor manter distanciamento e usar máscara mesmo em casa, nos 14 dias seguintes. O ideal é ficar mais no quarto e não se expor”, diz. No entanto, o especialista reconhece que nem todos têm esse privilégio. “É mais um contorno trágico da pandemia. Os pobres têm menos condição de fazer isolamento, de usar uma máscara de qualidade e de higienizar as mãos. Há casas sem água corrente ou sabonete. A recomendação de uma quarentena leve é para quando há possibilidade.”
Cronograma do Enem
- Provas impressas: 17 e 24 de janeiro
- Provas digitais: 31 de janeiro e 7 de fevereiro
- Reaplicação da prova: 23 e 24 de fevereiro
- Resultados: 29 de março.
Com informações do G1.