A busca pelo entendimento do parto humanizado, assim como a exigência pelo mesmo, cresceu – e muito – nos últimos tempos. Em Jundiaí, essa escolha também está se consolidando entre as famílias.
Diferente do que muita gente pensa, o parto humanizado não é um “tipo” de parto. Trata-se de um processo para tornar o parto um momento de humanização, respeito e parte de algo natural, independente se é feito por meio normal ou cesária.
A equipe de reportagem do Tribuna de Jundiaí conversou com a Dra. Camila de Melo Campos, ginecologista, obstetra e mestre pela Unicamp, sobre a relação do parto humanizado nos hospitais da cidade.
No parto humanizado, a opinião da gestante e suas preferências são levadas em consideração, criando uma comunhão entre a equipe médica e paciente.
Jundiaí possui quatro hospitais com maternidade. Mas, o que faz o parto humanizado não é o hospital e nem o local onde ele é realizado, e sim, a equipe médica.
“O parto humanizado respeita a escolha da paciente e, por isso, a procura começou a aumentar. Existem países que têm uma boa estrutura para parto, pois eles têm grande preocupação com a assistência obstétrica e neonatal”, conta a médica.
De acordo com Dra. Camila, o índice de partos com a chamada “violência obstétrica” em Jundiaí ainda é considerável e, como consequência deste fato, o número de cesarianas realizadas na cidade é extremamente alto.
“Muitas mulheres têm medo do parto, por conta dessa ideia de que o parto normal envolve muito sofrimento, violência, desgaste e gera a insegurança de que algo pode acontecer com o bebê. Com a humanização do parto, podemos tê-lo como um evento seguro e garantir que a paciente tenha uma experiência positiva”, explica.
É necessário enfatizar: o parto humanizado não dispensa a intervenção médica. A participação do especialista pode acontecer a qualquer momento, se houver necessidade, garantindo assim a segurança da mãe e do bebê.
Plano de Parto: direito garantido por lei
Desde 2015, a Lei nº 15.759 assegura o direito de toda gestante ao parto humanizado. Como parte do direito, está o Plano de Parto, um documento de intenções que pode ser feito pela gestante, em parceria com a equipe médica ou doula, em que ela pode registrar suas preferências e limites para o parto.
“É um documento bem flexível, não é cheio de regras. Ele é regulamentado pela Agência Nacional de Saúde (ANS) e a paciente descreve como gostaria que o parto fosse”, explica a médica.
Ao Tribuna de Jundiaí, a ginecologista contou que entre os pedidos feitos no plano de parto estão a presença de doula – que diminui a chance de intervenções desnecessárias –, a presença de acompanhantes em todo o período do parto, a posição para parir, a ingestão de comidas e líquido durante o processo, ficar com o bebê durante a primeira hora de nascido, ter acesso a medidas não farmacológicas de dor, entre outros direitos assegurados.
“O plano de parto só tem a acrescentar. Se o médico está acostumado com o atendimento humanizado, ele vai montar o plano junto com a paciente. Infelizmente, tem médico que, às vezes, nem sabe o que é. Neste caso, a paciente pode montar seu plano e pedir ajuda a uma doula”, explica.
Em casa ou no hospital: humanização presente
Como citado pela médica, a humanização do parto não está ligada ao hospital em si, embora a estrutura deva estar de acordo com as necessidades das pacientes.
Para entrar mais a fundo no assunto, conversamos com duas mães de Jundiaí que compartilharam os relatos de partos humanizados. No caso de Jéssica Fernanda Ribeiro Paloma, mãe da pequena Lavínia, de 6 meses, o parto foi realizado no Hospital Paulo Sacramento. Já no caso de Joice Oliveira, mãe do Francisco, de 5 meses, as dilatações do trabalho de parto evoluíram tão rápido que o bebê nasceu em casa, de forma tranquila e humanizada.
Ao Tribuna de Jundiaí, Jéssica contou que a ideia de ser mãe começou em 2014. Sonho este que, por muito motivos, não aconteceu rápido, da forma com que ela e o esposo Flávio Rocha haviam planejado.
Foi necessário iniciar o processo de Fertilização In Vitro em 2017, processo que durou dois anos. Enquanto esperava, Jéssica foi se preparando para o momento do parto por meio de pesquisas, leituras, participando de rodas sobre parto, gestação e parto humanizado.
“Escolhi a equipe médica que estaria ali comigo, escolhi o hospital, escolhi a doula, fiz fisioterapia pélvica, fiz acupuntura. Tudo dentro do meu planejamento”, conta.
Quando o parto da Lavínia começou, Jéssica conta que viveu um momento intenso e doloroso, mas recebeu toda o apoio da doula, do marido e da enfermeira obstetra Nelly Rocha, que monitorava constantemente a bebê.
Jéssica conta que chegou ao hospital pedindo para fazer cesárea, porém recebeu forças de toda a equipe que havia escolhido para estar ali. Eles a ajudaram a lembrar das escolhas e pesquisas durante a preparação para a gestação e, com este apoio, ela permaneceu firme.
“Quando começou o momento expulsivo, eu deixei de acreditar em mim novamente. Porém, mais uma vez o meu marido, a Nelly, a Dra. Camila e a Bel (doula), acreditaram em mim e me deram todo suporte médico e emocional que eu precisava”, relata.
A confiança passada pela equipe de que tudo estava acontecendo em segurança, deu forças à Jéssica e, às 14h55 do dia 29 de agosto de 2018, Lavínia veio ao mundo.
O tempo de preparação, buscas e pesquisas também foram vitais para Joice, que optou pelo parto humanizado. Para isso, ela contou com a ajuda das doulas Tatyara e Carol, da enfermeira obstetra Nelly, da médica Dra. Camila e, do esposo, é claro.
“Ao longo de toda a gestação eu desejei muito ter um parto natural. Eu queria que meu filho nascesse no tempo dele, num ambiente seguro e respeitoso. Durante o pré-natal, eu estabeleci um elo de muita confiança com a minha obstetra, Dra. Camila”, conta Joice.
E foi assim, em ambiente envolto com toda a humanização, respeito e amor possíveis, que Francisco veio ao mundo no dia 14 de setembro de 2018, às 14h04. As contrações, a evolução da dilatação e a distância do hospital acabaram fazendo do nascimento do Francisco um espetáculo natural: um parto domiciliar seguro, respeitoso e com total assistência especializada da equipe formada por Nelly e Camila.
Independente do lugar, o importante é o respeito e a segurança
“O parto humanizado não é aquele parto natural a todo custo. Não é. Nem é somente o parto domiciliar. É um parto realizado com respeito e segurança para a mãe e o bebê”, reforça a Dra. Camila.
Como parte da adequação do parto humanizado dentro dos hospitais, a ANS criou o projeto Parto Adequado, em parceria com o Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE) e o Institute for Healthcare Improvement (IHI).
O objetivo é identificar modelos inovadores e viáveis de atenção ao parto e nascimento, que valorizem o parto normal e reduzam o percentual de cesarianas sem indicação clínica na saúde suplementar.
Essa iniciativa visa ainda oferecer às mulheres e aos bebês o cuidado certo, na hora certa, ao longo da gestação, durante todo o trabalho de parto e pós parto, considerando a estrutura e o preparo da equipe multiprofissional, a medicina baseada em evidência e as condições socioculturais e afetivas da gestante e da família.